A força-tarefa da Operação Lava Jato divulgou uma nota, na noite deste domingo (9), em que denuncia a invasão de celulares de procuradores do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná por um hacker. O documento afirma que, além de "cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho", alguns membros da força-tarefa tiveram sua identidade "subtraída".
A Polícia Federal estaria apurando a invasão dos aparelhos telefônicos há cerca de um mês, segundo informações do jornal Estado de S. Paulo. O inquérito apura invasões de dispositivos de membros do MPF em Curitiba e no Rio de Janeiro, além de um ataque recente ao aparelho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Para os procuradores, a invasão representa "os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes". Embora ainda não saibam a extensão do vazamento, os membros da Lava Jato dizem que, entre os arquivos, "possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa e de suas famílias".
Segundo a nota, "[a] violação criminosa das comunicações de autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna com o objetivo de obstar a continuidade da Operação".
Na última terça-feira (5), o ministro Sergio Moro, que esteve à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba até o final do ano passado, também teve seu celular hackeado. Um dia depois (6), houve uma tentativa de invasão do celular do relator da Lava Jato no Rio de Janeiro, o desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).
O MPF também afirma que "é de se esperar que a atividade criminosa continue e avance para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar integral ou parcialmente informações e disseminar 'fake news'".
Parte das conversas eletrônicas hackeadas pode ter sido divulgada pelo site The Intercept Brasil, que publicou uma série de reportagens, no final da tarde deste domingo (9), sobre trocas de mensagens entre os procuradores da força-tarefa e entre Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, e o então juiz Moro.
O ministro Sergio Moro divulgou uma nota após a veiculação da reportagem e disse lamentar a falta da indicação de quem invadiu os celulares dos procuradores. Moro também reclamou por não ter sido procurado antes da publicação do material.
"Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato", afirmou o ministro.
Lideranças de esquerda, nas redes sociais, estão vendo as conversas como provas da parcialidade da operação. A deputada Gleisi Hoffman (PR), presidente do PT, afirmou que "Moro e Dallagnol atuaram combinados, com parcialidade e motivações políticas, para impedir a vitória eleitoral de Lula e do PT. Forjaram a acusação sem provas e armaram farsa jurídica contra Lula. Esse processo tem de ser anulado".
A nota do MPF nega essa versão, dizendo que as mensagens divulgadas estão fora de contexto. "Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco anos de Operação", afirmam também os procuradores.
Segundo a nota, as conversas divulgadas mostram a "atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do 'hacker' para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato".
Por fim, os procuradores informam que estão à disposição da sociedade para prestar esclarecimentos e que já estão sendo tomadas medidas "para a apuração rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo".