Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Nota pública

Lava Jato diz que CNMP se curvou aos poderosos ao punir Deltan na ação de Renan Calheiros

fachada da sede do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná, onde funciona a força-tarefa da Lava Jato.fachada da sede do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná, onde funciona a força-tarefa da Lava Jato.
Sede do MPF do Paraná, onde funciona a força-tarefa da Lava Jato. (Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

A força-tarefa da Lava Jato do Paraná emitiu nota criticando a decisão desta terça-feira (8) do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de punir o procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da operação, em processo movido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Segundo a força-tarefa, o CNMP se curvou a interesses dos poderosos ao cercear a liberdade de expressão dos membros do MP – o que representa um desestímulo para que procuradores e promotores exerçam seu trabalho contra altas autoridades da República. A Lava Jato também manifestou sua solidariedade e apoio a Deltan.

O ex-coordenador da força-tarefa foi punido pelo CNMP com uma censura pública por ter feito críticas a Renan Calheiros em fevereiro de 2019, quando o alagoano disputou (e perdeu) a eleição para presidente do Senado.

Para a força-tarefa da Lava Jato, a decisão do CNMP representa uma "limitação ao exercício da cidadania" de procuradores e promotores ao estabelecer "uma possibilidade de participação em debates sociais e um direito de liberdade de expressão menores do que de outros cidadãos".

A força-tarefa também alertou para o risco de o Ministério Público se curvar diante da "onipotência do poder ou aos desejos daqueles que o exercem, especialmente quando detentores de elevadíssima posição na República". Para a Lava Jato, decisões como a do CNMP podem desestimular o trabalho do MP.

Leia a íntegra da nota da Lava Jato contra o CNMP e a favor de Deltan

"Diante da notícia de que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em julgamento retomado sem a intimação pessoal de Deltan Dallagnol, deliberou pela aplicação da pena de censura, todos os demais integrantes da Força-Tarefa Lava Jato no Paraná, respeitosamente, discordando da decisão do colegiado, externam sua solidariedade e amplo e irrestrito apoio ao colega. No julgamento, originado de reclamação do senador Renan Calheiros (MDB/AL), com prosseguimento ordenado pelo ministro Gilmar Mendes, que revogou o entendimento liminar do ministro Celso de Mello, puniu-se o procurador da República Deltan Dallagnol por manifestação em rede social.

A reprovação de publicação sobre votação para presidente do Senado Federal diminui o espaço de contribuição de membros do Ministério Público para a democracia do país. Coibir manifestação pública, que não fira a ética e que seja engajada com a pauta de atuação funcional, acaba fixando a todo procurador e promotor uma possibilidade de participação em debates sociais e um direito de liberdade de expressão menores do que de outros cidadãos.

Não bastasse essa limitação ao exercício da cidadania, é válido ressaltar o quanto decidido sobre o caso pelo eminente ministro Celso de Mello. Em apreciação liminar, o decano do STF havia indicado os riscos de violação ao devido processo legal, à ampla defesa, à proibição de dupla punição pelo mesmo fato, e à liberdade de expressão. Expressamente consignou o ministro: “A garantia à livre manifestação do pensamento – um dos dogmas estruturantes do Estado Democrático de Direito – revela-se como elemento fundamental ao exercício independente das funções do Ministério Público, cuja voz não pode ser calada, sob pena de grave transgressão ao interesse público”.

Para além disso, espera-se sempre que o CNMP esteja atento para que, sobretudo em casos nos quais se busque curvar o Ministério Público à onipotência do poder ou aos desejos daqueles que o exercem, especialmente quando detentores de elevadíssima posição na República, a proibição ou mesmo as medidas tendentes a limitar o regular exercício do direito à liberdade de expressão de membros podem se revelar um desestímulo à posição altiva e independente que se espera de procuradores e promotores."

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.