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Amizade de 35 anos

As ligações de Queiroz com a família Bolsonaro e o que o ex-assessor pode revelar

Fabrício Queiroz foi preso em uma casa em Atibaia
Fabrício Queiroz foi preso em uma casa em Atibaia (Foto: Nelson Almeida/ AFP)

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A prisão de Fabrício Queiroz acendeu o alerta vermelho no clã Bolsonaro. Amigo do presidente da República desde a década de 1980, o faz-tudo trabalhou por dez anos no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Foi segurança, motorista e homem de confiança até ser apontado como operador de um esquema de “rachadinha” de salários de servidores.

A mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, que também teve a prisão decretada nesta quinta-feira (18), estava lotada no mesmo gabinete. A filha do casal, Nathalia, também trabalhou no gabinete de Flávio e foi ainda assessora parlamentar do então deputado federal Jair Bolsonaro, entre 2016 e 2018.

A proximidade de anos com a família Bolsonaro coloca Queiroz como peça-chave para desvendar suspeitas que recaiam sobre a família do presidente da República, como a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas do policial militar reformado lotado no gabinete de Flávio.

O ex-assessor frequentava a casa da família, participava de eventos informais, como churrascos e aniversários, e até momentos dramáticos, como quando o então candidato Jair Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora (MG). Queiroz estava ao lado de Flávio na viagem de carro até a cidade.

No Twitter, ao comentar a prisão de Queiroz, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) relacionou a prisão a uma tentativa de atingir o pai. "Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu.

Relembre a seguir quatro fatos que ligam Fabrício Queiroz à família Bolsonaro:

1. Cheque na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro

Uma das principais ligações entre Queiroz e a família Bolsonaro é o depósito de cheques que somam R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. As operações financeiras foram rastreadas pelo antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Em 20 de dezembro de 2019, na saída do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro justificou as transações dizendo se tratar de devolução de um empréstimo feito por ele a Queiroz, que seria de R$ 40 mil e não de R$ 24 mil como detectado pelo Coaf. “O caso da minha esposa é a mesma coisa. Eu é que emprestei o dinheiro. Eu é que emprestei”.

Perguntado se tinha algum comprovante do empréstimo, Bolsonaro acrescentou: "Comprovante de tudo? Pelo amor de Deus. Você me empresta... Fica quieto! Você tem nota fiscal desse relógio que está contigo no teu braço? Não tem! (grita). Não tem. Você tem nota fiscal do teu sapato? Não tem, porra! Você tem do teu carro, talvez não tenha nota fiscal, mas tem lá o DUT, o documento. Tudo pro outro lado tem que ter nota fiscal e comprovante?", esbravejou.

2. Queiroz seria operador de “rachadinha” no gabinete de Flávio

A suspeita é de que o gabinete de Flávio na Alerj praticava um esquema de “rachadinha” com os funcionários, comandado por Queiroz. Os contratados devolviam parte do salário recebido, 69% em espécie e o restante por meio de transferências bancárias e cheques. São investigados crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

Um relatório elaborado pelo antigo Coaf apontou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. Entre 2014 e 2015, foram R$ 5,8 milhões. Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, mais R$ 1,2 milhão. As movimentações são incompatíveis com o salário que Queiroz ganhava como assessor de Flávio. O relatório veio a público em dezembro de 2018.

As investigações do MP apontam que a empresa Bolsotini Chocolates e Café Ltda, de Flávio Bolsonaro e do empresário Alexandre Santini, serviria para "lavar parte dos recursos desviados da Alerj". Queiroz estava presente na inauguração da loja de chocolates em um grande shopping do Rio.

Entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial de 2018, Queiroz foi exonerado sem maiores explicações do gabinete de Flávio. O mesmo ocorreu com a filha dele no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara Federal. Flávio teria sido informado previamente do relatório e das investigações do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.

Flávio nega qualquer irregularidade e diz que jamais autorizou Queiroz a recolher parte dos pagamentos. Ele afirma ainda ser vítima da quebra de sigilo sem autorização judicial por parte do Ministério Público do Rio.

No gabinete do então deputado estadual estavam lotadas também a mãe e a mulher do miliciano e ex-PM Adriano Nóbrega, que foi morto em fevereiro na Bahia. A suspeita é que o assassinato foi uma queima de arquivo. As duas mulheres foram contratadas por Queiroz. Adriano chegou a ser homenageado na Assembleia do Rio por sugestão de Flávio Bolsonaro.

No final de maio, o senador fez uma rara defesa do Queiroz numa live nas redes sociais. “Um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo que acredita”, afirmou.

3. Queiroz foi preso em sítio de advogado dos Bolsonaros

O advogado criminalista Frederick Wassef é um elo nas relações entre o clã Bolsonaro e Queiroz. Wassef é dono do sítio em Atibaia onde o ex-assessor foi preso. A própria operação da polícia foi batizada de Anjo, um apelido dado ao advogado pelo clã Bolsonaro.

Com passe livre no Palácio do Planalto, Wassef representou o presidente Jair Bolsonaro no caso Adélio Bispo, que atingiu com uma facada o então candidato à Presidência em 2018, em Juiz de Fora (MG), e comanda também a defesa do senador Flávio Bolsonaro no caso Queiroz, desde o dia 6 de junho de 2019.

Em outras ocasiões, Wassef atuou de forma informal na defesa de Jair Bolsonaro e opinou sobre temas jurídicos envolvendo o presidente. Foi o advogado criminalista quem teria convencido o presidente da República a mudar a estratégia de defesa no caso Queiroz, quando o escândalo explodiu, em dezembro de 2018. Estava tudo certo para que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro se apresentasse espontaneamente à Justiça para prestar esclarecimentos.

Mas Wasseff disse que o melhor caminho seria recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato de Flávio ser senador da República e, em tese, ter foro privilegiado, alegando ter havido uma quebra de sigilo ilegal do parlamentar. Inicialmente, a estratégia surtiu efeito e o STF tomou decisões, mais tarde revistas, que beneficiaram Flávio.

4. Queiroz e Jair Bolsonaro são amigos de longa data

Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro são amigos há pelo menos 35 anos. Foi o próprio presidente a revelar a relação. Os dois serviram no mesmo batalhão do Exército.

Por alguns anos, eles seguiram carreiras separadas. Jair entrou para a política, enquanto Queiroz se tornou policial militar. Os caminhos dos dois se cruzariam anos depois quando Queiroz foi indicado por Jair a um cargo de confiança no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

“Eu conheço o Queiroz desde 1985. Foi meu soldado na brigada paraquedista. Se ele cometeu algum deslize, ele que responda. Não sou eu”, afirmou o presidente, em dezembro do ano passado, ao deixar o Palácio da Alvorada. E continuou: “Nunca tive problema com ele. Pescava comigo. Andava comigo no Rio de Janeiro. Tinha que ter um segurança comigo”.

Desde que Queiroz entrou na mira dos investigadores, Bolsonaro afirmou ter se afastado do amigo. O presidente até o momento não comentou a prisão do ex-amigo.

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