O ministro Juscelino Filho, das Comunicações, é suspeito de omitir dados no relatório oficial do Ministério sobre a viagem que fez a São Paulo, em janeiro desde ano, que teve compromissos pessoais em meio a uma agenda de trabalho. O documento é um desdobramento da denúncia revelada em janeiro de que ele utilizou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e teve as despesas pagas pela União, e que gerou uma crise entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o União Brasil, que indicou o ministro.
Segundo apuração do jornal O Estado de São Paulo publicada nesta sexta (31), o relatório da viagem oficial preenchido por Juscelino contesta a alegação de que uma falha no sistema gerou o pagamento automático das diárias entre os dias 26 e 30 de janeiro – R$ 3 mil, dos quais R$ 2 mil foram devolvidos.
Um dos trechos do documento aponta que o ministro registrou que não houve alteração no roteiro da missão, até então com apenas três marcações oficiais: uma reunião com representantes da operadora Claro (1 hora) na quinta (26/01), uma visita ao escritório regional da Telebras (30 minutos) e uma à sede da Anatel (1 hora) na sexta (27/01). No restante do fim de semana não há compromissos oficiais registrados, retomando apenas na segunda-feira (30/01) com marcações em Brasília, segundo a agenda oficial (veja na íntegra).
Na ocasião da denúncia, o Ministério das Comunicações informou à Gazeta do Povo que Juscelino havia determinado uma “apuração sobre os procedimentos administrativos relacionados à viagem” como uma forma de “demonstrar zelo com o dinheiro público e seu compromisso com a transparência”.
As marcações pessoais do ministro, segundo o Estadão, incluíram a assessoria a compradores de animais, promoção dos próprios cavalos e o recebimento de um prêmio de vaqueiros, em que teria dito que “defenderia cada vez mais o cavalo e os esportes equestres no nosso país”. A declaração não condiz com as ações desenvolvidas pelo Ministério das Comunicações.
Juscelino também aproveitou a viagem para participar de um leilão de cavalos, sendo citado pelo locutor do pregão: “Você já ‘lançou’ num leilão e teve a assessoria de um ministro? O comprador ‘tá’ com assessoria do ministro”, disse em um dos vídeos obtidos pela reportagem.
Também estiveram na agenda pessoal do ministro a inauguração de uma praça na cidade de Boituva (SP) em homenagem a um equino de seu sócio, o empresário Jonatas Dantas. Durante o ato, Juscelino se apresentou como integrante da “equipe do presidente da República”.
À Gazeta do Povo nesta sexta (31), o Ministério das Comunicações informou que “como já explicado mais de uma vez, inclusive por meio de nota oficial elucidando os fatos, houve uma falha no sistema que lançou as diárias no período todo, sem excluir o período de descanso. Essa falha já foi detectada, já foi corrigida, o valor já foi devolvido e a questão está esclarecida”.
Lula manteve Juscelino no cargo mesmo em meio a denúncias
No começo de março e após um período de incertezas e troca de farpas entre o União Brasil e o PT, o presidente Lula decidiu manter Juscelino no Ministério das Comunicações. “Esclareci as acusações infundadas feitas contra mim e detalhei alguns dos vários projetos e ações do Ministério das Comunicações. Temos muito trabalho pela frente”, disse o ministro na ocasião.
Ele disse que foi “vítima de ataques distorcidos” e atribuiu as acusações a um “erro no sistema” de contagem das diárias. E negou que a viagem à São Paulo seria para compromissos relacionados ao leilão de cavalos, e disse que usou o avião da FAB porque estava cumprindo agenda oficial.
Esta, no entanto, não é a única denúncia contra Juscelino. No começo desta semana, uma apuração apontou que o ministro conseguiu empregar o gerente do haras da irmã em Vitorino Freire (MA) e seu piloto de avião particular nas contas da Câmara dos Deputados quando ainda era parlamentar.
Os dados, checados pela Gazeta do Povo, apontam que os funcionários ocupam cargos comissionados de secretários de gabinete desde 2016 e 2018, com salários de R$ 7,8 mil e de R$ 10,2 mil, respectivamente.
Outra denúncia, ainda, aponta que o sócio da irmã no haras da cidade maranhense, Gustavo Marques Gaspar, teria sido nomeado para um cargo de confiança no Senado, com salário de ao menos R$ 17 mil. Servidores do gabinete em que deveria dar expediente disseram não conhece-lo.
Há também uma apuração de que o ministro teria usado verbas do orçamento secreto para construir acesso às próprias fazendas na região de Vitorino Freire, quando ainda era deputado federal. A obra de pavimentação de uma estrada rural teria custado R$ 5 milhões para um trecho de 19 quilômetros de extensão, e tocada por uma única empreiteira que disputou a licitação através de um convênio firmado com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
O autor do parecer autorizando o convênio na época, o engenheiro Julimar Alves da Silva Filho, indicado pelo grupo político do então deputado, foi afastado das funções por suspeita de receber R$ 250 mil em propina.
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