O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), trabalha com afinco para que sua provável reeleição ao comando da Casa seja assegurada por um resultado acachapante. Alguns aliados calculam uma vitória com pelo menos 460 dos 513 votos possíveis, o que seria um resultado histórico e superaria o recorde do ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que venceu o pleito com 434 votos na eleição de 2003.
Lira tem se reunido com deputados de todos os estados, regiões e partidos em Brasília para assegurar sua recondução. Além dos encontros, ele tem se empenhado na intermediação dos interesses das legendas por espaços na Mesa Diretora da Câmara e em comissões permanentes a fim de assegurar acordos favoráveis e pacificar o ambiente político na Casa legislativa.
A previsão é de que o deputado tenha o apoio de quase todos os partidos da Câmara, à exceção da federação Psol/Rede, que oficializou pelas redes sociais a candidatura do deputado federal eleito Chico Alencar (Psol-RJ), e do partido Novo, que lançou o deputado Marcel van Hattem (RS) nas últimas duas eleições.
Acomodar e contemplar as 16 bancadas partidárias que o apoiam impõe desafios a Lira. Sem a divisão de blocos partidários, há mais dificuldades para intermediar as demandas dos partidos e selar os acordos por distribuição de espaços na Câmara. A avaliação entre lideranças, porém, é de que ele tem conduzido um bom trabalho na costura dos interesses partidários e isso ajuda a sacramentar a reeleição com uma margem larga.
Aliados próximos de Lira asseguram, no entanto, que ele não faz cálculos nem projeções de um provável placar. Deputados explicam que o máximo de contabilização é feito no "atacado", em razão da quantidade de bancadas estaduais e respectivos parlamentares que têm atendido a seus convites de reuniões em Brasília, na residência oficial da presidência da Câmara dos Deputados.
Em nota, ele próprio assegura que não trabalha com meta de votos para sua recondução. "O deputado Arthur Lira nega veementemente que tenha afirmado que busca 400 votos para a presidência da Câmara dos Deputados. Embora o parlamentar seja candidato à reeleição, jamais estipulou qualquer meta nesse sentido", informou sua assessoria de imprensa após a CNN Brasil noticiar que ele teria dito a aliados ser possível chegar à marca citada.
O que explica o empenho de Lira em assegurar sua recondução na Câmara
O afinco de Lira em assegurar uma recondução confortável é avaliado sob diferentes análises. De forma pragmática, uma liderança da Câmara ouvida pela reportagem acredita se tratar de uma forma de garantir a reeleição sem riscos ao evitar brechas para o surgimento de alguma candidatura competitiva que possa ameaçá-lo.
Outra liderança que apoia Lira afirma que ele tem a ambição de assegurar uma vitória larga e vê isso como uma forma de vaidade. "Seria um reconhecimento importante, porque se for eleito com mais de 440 votos ele vai poder dizer que foi o presidente mais votado da Câmara e que dificilmente vão bater o recorde dele", avalia reservadamente um vice-líder partidário.
Uma terceira liderança consultada sob sigilo acredita que Lira trabalha com afinco para assegurar uma votação simbólica e pavimentar sua candidatura à eleição para o Senado em 2026, um desejo que foi manifestado a aliados de seu entorno político. "Com uma vitória ampla, o Arthur [Lira] vai poder seguir para a segunda metade do mandato com o sentimento de dever cumprido e despreocupado com o coletivo e mais com o estado dele [Alagoas], porque vai ter uma eleição difícil para enfrentar lá contra o [senador] Renan [Calheiros], que não vai querer que o Arthur fique com uma das [duas] vagas", diz um deputado próximo.
De uma maneira geral, porém, aliados apontam que candidatura de Lira "independe" dele. "O Arthur está muito forte e, querendo ele ou não, a candidatura é maior do que ele. A forma como ele se construiu presidente dá a ele quase que a unanimidade. Ele não tem disputa e desencoraja qualquer um a disputar com ele", diz um dos deputados.
O deputado federal Zé Vitor (PL-MG) não descarta a hipótese de uma votação histórica, mas evita prever um placar. Ele avalia que Lira "certamente será reeleito" e contará com o apoio da maioria da Câmara. "Ao meu ver, ele cumpriu com seu papel, tem sido um bom presidente para a Casa e reúne as condições para continuar nesse momento que o governo precisa tanto de um presidente que tenha compromisso com o Brasil, acima de tudo", destaca.
O deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA) é outro que também acredita em uma vitória confortável dada a atenção aos deputados e a habilidade de Lira em firmar os acordos. "Se continuar com essa matemática e fórmula, tem tudo para ter votação expressiva pelo reconhecimento que os parlamentares têm demonstrado nas reuniões", justifica.
Como são as reuniões entre presidente da Câmara e os deputados
Por ser favorito à reeleição e sob o argumento de permanecer vigilante em Brasília após os atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro, Lira optou por permanecer na capital federal e receber os deputados em vez manter a tradição de visitas aos estados durante a campanha pela presidência da Câmara.
Nas reuniões com os deputados, Lira fez um balanço e uma prestação de contas de sua gestão e dedicou atenção especial aos deputados eleitos em relação aos últimos dois anos. Um dos pontos mais tocados por ele foi o resgate das reuniões dos colégios de líderes em atenção aos deputados federais do baixo ao alto clero.
Outro ponto abordado é o empoderamento da Câmara. Lira citou que sua gestão foi marcada pelo maior número de projetos aprovados de autoria dos parlamentares. A manutenção de um Legislativo forte e independente em relação ao Executivo foi uma das principais promessas feitas por ele na campanha de 2021, mesmo tendo o apoio e simpatia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao fim de cada reunião, Lira não pede explicitamente o voto aos deputados, mas deixa espaço para fala dos parlamentares que, normalmente, é usado por aliados próximos que elogiam seu mandato e manifestam apoio a sua recondução.
Deputados reeleitos que votaram em Lira em 2021 avaliam que ele cumpriu as promessas feitas há dois anos, inclusive a de maior respeito à jornada de trabalho dos deputados federais com o fim das sessões prolongadas que pernoitavam a madrugada, como ocorreu na última gestão do ex-presidente Rodrigo Maia (PSDB-RJ).
"O Arthur cumpriu o que prometeu na última campanha. Deu mais pluralidade quando começou a fazer os encontros do colégio de líderes. Mesmo que ele tomasse uma decisão, tinha sempre oportunidade para chegar e reclamar. Muitos também vão dar a chance a ele por conta desse empoderamento aos deputados. Como ele não é aliado de primeira hora do [presidente] Lula isso o fortalece muito mais, porque é um cara independente", avalia uma liderança da Casa.
O deputado Celso Sabino elogia Lira e reforça seu entendimento de que a atenção aos deputados ajuda sua campanha à reeleição. "O termômetro que tenho sentido em conversas com os deputados é de muita satisfação. Acho que não deve fugir de uma votação expressiva. As manifestações são todas de agregação, apoio e reconhecimento", destaca.
Sabino diz que Lira tem sido "incansável na construção de consensos" e na busca de agregar os "interesses comuns" do país, como desenvolvimento econômico e geração de empregos. "Ele prestigiou os parlamentares e as bancadas temáticas de interesse na Câmara, como a bancada evangélica, a feminina, a da segurança, da cultura, da saúde, então acabou que ele conseguiu atrair muitos simpatizantes", diz.
A candidatura de Lira caminha de forma "bastante natural", movida pelos próprios parlamentares que buscam atribuições na campanha, complementa Sabino. "Ele faz campanha normalmente, reunindo dezenas de vezes durante o dia, está reunindo com as bancadas regionais, dos estados, conversando com um por um dos deputados", sustenta.
Quais os limites aos poderes de Lira em caso de reeleição ampla
Embora a reeleição de Lira por uma margem ampla consolide seus poderes e amplie seu capital político, um resultado histórico ainda não asseguraria a ele as condições para emplacar um sucessor. Mesmo no entorno do presidente da Câmara existe uma análise feita por alguns de que é incerta a possibilidade de emplacar um aliado em seu lugar.
A aposta feita por alguns aliados de Lira é de que haverá duas candidaturas nas eleições da Mesa Diretora da Câmara em 2025: uma apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outra de um aliado de Lira. O deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente nacional do partido, é um nome cotado para disputar o pleito.
"Tenho certeza de que o governo não vai abrir mão de ter seu próprio candidato. É só lembrar o poder que o Maia tinha e como fracassou no apoio ao Baleia [Rossi (MDB-SP), presidente nacional de seu partido que concorreu com Lira em 2021]", comenta um aliado de Lira.
Outro aliado avalia que, a ser confirmada a reeleição, serão dois anos que "tudo pode acontecer". "O cenário lá na frente pode ser positivo ou não para o Arthur, mas não vejo que uma eleição com 400 votos ou mais daria muita vantagem para ele", diz.
"Um placar elástico não significa que ele vai ter menos problemas. O Arthur não era o candidato da esquerda e se tornou porque já tinha se mostrado imbatível e existia uma ala que estava caminhando com ele por ter conquistado a confiança das pessoas. Se mostrou um bom mediador e cumpridor de compromissos", acrescenta o deputado.
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