Ameaçando entrar no jogo político desde 2018, o apresentador de TV Luciano Huck novamente ensaia uma possível candidatura para as eleições presidenciais de 2022. Ele já havia sido sondado pelo Cidadania para abrigá-lo na disputa pelo Planalto. E vinha se aproximando do DEM. E, mais recentemente, novas possibilidades se abriram para Huck: o PSB e o Podemos. Mas, assim como ocorreu em 2018, ele pode nem entrar na política diante da possibilidade de alçar voos maiores na televisão. O apresentador Fausto Silva vai deixar a Rede Globo no fim do ano e, com isso, Huck passou a ser cotado para ocupar os domingos na emissora.
O DEM, que tinha a simpatia de Huck e poderia ser o partido escolhido para seu projeto presidencial, ficou dividido na disputa pela presidência da Câmara em dois grupos: o do presidente nacional do partido, ACM Neto, e o do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que agora ameaça sair da sigla. Huck tinha interlocução tanto com Maia quanto com ACM Neto. Além disso, uma ala do DEM quer que o partido apoie a reeleição do presidente Jair Bolsonaro – o que é outro entrave para Huck ingressar na sigla.
Mesmo assim, ACM Neto tenta contornar a crise e garantir espaço para que o apresentador possa escolher a sigla para sua filiação. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente do DEM procurou Luciano Huck após a eleição na Câmara para descartar qualquer aproximação com o governo Bolsonaro e deixar as portas da sigla para o apresentador.
No entanto, a mesma ofensiva foi feita por Maia, que tenta levar o Huck para outro partido. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Maia afirmou que a filiação de Huck no DEM estava 90% decidida, mas que o projeto do partido acabou.
“O Luciano Huck estava filiado no DEM. Se decidisse ser candidato, estava 90% resolvido que se filiaria ao DEM. O ACM Neto tem mais relação [com Huck] que eu. Eu tenho, mas o Neto também tem. Não descarto nem a hipótese de o Bolsonaro acabar filiado ao DEM”, disse o ex-presidente da Câmara.
Um parlamentar do partido, que pediu para não ter o nome divulgado, reconhece que o DEM pode ter afastado Huck. “Eu sei que o Huck tem uma proximidade com o Maia, mas se aconselha com o ACM Neto. O presidente do DEM está preocupado em não desagradar a ala governista [do partido], mas pode estar afastando um potencial candidato com essa aproximação velada ao governo”, diz o parlamentar.
Cidadania, PSB e Podemos são opções para Luciano Huck após racha no DEM
Com o “fogo cruzado” que vive o ninho democrata neste momento, outras siglas passaram a ser cotadas para abrigar o projeto presidencial de Luciano Huck: Cidadania, PSB e Podemos.
O Cidadania (ex-PPS) é o partido que há mais tempo sonha em ter Huck em seus quadros para disputar a eleição presidencial. “Isso [a filiação de Huck] é o que estamos desejando há muito tempo. Estamos trabalhando inclusive para que, se ele decidir-se pela candidatura à Presidência, que seja pelo Cidadania”, admite Roberto Freire, presidente do Cidadania.
Freire, que vinha buscando uma articulação para que siglas de centro lancem um nome único na disputa de 2022, já havia reconhecido que essas negociações desandaram depois da eleição para a presidência da Câmara – quando o então candidato do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), conseguiu dividir o grupo que apoiava Baleia Rossi (MDB-SP) – que era apoiado por Maia.
Com a formação de uma aliança com partidos maiores ameaçada para atrair Huck, o Cidadania aposta agora em outra ideia que já vinha sendo estudada: a fusão com a Rede Sustentabilidade e o Partido Verde (PV).
A legenda resultante dessa fusão teria mais estrutura para lançar Huck à Presidência e também resolveria outro problema para as três siglas: o risco de os partidos esbarraram na chamada cláusula de barreira, que restringe a atividade partidária e o financiamento das legendas. A partir de 2022, os partidos que não chegarem a 2% dos votos totais nas eleições para a Câmara dos Deputados vão perder o direito à verba do fundo partidário.
“Tentamos essa fusão lá atrás, mas isso não ocorreu. Agora estamos abertos para conversar já que temos muitas identidades. Mas ainda não existe nada definido”, diz Freire.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que mais dois partidos surgiram como possibilidade para Luciano Huck: o PSB e o Podemos.
Segundo o jornal, Huck conversa com líderes do PSB desde o ano passado. Um dos principais entusiastas da possível filiação do apresentador de TV seria o prefeito do Recife, João Campos (PSB). A interlocutora entre os dois seria a namorada de Campos, a deputada federal Tábata Amaral (SP) – que, embora seja do PDT, está rompida com a cúpula do partido. Tábata tem proximidade com Huck.
Outro fator que pode pesar a favor do PSB é a possibilidade de o partido se fundir com o PCdoB. Uma das principais lideranças do PCdoB é o governador do Maranhão, Flávio Dino – que também mantém contato frequente com Luciano Huck.
O Estado de S. Paulo também informou que o Podemos foi outro partido que teria sondado Huck para lançá-lo na disputa pela Presidência. Mas o grande "sonho" do Podemos é ter o ex-juiz Sergio Moro como candidato a presidente.
Luciano Huck tem até março para decidir se continua na Globo
Luciano Huck terá de decidir logo se de fato vai ingressar na carreira política. A TV Globo deu até março para que ele decida seu futuro. Ou seja, se vai renovar ou não o contrato do apresentador. Em um comunicado divulgado no ano passado, a emissora já havia informado que se Huck optar pela vida política, não poderá continuar nos quadros da Globo.
E agora há um novo elemento que pode pesar da decisão de Huck. O apresentador Fausto Silva vai deixar a Globo no fim do ano. Portanto, o Domingão do Faustão vai deixar de ser exibido e a grade espaço de programação ficará vaga.
Tão logo a saída de Faustão tornou-se pública, especulou-se que a alternativa natural seria "promover" Huck dos sábados para os domingos da Globo – um dia mais nobre e com maior audiência. Essa possibilidade teria balançado o "dono" do Caldeirão do Huck.
Mas reportagem do portal UOL informou que a grande dúvida de Luciano Huck para deixar a carreira televisiva não é em relação à possibilidade de ele assumir os domingos na Globo. Mas sim se assegurar de que Sergio Moro não seja candidato. Segundo o texto, o apresentador de TV acredita que os dois disputariam o mesmo eleitor. E, portanto, se entrassem juntos na disputa, teriam menos chances.
O problema, para Huck, é que dificilmente será possível saber se Moro será candidato até março – quando vence o prazo dado pela Globo para ele se decidir sobre a carreira política.
Apresentador ainda patina nas pesquisas
Apesar da disputa de partidos para ter Luciano Huck e de o apresentador estar na TV há mais de 20 anos, ele ainda patina nas pesquisas eleitorais.
Segundo levantamento da XP/Ipespe divulgado neste mês, Huck aparece com 7% das intenções de voto, atrás do presidente Jair Bolsonaro (28%); Sergio Moro (12%); Fernando Haddad (12%) e Ciro Gomes (11%). Em outros levantamentos, divulgados pelo Instituto Paraná e pelo PoderData, em janeiro, Huck apareceu com 8,1% e 9%, respectivamente.
A pesquisa XP/Ipespe realizou 1.000 entrevistas de abrangência nacional, nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais. O Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.002 eleitores em 204 municípios dos 26 estados e no Distrito Federal. O levantamento, realizado entre os dias 22 a 26 de janeiro, tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 2 pontos percentuais. Já o PoderData ouviu 2.500 pessoas por telefone entre os dias 21 e 23 de dezembro de 2020 em 470 cidades de todas as 27 unidades da federação. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
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