Após o presidente Jair Bolsonaro declarar que estava "por aqui" com Joaquim Levy, o economista pediu demissão da presidência Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) depois de cinco meses no cargo. Na administração pública, ele já havia ocupado postos-chave nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Sérgio Cabral e Dilma Rousseff.
Um "Chicago boy" assim como o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, Levy é um nome conhecido do mercado - ele já foi diretor geral e financeiro do Banco Mundial entre 2016 e 2018 e diretor superintendente do Bradesco entre 2010 e 2014. Economista ortodoxo, ele possui doutorado pela Universidade de Chicago, considerado centro do pensamento liberal. No governo de Bolsonaro, sua nomeação foi tida como um sinal de vitória dessa visão econômica sobre o pensamento um pouco mais estatizante do núcleo militar.
O estopim da demissão de Levy foi a nomeação do advogado Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de Mercado de Capitais do BNDES. Barbosa Pinto trabalhou como assessor do banco de fomento durante o governo petista, de 2005 a 2007, o que irritou Bolsonaro. No entanto, o próprio Levy foi ministro da Fazenda de Dilma Rousseff em 2015, e também trabalhou no governo de Lula entre 2003 e 2006.
A presidente cassada Dilma anunciou Levy para o ministério da Fazenda em novembro de 2014, parte de uma equipe econômica montada para fazer um aceno ao mercado. O economista ortodoxo assumiu o posto com um plano austero de ajuste fiscal. No entanto, ele ficaria menos de um ano no cargo: foi demitido em dezembro de 2015 após enfrentar resistência do PT e o fogo amigo do governo. A saída de Levy já tinha sido acertada com Dilma mais de uma vez.
O ex-ministro da Fazenda já tinha ficado conhecido como "mãos de tesoura" em sua primeira passagem em um governo petista, entre 2003 e 2006, quando foi secretário do Tesouro Nacional na equipe de Antônio Palocci e teve como missão em ordem as contas do governo. Com a entrada de Guido Mantega na Fazenda, Levy deixou o ministério para assumir a vice-presidência de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cargo que ocupou em 2006.
Em 2007, ele aceitou o convite do então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para assumir a Secretaria de Fazenda do Estado. Levy ocupou o posto até 2010, quando assumiu a diretoria de gestão estratégica da Bradesco Asset Management (Bram).
Sua primeira passagem por um governo foi em 2000, quando foi economista-chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso. Ele foi mantido no processo de transição entre o governo FHC e Lula.
Bolsonaro é alvo de críticas pode demissão de Levy
A economista e advogada Elena Landau criticou neste domingo, 16, através de redes sociais a postura do governo do presidente Jair Bolsonaro no episódio que provocou o pedido de demissão de Joaquim Levy da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Segundo ela, Levy jamais teria anunciado a admissão de um diretor sem que o nome tivesse passado pela aprovação do ministro da Economia, Paulo Guedes. "BNDES não tem essa independência. Todos os diretores passam pelo crivo do ministro. Deveriam ter demitido logo Levy, mas esperaram essa historinha sem sentido para ter apoio da malta das redes", escreveu Elena Landau em seu perfil no Twitter.
Elena foi diretora do BNDES durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Hoje ela presidente o movimento Livres, que defende o liberalismo econômico.
Em outra postagem, a economista sugeriu que Paulo Guedes estava insatisfeito com a devolução de recursos do BNDES ao Tesouro. "Guedes prometeu zerar déficit e acabou precisando de crédito complementar. Tava de olho no pagamento dos empréstimos do BNDES. Não veio o que ele esperava. Fez maior arruaça com os míseros 6bi da Caixa. E vocês acham que foi Bolsonaro sozinho que tirou Levy?", escreveu Elena.
Segundo ela, independentemente de quem for contratado como substituto na liderança do banco de fomento, toda a diretoria deverá ser trocada, "para mostrar que não está nas mãos dos funcionários, como disseram sobre Levy".
"Não tem nenhum sentido Levy, que trabalhou no governo PT, ser demitido porque chamou um técnico que trabalhou no governo PT. Isso tudo foi desculpa e deram um jeito, Bolsonaro e Guedes juntos, de tirar o cara. Guedes toda hora reclamava do Levy. Tudo ensaiado", criticou ela.
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O presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), também criticou o governo e disse que a demissão de Joaquim Levy do BNDES joga contra os interesses do país. Embora reforce que não haverá impacto na tramitação da reforma da Previdência, Ramos afirmou que o episódio desconsidera o fato de que há quadros capazes de contribuir com qualquer governo.
"O presidente Bolsonaro não entendeu que alguns quadros são suprapartidários. Eles não contribuem com um ou outro governo. Contribuem com o País", disse Ramos ao Broadcast Político, por telefone. "É uma pena. No fim das contas, quem perde é o Brasil", emendou.
Ramos afirmou que o Congresso seguirá trabalhando para "blindar a pauta econômica" e impedir que eventuais crises no governo Bolsonaro impactem na tramitação de projetos importantes, entre eles a reforma da Previdência.