Após semanas de silêncio, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, confrontou os vetos do governo ao Orçamento e à medida provisória de reoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia durante a cerimônia de abertura do ano legislativo no Congresso. Ele disse que o orçamento não é de autoria exclusiva do Executivo. Também afirmou que a desoneração não pode retroceder sem ampla discussão.
O ano legislativo começa em um clima de elevada tensão após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter vetado o calendário e cancelando o pagamento de parte das emendas parlamentares na virada do ano e ter editado uma medida provisória reonerando a folha de pagamento após o Congresso ter tomado decisão contrária.
"O orçamento é de todos e de todas os brasileiros e brasileiras. Não é e não pode ser de autoria exclusiva do Executivo e muito menos de uma burocracia técnica que, apesar do seu preparo, que não foi eleita para escolher as prioridades da nação e não gasta a sola do sapato percorrendo os municipais brasileiros como nos parlamentares senadores e deputados", disse ele.
Sobre a medida provisória emitida por Lula no início do ano sem negociações para reonerar a folha de pagamento, o presidente da Câmara disse que ela não pode continuar sem discussão, assim como a revogação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). Ele disse que os deputados não foram feitos para serem "carimbadores" e que o povo espera mais que isso de seus parlamentares.
O senador Efraim Filho (União-PB), autor do projeto de lei da desoneração da folha de pagamentos disse que Lira foi claro: os parlamentares não vão aceitar discutir temas por medidas provisórias.
"Não aprovaremos retrocesso de qualquer natureza, o Brasil pede para seguir em frente", disse Lira no discurso.
Ele afirmou ainda que "errará quem apostar na omissão desta Casa em razão de uma suposta disputa política entre a Câmara e o Executivo".
"Não subestimem essa mesa diretora, não subestimem os membros do parlamento dessa legislatura", disse em um discurso forte que arrancou aplausos dos parlamentares.
Na chegada ao Congresso Nacional para a cerimônia, o ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha, apontado por alguns como pivô da insatisfação e silêncio nas últomas semanas do presidente da Câmara, Arthur Lira, negou a crise. “O governo conversa todos os dias com os presidentes da Camara e Senado”, disse ele. Contudo, os dois não negociam pessoalmente desde o ano passado e parlamentares disserem que houve pressão sobre o governo pela substituição de Padilha.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também negou crise e disse que governo tem conversado com Congresso. Ele disse que não achou preocupante o discurso de Lira contra a reoneração da folha de pagamentos. Ele disse que o governo e o Congresso encontrarão uma fiorma de manter o entendimento e chegar a uma solução de meio termo. “Toda desoneração tem um custo e alguém paga por esse custo”, alegou.
Lira também disse em seu discurso que as pautas prioritárias da Câmara no ano serão a regulamentação da Reforma Tributária, a reforma administrativa e a pauta verde.
Discursando depois de Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, reiterou o compromisso com pauta socioeconômica e também destacou à necessidade de dar continuidade à Reforma Tributária e que o Senado estará atento à reformulação sistema eleitoral e o fim da reeleição. Ele disse ainda que é imperativo avançar na regulaçnao da inteligência artificial e das plataformas de redes sociais "principalmente quanto à imposição de reponsabilidades na veiculação de informações". Pacheco disse que o Senado deve apreciar até abril um projeto de lei para regulamentar o uso da inteligência artificial no Brasil.
Ele defendeu ainda a limitação das decisões monocráticas de ministros do Supremo Tribunal Federal. O Senado decidiu no ano passado pela limitação desse poder e o assunto ainda vai ser debatido na Câmara. Pacheco também se mostrou favorável à ideia de reduzir os mandatos dos ministros do Supremo.
Congresso inicia atividades em meio a embates com o Executivo e o Judiciário
O Congresso Nacional deu inicío às atividades legislativas, nesta segundo-feira (05), em meio a tensões como os poderes Executivo e Judiciário. Os vetos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a projetos aprovados pelo Congresso, tais como o marco temporal para demarcação de terras indígenas e a desoneração da folha de pagamento de 17 setores, estão entre os motivos para os atritos entre os poderes.
Além disso, os parlamentares de oposição têm feito críticas recorrentes à atuação do Judiciário e às intromissões no trabalho do Congresso. E isso o descontentamento do Congresso se agravou com as recentes operações da Polícia Federal - autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, membro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - contra os deputados federais Carlos Jordy, líder da oposição na Câmara, e Alexandre Ramagem.
No caso dos atritos com Lula, o petista a projetos aprovados na Câmara e no Senado, como é o caso do marco temporal. Nesse caso houve reação do Parlamento e os vetos presidenciais foram derrubados. Assim, passou a valer a regra de que só poderão ser demarcadas as terras já eram ocupadas por indígenas na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. Matéria da Gazeta do Povo mostrou que isso impede a criação de reservas em novas áreas baseadas em laudos antropológicos e dificulta os planos do governo de ampliar as terras indígenas no país. Mesmo assim, ainda há o risco de a questão ser levada ao STF por partidos de esquerda ou pelo próprio governo.
Situação semelhante ocorreu com a desoneração da folha de pagamento de 17 setores. O projeto aprovado pelo Legislativo também foi vetado por Lula, mas o Congresso também derrubou esses vetos. Dessa forma, a redução de impostos para esses setores valeria até dezembro de 2027. Mas o governo não se deu por vencido e editou a Medida Provisória 1202, em 29 de dezembro de 2023, prevendo a reoneração da folha. A questão está negociada pela equipe econômica do governo e representantes do Congresso.
Com relação às operações da PF contra parlamentares de direita, a oposição espera reação de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, após as ações contra Jordy e Ramagem.
Jordy foi apontado pelo subprocurador Carlos Frederico Santos, da Procuradoria-Geral da República (PGR), como integrante do “núcleo de financiadores e instigadores” dos atos de 8 de janeiro de 2023, que terminaram com a depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Jordy nega qualquer relação com as manifestações do 8 de janeiro.
Já Ramagem foi alvo de uma operação da PF contra um grupo que, segundo as investigações, supostamente atuava dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas. O deputdo federal e ex-diretor da Abin classificou a ação como uma "salada de narrativas para assassinato de reputação".
Lula manda mensagem ao Congresso atacando Bolsonaro
O presidente Lula não compareceu à cerimônia, mas enviou uma mensagem por meio de Rui Costa, que foi lida pelo primeiro secretário do Congresso, deputado Luciano Bivar (União-PE).
Na mensagem, Lula destacou os avanços da pauta do Congresso em 2023, como a Reforma Tributária e o Marco Fiscal. Ele também explorou a política do salário mínimo e ressaltou a volta de programas sociais dos primeiros governos de Lula, como Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Brasil Sorridente e Farmácia Popular. Também apontou para o crescimento do Produto Interno Bruto e o alegado controle da inflação.
O presidente também usou a mensagem do Congresso para atacar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação à preservação da Amazônia e à política externa. "Reduzirmos pela metade o desmatamento da Amazônia. Estabelecemos metas ambiciosas de redução de carbono após recuos do governo anterior”, afirmou na mensagem.
A mensagem reforçava a aposta do governo em eventos internacionais protagonizados pelo Brasil, como a presidência rotativa do G20, a Cúpula do Clima (COP30), que será realizada em Belém em 2025 e a Cúpula dos Brics. "Nossa política externa ativa e altiva voltou a nos dar soberania necessária para termos nosso lugar em um mundo que enfrenta tantos desafios”.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF