Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) voltou a Brasília nesta semana com foco total na disputa pela sua sucessão. A estratégia do deputado, segundo aliados, será a de esvaziar as movimentações dos adversários para tentar garantir um consenso sobre o nome de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a Presidência da Câmara.

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Aos seus interlocutores, Lira indicou que não acredita na viabilidade de composição de um bloco governista pelos deputados Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Brito (PSD-BA) para fazer frente ao nome de Hugo Motta. Antes favorito para ser apadrinhado por Lira, Elmar se aliou à candidatura de Brito após ser preterido pelo atual presidente da Câmara.

Desde então, Elmar fez uma série de acenos ao Palácio do Planalto ao lado de Brito, apontado como um nome mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, a avaliação feita por Arthur Lira é que hoje os partidos que integram a base do governo estariam comprometidos em apoiar Motta.  

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Com isso, PSD e União Brasil ficariam isolados e perderiam espaço no comando da Casa. Entretanto, o PT e o governo têm dado sinais trocados em relação à disputa até o momento.

Nomes como o do deputado Odair Cunha (PT-MG) e de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, já deram sinais de apoio a Motta nos bastidores. Por outro lado, Lula ainda não agiu para retirar as candidaturas de Brito e Elmar e posou para fotos com os dois deputados no último fim de semana, quando ele esteve com ambos em Belém.

Além disso, o líder do PT no Senado, senador Jaques Wagner (BA), criticou publicamente a ligação de Motta com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.  “Ele é uma cria. Uma cria do Ciro Nogueira, há quem diga que é uma cria do Eduardo Cunha e também é uma cria do Arthur Lira”, disse Jaques em entrevista à rádio Metrópole, da Bahia. 

A fala pública do senador baiano chegou a gerar um mal-estar entre aliados de Lira e o PT. Para tentar contornar a crise, o deputado Odair Cunha ressaltou que a indicação do partido tem sido discutida com os membros do “blocão” em busca de uma convergência na formação de um candidato para suceder Lira. 

O "blocão" citado pelo deputado é o grupo de partidos que garantiu a reeleição de Lira em 2023, formado por todos as siglas exceto o Novo e a federação Psol-Rede. “O PT está discutindo qual é a tese que nós vamos decidir. Se nós vamos decidir pela manutenção e pela permanência no blocão ou se nós vamos produzir um novo bloco aqui na Casa. Essa é a discussão central. E nessa tese de permanência nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é o Hugo Motta”, declarou Odair Cunha após uma reunião da bancada petista nesta terça-feira (15).

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Lira tenta esvaziar candidaturas de Brito e Elmar 

A sinalização do líder do PT na Câmara sobre a possibilidade de criação de um novo bloco caminha na esteira da promessa feita por Elmar Nascimento e Antônio Brito de composição de um bloco governista. Além do União e do PSD, os dois partidos buscam no MDB, Solidariedade, Avante, Patriota e Podemos, além de outros partidos da base de Lula como PSB, PDT, PCdoB e PV.

“Nós não vamos estabelecer prazo, porque aqui o prazo é o dia da eleição. Agora, a conveniência política é que vai dizer o momento adequado e o processo de construção da bancada também”, completou Odair Cunha. 

Apesar disso, Lira tem ironizado e dito aos seus aliados que "União e PSD, juntos, equivalem a uma coligação do Psol com o Novo". Nesta semana, Lira telefonou, pela primeira vez, para Elmar Nascimento desde o afastamento entre ambos provocado após a escolha de Hugo Motta. 

Segundo seus aliados, Lira teria dito a Elmar que não existirem motivos para ele ter mágoas por sua decisão de endossar o nome de Motta. O presidente da Câmara teria argumentado que sua escolha mirou a unidade da Casa e o nome de Motta angariou mais apoios. 

Em outra frente, Lira procurou o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, para falar sobre a sua sucessão. O presidente da Câmara articula para que o partido de Kassab retire a candidatura de Antônio Brito. 

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Para tentar esvaziar as candidaturas, Lira tem indicado que o União Brasil e o PSD podem ficar fora da composição da Mesa Diretora da Câmara caso os partidos mantenham a aliança contra Hugo Motta. Neste caso, os partidos que embarcarem na candidatura do Republicanos teriam preferência nos demais cargos no comando da Casa. A participação na Mesa Diretora confere poder e cargos aos partidos.

Kassab, no entanto, manteve a candidatura de Brito e tem endossado a aliança com Elmar Nascimento. Aliados de Kassab avaliam reservadamente que "Lira entrou no modo contenção de crise", mas que a disputa só vai ocorrer em fevereiro de 2025 e ainda há tempo para fortalecer o grupo contra Hugo Motta. 

Governo vai acompanhar movimentações de Arthur Lira 

Publicamente, Lula tem dito que não interferirá na disputa pela presidência da Câmara e que Lira tem o direito de tentar fazer o seu sucessor. Paralelamente, o petista tem mantido conversas com Elmar Nascimento e com Antônio Brito.

Integrantes do Centrão avaliam que a estratégia de Lula seria manter a disputa embolada e, assim, ampliar a sua influência no pleito. No Planalto, os governistas avaliam que o petista ainda não está convencido a trabalhar pela candidatura de Motta, mas isso não significa objeção ao nome do parlamentar. 

Petistas acreditam que o apoio da bancada governista será determinante para a definição nesta disputa. Os integrantes do PT, no entanto, descartam qualquer movimento brusco, já que estão desde o começo negociando com Arthur Lira. 

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Para isso, integrantes do PT tiveram um encontro nesta quarta-feira (16) com Hugo Motta. Na próxima semana, a bancada deve se reunir com Brito e Elmar, separadamente. 

“Então esse é um debate que está posto e nós vamos aprofundar. Nós estamos no processo de consultas. Nós iniciamos hoje esse debate aqui na Casa, debatemos com a executiva, que é a coordenação da bancada, e agora acabamos uma reunião do conjunto da bancada. E vamos aprofundar esse debate, temos tempo. O tempo está a nosso favor”, ressaltou Odair Cunha. 

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]