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Os deputados Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) estão hoje em campos opostos na disputa pela presidência da Câmara, mas o histórico de votações mostra que eles costumam ficar do mesmo lado no plenário. Nas principais votações dos últimos dois anos, ambos votaram a favor de projetos do governo Jair Bolsonaro, tais como a reforma da Previdência e a medida provisória da liberdade econômica.
Embora seja o candidato do grupo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e tenha chancela da oposição, Baleia Rossi tem índice de apoio ao governo federal maior que Lira. Segundo estudo da consultoria de análise política Arko Advice, o parlamentar paulista votou com o governo em 90,24% das proposições de 2019 e em 77,82% das pautas de 2020. Lira acompanhou o governo em 86,29% das votações em plenário ocorridas há dois anos e em 70,59% das pautas do governo em 2020.
"Se você olhar as matérias mais relevantes, os dois votaram de modo muito parecido", diz Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice. "Não vejo grande diferença entre os dois na pauta econômica e regulatória".
Assim como a maioria dos deputados, Baleia Rossi e Arthur Lira votaram a favor da Reforma da Previdência, que mudou regras da aposentadoria e cuja aprovação, em parte, é creditada ao esforço de Maia.
Os dos candidatos à presidência da Câmara também votaram a favor da ajuda de R$ 60 bilhões para estados e municípios e do novo marco do saneamento básico – que facilita a participação de empresas privadas na exploração do serviço de água e esgoto.
Os dois parlamentares também tiveram a oportunidade de votar projetos ligados à área de segurança e armamentos. Tanto Lira quanto Baleia foram a favor do pacote anticrime, proposto pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro e alterado significativamente pelo Congresso. Ambos concordaram com a criação do juiz de garantias, um magistrado que não acompanharia a fase de produção de provas e só faria a instrução e julgamento (na prática, em todos os julgamentos criminais haveria um juiz para conduzir a investigação e outro para fazer o julgamento em si. Integrantes da Lava Jato são contra a criação desse tipo de juiz.
Baleia Rossi e Arthur Lira também foram a favor da regulamentação de posse e porte de armas para colecionadores, atiradores e caçadores. Lira chegou a apresentar uma emenda ao projeto. A oposição ao governo Bolsonaro, que hoje apoia Baleia, foi contra a proposta.
"Nós dois somos base. Ser oposição na hora de fazer manifesto é uma coisa, na prática, é outra", diz Lira. "Perdemos muito nos últimos dois anos com falta de previsibilidade e a falta de cumprimento dos acordos." Procurado pela reportagem, Baleia não se manifestou até a conclusão da reportagem.
O que esperar de Lira e Baleia Rossi na economia
Uma das responsabilidades do próximo presidente da Câmara dos Deputados será dar continuidade à agenda de reformas e à pauta econômica. Existe a expectativa entre parlamentares de que as reformas tributária e administrativa sejam discutidas até 2022.
Para Adriano Laureno, economista sênior da Prospectiva Consultoria, os dois candidatos são menos fiéis à agenda liberal do que Maia e mais propensos à concessão de benefícios setoriais, tais como isenções de impostos que atingem apenas uma área da economia.
"A grande diferença entre eles é na reforma tributária", afirma Laureno. Baleia Rossi é o autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, que prevê a extinção de cinco tributos que incidem sobre o consumo: IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS. Eles seriam substituídos pelo Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS). O relator da proposta é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), do mesmo partido de Lira.
Preocupado com o discurso das reformas, Lira já se encontrou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, algumas vezes. Rompido com Maia, Guedes vê Lira mais "alinhado" à agenda econômica do Planalto, dizem interlocutores.
E a pauta de costumes?
Segundo analistas, o apoio do Planalto a Lira indica que o candidato pode ter mais chances de colocar em votação a chamada pauta de costumes, pois cabe ao presidente da Câmara escolher o que será votado. Nos últimos anos, Maia evitou pautar propostas como Escola Sem Partido, criminalização da ideologia de gênero e a educação domiciliar.