Mais de uma semana após a divulgação de supostas conversas privadas entre membros da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba e entre o coordenador do grupo, Deltan Dallagnol, com o ex-juiz do caso e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, pouco se sabe sobre como as conversas foram obtidas. Na última quarta-feira (12), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que os inquéritos que investigam o caso sejam unificados.
Em um ofício encaminhado à Valeixo, Dodge diz "considerar necessário adotar uma linha de investigação que possa esclarecer, além do modo de atuação criminoso, os motivos e eventuais contratantes de um ataque cibernético sistemático contra membros do MPF, principalmente aqueles que atuam nas Forças-Tarefas da Lava Jato do Rio de Janeiro e Curitiba".
Dodge também pediu à PF a instauração de inquérito policial para apurar uma possível invasão ao celular do conselheiro Marcelo Weitzel, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Há pelo menos quatro inquéritos abertos pela PF para apurar ataques de hackers contra celulares de mais de dez autoridades vinculadas à Operação Lava Jato, segundo o jornal "O Globo". As investigações estão em andamento em Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo.
Segundo o jornal, a investigação em Brasília tem como principal linha a tentativa de invasão do telefone de Moro. Na última terça-feira, peritos da Polícia Federal foram à sede do Ministério da Justiça para realizar a extração de dados do celular de Moro. O procedimento tem como objetivo tentar rastrear a origem dos ataques ao celular do ministro.
Nos demais estados, segundo "O Globo", são investigados os ataques a Dallagnol (Paraná), ao desembargador Abel Gomes (relator da operação na Justiça Federal do Rio de Janeiro) e a agentes da própria PF em São Paulo.
Segundo informações da "Folha de S. Paulo", as investigações da PF até agora apontam que o único telefone celular que teve dados capturados foi o de Dallagnol. Até agora, nem Dallagnol nem os demais procuradores alvos dos ataques entregaram os celulares para perícia da Polícia Federal. Eles não são obrigados a entregar os aparelhos.
Origem dos ataques
Segundo o G1, a investigação da PF aponta que a possível origem dos ataques a celulares de autoridades ligadas à Lava Jato foi o celular do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, em abril deste ano. A partir do celular de Janot teriam sido obtidos os números dos telefones dos demais alvos.
No início de abril, Janot afirmou ter sido alvo de uma nova tentativa de invasão, que só não teria sido efetivada porque o ex-procurador-geral não atendeu a ligações e não acessou códigos enviados a ele.
Até agora, a PF constatou que a invasão foi apenas no aplicativo de mensagens Telegram e os investigadores perceberam que muitos celulares não tinham a dupla verificação – uma segunda senha para aumentar a proteção.
Ainda segundo o G1, uma das linhas de investigação é a de que o invasor é brasileiro ou um brasileiro auxiliando um estrangeiro.
Telegram nega atuação de hackers
Pelas redes sociais, o Telegram negou ter sido alvo de um ataque hacker. O aplicativo garantiu que as conversas entre Deltan e Moro não foram obtidas através de uma quebra dos códigos de segurança do aplicativo.
"É mais provável que o dispositivo tenha sido tomado por um malware (vírus) enviado por terceiros – ou um código de login subtraído para uma conta que não usa senha de acesso. Nós recomendamos a adoção de uma senha de verificação em duas etapas, para casos em que alguém tenha razões para temer por suas carreiras ou pelo governo", escreveu o Telegram no Twitter.
Procedimento administrativo
Em maio, a tentativa de invasão aos celulares institucionais dos membros do MPF foi comunicada à PGR pelos membros que atuam no Paraná e no Rio de Janeiro. Dodge instaurou um procedimento administrativo – que continua em vigor – para acompanhar as investigações.
Na época, a força-tarefa Lava Jato em Curitiba requisitou à PF a instauração de inquérito policial para apurar as condutas criminosas. No ofício enviado nesta quarta-feira, Raquel Dodge solicitou informações acerca do andamento do procedimento. No ofício, ela questionou ainda se a PF apura se outros membros do MPF foram vítimas da mesma ação criminosa.
Moro garante que PF vai encontrar responsável por ataques
"São pessoas ousadas, não se sabe bem o propósito desses ataques, mas se eles acham que as instituições brasileiras são frágeis, vulneráveis e vão se intimidar eles estão completamente equivocados. O que vai acontecer é que eles vão ser identificados e vão ser punidos na forma da lei", garantiu o ministro na semana passada, em coletiva de imprensa.
Moro disse ainda que não acredita que os ataques sejam feitos por um único hacker. "Eu não acredito que seja um autor só. Deve ser um grupo criminoso contratado para atacar instituições brasileiras", disse o ministro.
"Esse é um crime aparentemente em andamento. Inclusive temos notícias desse grupo criminoso invadindo aplicativos de Telegram e fingindo se passar pelos titulares desses aparelhos, falsificando conversas", completou Moro.