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Pelo menos três empresários de empreiteiras que foram alvos da Operação Lava Jato se reuniram com o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, durante a visita da comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Angola, na semana passada. O encontro ocorreu pouco depois do petista anunciar que vai retomar os investimentos brasileiros no país, nas áreas de saúde, turismo sustentável, comércio, agricultura, pecuária e transferência de tecnologia.
Entre os empresários participantes da reunião com Haddad estavam representantes das empreiteiras Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Novonor – antiga Odebrecht, que chegou a ser denunciada com Lula por corrupção no país africano em 2016. Além dos três mandatários, participaram outros 15 empresários de grupos voltados a negócios agropecuários, de engenharia, entre outros.
“Queremos inaugurar uma nova agenda de cooperação com Angola, que também sirva de modelo para outros países. Temos orgulho de ter contribuído, no passado, com o financiamento de projetos de rodovias, saneamento, abastecimento de água e geração e distribuição de energia elétrica. O Brasil tem condições de voltar a ser um grande parceiro de Angola em seu desenvolvimento”, disse Lula durante o discurso na Assembleia Nacional de Angola.
“Contamos com o investimento privado brasileiro, na economia angolana, para transformar o potencial económico de Angola em riqueza real, criar empregos e prosperidade”, emendou o presidente angolano João Lourenço.
Apuração do jornal O Estado de São Paulo aponta que os empresários que participaram da reunião pediram ao governo uma linha de crédito de US$ 100 milhões para projetos em Angola. O Ministério da Fazenda foi procurado pela Gazeta do Povo para confirmar o pedido, mas não respondeu o contato até o fechamento da reportagem.
As empreiteiras Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez também foram procuradas, mas não comentaram a realização da reunião e o pedido de financiamento. A Novonor afirmou que o pedido de US$ 100 milhões não partiu das construtoras, e sim do setor do agronegócio, e orientou para mais esclarecimentos com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon).
"O Sinicon esclarece que não ocorreu qualquer pleito por parte das empresas associadas para uma linha de financiamento supostamente no valor de US$ 100 milhões, vinculada a potenciais obras em países africanos. O anúncio ou pedido de linha de crédito teria, sim, como objeto o segmento agrícola", confirmou a entidade à reportagem através de uma nota.
Ao jornal O Estado de São Paulo, Haddad confirmou que orientou os empresários a procurarem o Congresso para pedir a liberação do dinheiro e se comprometerem a adotar mecanismos de transparência e controle para evitar novos escândalos de suborno e pagamento de propina.
“O ambiente no Brasil sobre isso é delicado. O ambiente no Congresso é muito desfavorável a esse tipo de ação. O argumento deles é que todos os países fazem e se beneficiam desse tipo de linha, porque acabam exportando equipamentos para as obras. A pior coisa que pode acontecer é isso cair no debate ideológico, quando é algo pragmático”, disse Haddad ao Estadão ainda em Luanda, capital angolana.
Segundo dados oficiais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os recursos contratados por empresas brasileiras para financiar obras em Angola – US$ 3,2 bilhões – já foram totalmente quitados.