"Não adianta o Paulo Guedes fazer beicinho. O que adianta é aprovar uma reforma realista, mesmo que mais modesta", disse ao jornal O Estado de S.Paulo o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) durante entrevista no dia 11, em seu gabinete de líder da maioria na Câmara Federal. "A reforma da Previdência que pode ser aprovada não será a do governo", afirmou. "Será uma outra, que estamos construindo, com um impacto fiscal, em dez anos, entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões." Conseguir 308 votos "é uma difícil construção cirúrgica", avaliou. "O governo não ajuda muito, porque o presidente Bolsonaro tem boa intenção, mas não tem projeto e não tem foco", ataca.
Ribeiro disse, ainda, que "a aprovação da reforma da Previdência não será a salvação da lavoura, como o governo está anunciando". Sobre o que chamou de "beicinho" do ministro da Economia, arrematou: "Se o Paulo Guedes quiser sair não tem problema, o presidente mesmo já disse que a porta está aberta".
Um dos expoentes do chamado Centrão – que prefere chamar de "Centro" para driblar "o sentido pejorativo" –, Ribeiro, 50 anos, é ministro de louvor da Igreja Batista do Lago Norte, área nobre de Brasília, onde mora numa casa de 400 metros quadrados, R$ 13 mil mensais de aluguel, com a mulher e as duas filhas (Gabriela, 10 anos, e Luiza, 8 anos). É um pai chato? "Eu procuro ensinar desde cedo o caminho que elas têm de andar, para que mais tarde não se desviem", respondeu, biblicamente.
"A reforma da Previdência que pode ser aprovada não será a do governo. Será uma outra, que estamos construindo, com um impacto fiscal, em dez anos, entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões", diz deputado
Despacha, como líder, em um apertado gabinete de duas salas no corredor contíguo ao bunker de Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Quando Maia o chama – o que acontece com frequência, quase que diariamente –, Ribeiro não está para mais ninguém. É dessas conversas e conchavos, com ele e com os demais líderes mais influentes da casa, que saem as nuances e o ritmo com que as reformas caminham, patinam ou empacam.
Um bom exemplo, que Ribeiro pede à assessoria para trazer, é uma nota oficial de 26 de março, subscrita por 16 líderes partidários. Ela diz, assertivamente, balizando a proposta de Paulo Guedes, que "qualquer reforma previdenciária deve ter como princípios maiores a proteção aos mais pobres e mais vulneráveis", e que, por isso, resolveram "retirar do texto a parte que trata de forma igual os desiguais e penaliza quem mais precisa". Decidiram ainda, informa a mesma nota, que "não permitirão a desconstitucionalização generalizada do sistema previdenciário do país" – como entenderam que o projeto do governo propõe. "É um equívoco atrelar a proposta à economia de R$ 1 trilhão", disse Ribeiro. "É um discurso no deserto. Não aterroriza ninguém, não sensibiliza ninguém."
Deputado é citado no "quadrilhão do PP"
Paraibano de Campina Grande – onde o pai e ex-deputado federal Enivaldo é, aos 84 anos, o vice-prefeito –, Ribeiro já foi, antes da política, guitarrista, vocalista e compositor da banda Clã de Athena, de certo sucesso regional. Segue tocando o instrumento, em casa ou nos cultos, como ministro de louvor. Depois do rock, foi empresário e dirigente de associações corporativas.
Duas vezes deputado estadual pelo PP, de onde nunca saiu, e outras duas secretário de Estado, foi alvo, algumas vezes, de denúncias de fisiologismo, que segue negando. "Não tenho nenhuma condenação em nada", disse. Com a mesma tranquilidade, respondeu sobre a condenação do pai, em primeira instância, por improbidade administrativa: "Ele recorreu e vai mostrar que é inocente". Também integra o clã familiar a senadora Daniela Ribeiro, irmã mais nova, igualmente do PP.
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O líder da maioria administra, no momento, com desconforto, o peso da abertura de uma ação penal pela maioria da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. Ribeiro, mais os deputados Eduardo da Fonte e Arthur Lira, e o senador Ciro Nogueira, são acusados, no caso conhecido como "quadrilhão do PP", de formação de organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras. Todos negam as acusações – mas é o STF que vai decidir. "É uma denúncia completamente inepta", disse Ribeiro. "Confio que não irá prosperar."
Ex-ministro das Cidades no primeiro governo Dilma Rousseff (2010-2014), Ribeiro votou a favor do impeachment que a tirou da Presidência no segundo ano do segundo mandato. Foi carimbado como "traidor". A palavra pesada não o agasta – pelo menos que se perceba. "Avisei a ministros dela que iria votar pelo impedimento por imposição do meu partido", disse. "Isso não é traição, é política." Demorou três minutos contados no relógio para dar uma opinião sobre a presidente cassada nos dias de hoje. Disse, por fim: "Merecia ter sido eleita".
"Busca pelo centro"
O líder da maioria se define, ideologicamente, como "um homem muito equilibrado, que busca sempre o centro". Dado a citações da Bíblia, reforçou a autodefinição com Tessalonicenses, 1,5: "Não trateis com desdém as profecias, mas examinai todas as evidências, retende o que é bom".
Ribeiro tem um patrimônio de R$ 6 milhões. "Tudo declarado no Imposto de Renda e na Justiça Eleitoral", disse. Explicou o crescimento ano a ano pela valorização dos imóveis no mercado. É um sujeito tranquilo, de fala mansa, retórica na ponta da língua e drible sempre pronto para uma ou outra pergunta que não quer responder diretamente, uma em especial: em quem votou no segundo turno da última eleição presidencial. "No primeiro turno eu votei no [Geraldo] Alckmin", enrolou. Recusou-se terminantemente a revelar sua escolha no turno decisivo – Fernando Haddad, do PT, ou Jair Bolsonaro. "O voto é secreto e eu vou preservar", disse. "Nem a família sabe." Teria cravado Haddad, numa espécie de autocrítica tardia sobre o voto do impeachment? "Não vou revelar, estou tranquilo com a minha consciência", afirmou.
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