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Lula diz que não tem plano de paz para a Ucrânia
Lula dá entrevista para TV chinesa e admite que não tem plano de paz para a Ucrânia| Foto: CCTV

Após afirmar por mais de dois meses que pretende criar um "Clube da Paz" para resolver a guerra na Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que não tem um plano para lidar com o conflito. A afirmação aconteceu em uma entrevista à emissora estatal chinesa CCTV na sexta-feira (14).

O petista também inverteu os papéis de agredido e agressor e deu a entender que é a Ucrânia que está atacando a Rússia. Em fevereiro de 2022, mais de 200 mil combatentes russos invadiram a Ucrânia e até hoje mantêm ao menos quatro províncias invadidas ilegalmente.

Antes da viagem à China, fontes do governo afirmavam que a proposta do "Clube do Paz" de Lula estava na agenda do encontro do brasileiro com o líder comunista Xi Jinping. Porém, após o fim do encontro, nada de prático foi divulgado sobre o tema.

"Eu não tenho plano específico. Eu não tenho uma coisa produzida. A proposta vai sair de muitas conversas entre muitas pessoas", disse Lula a um entrevistador ao ser questionado sobre o que exatamente desejava propor à China sobre a paz na Ucrânia.

Lula começou a falar de sua ideia do Clube da Paz em meados de fevereiro, durante uma visita ao presidente americano Joe Biden. Na ocasião, não recebeu muita atenção de Washington sobre o assunto. O presidente francês, Emmanuel Macron foi praticamente o único líder de peso a apoiar Lula abertamente, porém, apenas por uma mensagem no Twitter.

Presidente queria discutir paz até acabarem as garrafas de cerveja

No ano passado Lula chegou a afirmar que: "a razão dessa guerra, por tudo o que eu compreendo, que eu leio e que eu escuto, seria resolvida aqui no Brasil em uma mesa tomando cerveja", afirmou em março, em um evento na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

"Teria resolvido aqui, senão na primeira cerveja, na segunda; se não desse na segunda, na terceira; se não desse na terceira, até acabarem as garrafas a gente ia fazer um acordo de paz", disse Lula na ocasião.

Lula critica envio de armas para defesa da Ucrânia

"Todo mundo só está falando em dar mais armas para a Ucrânia atacar a Rússia ou a Otan [aliança militar ocidental] colocar a fronteira no território russo, então precisamos encontrar países que queiram paz", disse Lula à CCTV.

A afirmação do petista está alinhada com a campanha de desinformação que Moscou tem lançado como parte de seu esforço de guerra. O Kremlin vem afirmando desde o início do conflito que suas tropas invadiram a Ucrânia porque o país pretendia se candidatar à entrada na Otan.

O presidente russo Vladimir Putin vem afirmando, ao menos desde 2021, em uma visão distorcida da história, que a Rússia teria direito a reivindicar o território ucraniano por considerá-lo sua área natural de influência. Moscou divulgou, sem qualquer fundamentação, que a Ucrânia cederia seu território para a instalação de mísseis destinados a atingir território russo.

Em fevereiro de 2022, tropas do Kremlin tentaram tomar a capital ucraniana Kyiv sem que território ou militares russos tivessem sido atacados ou sequer ameaçados. Países membros da Otan passaram então a fornecer recursos financeiros e armas em grande quantidade para a defesa da população ucraniana.

Lula inverteu os papéis e afirmou que esses recursos foram usados para atacar a Rússia. Mas, os únicos poucos ataques ucranianos feitos em território russo não utilizaram armas nem foram planejados em conjunto com a Otan.

Praticamente a totalidade do armamento ocidental está sendo utilizada na defesa da população e do território da Ucrânia. O principal exemplo são baterias de defesa antiaérea que estão sendo usadas para interceptar mísseis e drones russos que tem atingido sistematicamente a infraestrutura elétrica e alvos civis.

Lula acusa Alemanha de pedir para comprar mísseis do Brasil

"A União Europeia sempre foi um ponto de equilíbrio. Ela nunca participava. Ela agora entrou diretamente no conflito. Quando o companheiro Olaf Scholz [chanceler alemão] foi ao Brasil pedir para que o Brasil vendesse mísseis para que ele pudesse entregar para a Ucrânia eu disse que não ia vender os mísseis porque o Brasil não quer entrar na guerra", disse Lula à CCTV.

Até agora tal pedido nunca foi confirmado nem pelo Brasil nem pela Alemanha. Lula pode ter se enganado ou distorcido as informações. Desde o início da invasão russa, o governo ucraniano vem pedindo que o Brasil envie gratuitamente munições de canhão antiaéreo de 35 mm para uso em blindados Gepard, de fabricação alemã, que tanto a Ucrânia como o Brasil possuem.

Como se trata de um blindado muito antigo e já fora de uso na Alemanha, apenas poucos países possuem estoques significativos desse tipo de munição, entre eles o Brasil e a Suíça. Eles foram usados para proteger tropas ucranianas na contraofensiva de setembro de 2022 e depois passaram a ser empregados na defesa de cidades da Ucrânia contra drones e mísseis russos.

O Brasil ignorou sistematicamente os pedidos ucranianos, mesmo quando Scholz reforçou a solicitação. Porém, até hoje não se tem notícia de que a Alemanha tenha feito qualquer solicitação ao Brasil para compra de mísseis, que em geral são armas de caráter ofensivo - diferente da munição de Gepard. A produção brasileira de mísseis é considerada muito limitada por analistas militares.

"Dirigentes não têm o direito de fazer guerra quando o mundo está precisando de paz", disse Lula à televisão chinesa. Pequim não fornece armas para a Rússia, mas tem comprado derivados de petróleo e vendido itens manufaturados para a Rússia em meio a sanções econômicas aplicadas pelo Ocidente. A ajuda praticamente salvou a economia russa desde o início da guerra. Os dois países afirmam ter uma "parceria sem limites".

Lula deu as declarações em um contexto de críticas à Otan, que é liderada na prática pelos Estados Unidos, hoje o principal rival geopolítico da China. Na mesma entrevista, o petista não poupou elogios a Pequim e pediu dinheiro para investimentos em infraestrutura no Brasil. O governo brasileiro diz ter fechado acordos estimados em R$ 50 bilhões, mas sem divulgar a destinação específica de todos os recursos.

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