As promessas que o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), teria feito ao PT para conquistar votos na eleição para a presidência da Casa deixou deputados bolsonaristas com um “pé atrás”. Mas, no momento, eles não cogitam deixar de apoiar Lira, que é o candidato do presidente Jair Bolsonaro para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara.
Lira negou que tivesse feito promessas aos petistas. E, na sexta-feira (11), o PT anunciou que não vai apoiar o líder do Centrão, mostrando que as negociações entre petistas e o candidato do Planalto não avançaram. A base governista então decidiu dar seu voto de confiança a Lira.
Uma das propostas que Lira teria oferecido à bancada do PT, em troca do apoio a sua eleição, seria não levar adiante a agenda conservadora de costumes defendida pelo governo e por sua base mais ideológica na Câmara. O presidente da Câmara é o responsável por pautar as matérias que vão a votação no plenário.
Outros pontos que Lira teria prometido aos petistas seriam mudanças na Lei da Ficha Limpa, o combate ao "lava-jatismo" e a votação de um projeto de lei para garantir novas fontes de financiamento para os sindicatos – que enfrentam dificuldades para se sustentar após o fim do imposto sindical estabelecido na reforma trabalhista do governo do ex-presidente Michel Temer.
Todas essas promessas ao PT foram negadas pelo líder do Centrão, de forma pública ou em conversas com deputados da base de Bolsonaro. Publicamente, Lira disse que, como candidato, tem a “obrigação de conversar com todos os líderes e partidos”. E negou que tenha a intenção de mudar a Lei da Ficha Limpa.
O que pensam os bolsonaristas sobre as negociações de Lira
As manifestações de Arthur Lira atenuaram o desconforto e o susto sentido por governistas com as primeiras informações que circularam na imprensa. Mas há quem entenda que ele poderia ter sido mais enfático.
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) diz que, se Lira não negar publicamente de forma mais incisiva, os conservadores podem acabar recuando na decisão de apoiá-lo. A parlamentar articula com outros bolsonaristas e demais parlamentares da direita a criação de uma frente parlamentar conservadora. Por isso, qualquer tentativa de frear essa agenda, mudar a Lei da Ficha Limpa, combater o “lava-jatismo” e retomar o imposto sindical teria a rejeição desse grupo, diz ela.
Bia Kicis está entre os congressistas que deu o voto de confiança após justificativas de Lira nos bastidores, mas faz um alerta. “Caso haja esse movimento [de Lira apoiar as causas de interesse do PT], ele perde força entre os conservadores”, avisa.
O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) é outro que impõe condições para manter o apoio: “Eu, por exemplo, vou apoiar o candidato que apoia o governo, contanto que se enquadre nos meus princípios”. Entre esses princípios, ele elenca conformidades com a Lei da Ficha Limpa e o compromisso de a agenda conservadora andar na Câmara. “Se não for assim, desmoraliza. Mais do mesmo não serve”, destaca. Uma das maiores críticas dos bolsonaristas a Rodrigo Maia é justamente a recusa dele em colocar a agenda de costumes na pauta.
As cinco investigações que correm contra Lira no Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, não o tornam um candidato impossível de ser apoiado para a presidência, diz Nunes. “Se ele não foi condenado, não posso pré-condenar. Quanto aos inquéritos, o ideal é que não tivesse nenhum. Mas quantos sofrem inquéritos injustos?”, questiona o deputado.
Tereza Cristina é plano B do Planalto
O apoio dos deputados bolsonaristas a Lira, no entanto, não é uma unanimidade. Outros deputados ouvidos em caráter reservado pela Gazeta do Povo dizem que o apoio à candidatura do líder do Centrão se dá mais por falta de opção e estrito pragmatismo do que por uma genuína e orgânica rede de apoio. “A gente acaba ficando numa sinuca de bico, sem ter outros nomes”, diz um parlamentar.
Dentro do Palácio do Planalto e na Câmara, o cenário ideal analisado por governistas seria a candidatura da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deputada licenciada do DEM. Ou mesmo uma candidatura do ministro das Comunicações, Fábio Faria, deputado licenciado do PSD. Ambos são vistos com simpatia por bolsonaristas, que os consideram quadros dinâmicos e bons nomes para o Legislativo.
Embora Lira seja o candidato "oficial" do governo, o Planalto e os bolsonaristas mantém Tereza Cristina como o plano B. Segundo fontes ouvidas pela Gazeta do Povo, a manutenção dela como uma opção atende a um pedido feito pelo próprio Bolsonaro.
Governistas da Câmara e do Planalto afirmam que Bolsonaro sabe que não pode interferir diretamente na eleição para a presidência da Câmara. Nem irá fazer isso. Uma candidatura de Tereza só teria alguma chance de prosperar se o presidente da República decidisse apoiá-la abertamente. E um eventual bate-chapa com Lira poderia trazer problemas futuros, caso ele se eleja presidente da Câmara.
Os governistas lembram que, em 2015, a ex-presidente Dilma Rousseff apoiou abertamente a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara. O vencedor foi o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ). Dali em diante, o relacionamento entre o emedebista e a petista foi de mal a pior. Foi Cunha, por exemplo, quem abriu o processo que resultou no impeachment de Dilma.
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