O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse, em entrevista ao jornal “O Globo” publicada neste domingo (30), que “não vai sacanear” o governo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas ao mesmo tempo fez críticas à articulação política da Secretaria de Relações Institucionais e a medidas como as alterações no marco legal do saneamento promovidas por meio de decreto. “O Congresso foi eleito num viés totalmente diferente do Executivo”, disse.
“Poderia ter sido eleito presidente da Câmara sem o PT, mas aceitei o apoio e não vou sacanear o governo”, afirmou Lira. “Não vou trabalhar contra nem atuar deliberadamente para prejudicar. Mas o presidente da Câmara não é um agregado, ele é um parceiro”, emendou.
“Vamos ajudar nas pautas, como no projeto do arcabouço fiscal. Tudo o que pudermos fazer para que o ambiente de negócios fique melhor, com menos juros e inflação, faremos. Depois teremos a reforma tributária. Essas são as metas até julho”, disse.
“Agora, em determinados temas não dá para retroceder. O Congresso foi eleito num viés totalmente diferente do Executivo. Existem as questões do governo como, por exemplo, as alterações no Marco do Saneamento por meio de decretos. O Congresso não aceita que uma lei seja alterada assim”, comentou.
O presidente da Câmara dos Deputados também criticou a articulação do governo no Legislativo, sob responsabilidade do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que definiu como “um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades”.
“Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito. Há muita dificuldade, talvez pelo tempo que o PT passou fora do poder”, avaliou o parlamentar.
Ainda na entrevista, Lira defendeu as emendas de relator, que ficaram conhecidas como “orçamento secreto” e acabaram derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o presidente da Câmara, o mecanismo era melhor para a costura de apoios políticos do que as indicações de partidos para cargos em ministérios.
“Da forma como está, o parlamentar fica com o pires na mão e um ministro, que não recebe votos e não faz concurso, é quem define a destinação de R$ 200 bilhões para municípios do Brasil”, argumentou. “Eu sempre disse que o orçamento é muito mais democrático se decidido por 600 parlamentares do que por dez ministros.”
“Me elegi sem RP-9 (emendas de relator) e tenho tido uma boa relação sem ela. Não interfere em nada na minha vida. Mas, na governabilidade, sim. Sabemos o que os partidos querem: favorecimento de obras e serviços públicos para aumentar o seu escopo político e atender as suas bases. O governo precisa se organizar, mais especificamente a Secretaria de Relações Institucionais.”
Em relação a Jair Bolsonaro (PL), Lira disse ver outros nomes da direita como mais viáveis eleitoralmente do que o ex-presidente. “Ele jogou fora a possibilidade de reeleição? Sem dúvidas. Outro nome de direita como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr. vai desperdiçar essa chance e errar tanto? Então, talvez Bolsonaro seja melhor cabo eleitoral do que candidato.”
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