A volta dos trabalhos do Congresso Nacional já impõe uma série de dificuldades para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante da ofensiva de parlamentares do Centrão por mais espaço dentro do governo. Sem acordo para a entrega de ministérios para partidos como o PP e o Republicanos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não pautou nesta semana a votação do novo arcabouço fiscal e outras matérias de interesse do Executivo.
O novo arcabouço já passou por votação na Câmara e no Senado no primeiro semestre, mas precisa passar por uma nova análise dos deputados, em razão das mudanças no texto feitas pelos senadores. Agora, líderes partidários admitem que a resistência em votar o projeto ocorre diante da indefinição por parte de Lula sobre quais ministérios serão entregues aos partidos do Centrão.
A expectativa inicial era de que Lula se reunisse ainda no começo desta semana com Arthur Lira para o acerto sobre a distribuição dos cargos, mas até o momento não houve definição dessa agenda. Integrantes do Palácio do Planalto já avaliam que Lula está "esticando a corda" nas negociações e isso pode atrapalhar a vida do governo na Câmara.
O atraso na votação do marco fiscal pode, inclusive, adiar mais uma vez o lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), previsto para ocorrer no próximo dia 11. A aprovação do projeto é vista como determinante para definir qual será o espaço fiscal que o governo terá nos próximos anos para bancar o PAC.
De acordo com o líder de governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), Lula “está matutando para ver como é que faz para ter o melhor custo-benefício político” quanto à reforma ministerial. Ele disse ainda que o petista “está ouvindo” várias pessoas, mas que ainda assim “a decisão é solitária”.
"Não posso dizer se está perto ou se está longe [a reforma ministerial], porque quem está matutando isso é o presidente. Ouve um, ouve outro, ouve um, ele [Lula] com a cabeça dele", argumentou Jaques Wagner.
Lula pode rifar ministério do PSB para abrir espaço para o Republicanos
Dentro do Palácio do Planalto, a principal dúvida é sobre como Lula irá acomodar os novos partidos e quais ministros poderão ser "rifados" na reforma ministerial. O principal alvo neste momento é o Ministério de Portos e Aeroportos, que é comandado por Márcio França, filiado ao PSB.
Além da pasta de Portos e Aeroportos, o partido de França conta com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com o vice-presidente Geraldo Alckmin, e a pasta da Justiça e Segurança Pública, com Flávio Dino. A avaliação interna é de que o PSB conta com três grandes pastas, mas tem uma bancada de apenas 14 deputados.
"É sempre mais difícil, mais incômodo, quando você faz essas coisas. Se fosse uma reforma ampla, isso a gente faz com um ano, com avaliação, aí encaixa todo mundo. Como ela não é ampla, ela é específica para um determinado fim, que é correto, para tentar ampliar a base tanto no Congresso, quanto na Câmara. Evidentemente para dar, você tem que tirar. E para tirar é sempre confusão", admitiu o líder do governo.
Caso a troca de França se concretize, a expectativa é de que o ministério seja entregue para o deputado Silvio Costa Filho (PE), como forma de atrair o apoio do Republicanos. O partido chegou a ser cotado para assumir o Ministério dos Esportes, mas Lula acabou recuando da decisão de demitir Ana Moser.
A avaliação é de que a demissão de mais uma mulher poderia acabar repercutindo negativamente para Lula. Recentemente, o petista entregou o cargo de Daniela Carneiro a Celso Sabino, do União Brasil, na pasta do Turismo.
Lula quer atrair o partido de Lira e a federação PSDB-Cidadania para o governo
Além do Republicanos, Lula busca ainda espaço para abrigar o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira. O nome mais cotado para se tornar ministro é o do deputado André Fufuca (PP-MA). Uma das possibilidades estudadas por Lula é o de criar o Ministério de Micro e Pequenas empresas para abrigar o parlamentar.
Atualmente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços tem sob seu guarda-chuva a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa (Sempe), comandada pelo secretário Milton Coelho. Na campanha Lula chegou a indicar a intenção de recriar o órgão, mas a medida não foi implementada até o momento.
Além disso, o PP pleiteia a presidência da Caixa Econômica Federal, que atualmente está sendo comandada por Rita Serrano. O partido de Lira já indicou o nome da ex-deputada Margarete Coelho para o posto. Margarete é ligada ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), que comandou a Casa Civil durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
Pelas redes sociais, Lira afirmou que “a escolha de ministros para a formação de um ministério é prerrogativa exclusiva do presidente da República. Cabe a ele estabelecer um diálogo republicano com as direções e os líderes partidários”. O presidente da Câmara disse ainda que tem trabalhado para que o governo obtenha “a necessária sustentação política no Congresso Nacional, conforme diálogo mantido com o presidente da República, após a votação da reforma tributária”.
Paralelamente, o Palácio do Planalto estuda a possibilidade de tentar atrair para a base governista os parlamentares da federação PSDB-Cidadania, que conta com 18 deputados. Para o grupo, os aliados de Lula trabalham com a possibilidade de entregar uma das vice-presidências da Caixa.
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