Ouça este conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) logo no começo da primeira reunião ministerial deste ano na manhã desta segunda (18), no Palácio do Planalto. Ele reuniu o primeiro escalão do governo para cobrar resultados dos ministérios para reverter a queda da aprovação nas mais recentes pesquisas de opinião, que apontam uma alta na rejeição do governo.
Durante o tempo em que permitiu a presença da imprensa na reunião, Lula disse que todos os ministros pegaram as pastas com funcionários e programas defasados, e que o “Brasil estava abandonado”, em que o governo anterior “não estava preocupado com o país”.
Segundo Lula, Bolsonaro estava preocupado “em estimular o ódio entre as pessoas, a mentira, e continua fazendo do mesmo jeito” (veja na íntegra). Ele diz que hoje tem clareza de que o 8 de janeiro de 2023 foi uma tentativa de golpe que se iniciou ainda em 2022, durante o mês de dezembro, com “gente que fazia parte do governo dele” e de dentro das Forças Armadas.
“Se há três meses quando a gente falava em golpe parecia apenas insinuação, hoje temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022”, disse Lula.
Lula afirmou que "não teve golpe" porque pessoas dos comandos das Forças Armadas não quiseram e não aceitaram a ideia de Bolsonaro, "mas também porque o presidente é um covardão". "Ele não teve coragem de executar aquilo que planejou, ficou dentro do Palácio [da Alvorada] chorando quase que um mês e preferiu fugir para os Estados Unidos [...] na expectativa de que fora do país o golpe poderia acontecer", disparou.
"Porque eles financiaram as pessoas nas portas dos quartéis para tentar estimular a sequência do golpe. Como não deu certo, então, eles agora estão dizendo que nós estamos ferindo a democracia, que eles eram inocentes, que eles apenas fizeram discussões, mas que não houve nada de concreto. Mas, nós sabemos que houve a tentativa de um golpe neste país", completou Lula.
A afirmação de Lula ocorre três dias depois do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar o sigilo dos depoimentos prestados no âmbito das investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado.
"Quem tinha dúvida agora pode ter certeza que a gente, por pouco, não voltou aos tempos tenebrosos nesse país em que as pessoas achavam que apenas com golpe, com a participação de alguns militares, poderiam ganhar o poder nesse país", completou Lula.
Em outro ponto, Lula atacou o governo Bolsonaro ao elogiar a atuação do ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, por ter aberto 98 mercados para os produtos agrícolas brasileiros, falando que ele deveria ganhar um prêmio de bom vendedor de produtos, e “não vendedor de empresas estatais”. A crítica velada foi em relação ao plano de desinvestimento que previa a privatização de diversas estatais, entre elas os Correios, além da venda concretizada da Eletrobras, alvo constante de críticas do presidente.
Esplanada não é a mesma desde o início do Lula 3
Além de falar sobre a suposta tentativa de golpe de Estado com base nos depoimentos liberados por Moraes na semana passada, Lula reconheceu que precisou fazer um “ajuste político” na composição da Esplanada dos Ministérios desde quando tomou posse, em 1º de janeiro de 2023.
De lá para cá, várias pastas tiveram os titulares trocados para acomodar indicados de partidos do Centrão, principalmente o PP e o Republicanos, que passaram parcialmente à base governista na metade do ano passado.
“Eu ia trazer a foto inicial do governo que tem todos os ministérios e só falta três ministros: o general Gonçalves [Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, GSI], porque pediu para sair em função dos acontecimentos do 8 de janeiro; a companheira Daniela [Carneiro, ex-ministra do Turismo] que trocou de partido e, portanto, foi obrigada a sair [do União Brasil, que requisitou a pasta]; e a companheira Ana Moser [ministra do Esporte] que, em função de um ajuste político, nós tivemos que fazer a troca dela”, explicou Lula lembrando, ainda, da saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça “que foi promovido” para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Também não esteve presente na reunião o ministro Mauro Vieira, das Relações Internacionais, que está em viagem à Cisjordânia para “levar uma mensagem dos brasileiros”, disse Lula.
Recuperação de ministérios "defasados"
Ainda durante a abertura da reunião ministerial desta segunda (18), Lula voltou a ressaltar as “condições” que os ministros encontraram nas respectivas pastas do que foi deixado por Bolsonaro, como “escombros” e “quase todos defasados de profissionais, alguns praticamente destruídos, que não funcionavam, alguns com menos metade dos funcionários que precisavam, e a maioria sem políticas públicas de inclusão social como nós tínhamos deixado quando passamos pelo governo”.
Lula ainda deixou em aberto a possibilidade de novas contratações do serviço público federal, afirmando que os ministérios seguem reivindicando servidores para suprir aqueles que se aposentaram ou estão em processo de aposentadoria, e “de muita gente que não tinha nenhum compromisso com políticas públicas”.
Ele também comentou sobre as falhas que encontrou em áreas como a cultura, a saúde e a educação, com falta de profissionais e obras paradas, salários e bolsas atrasados, entre outros.
“Foi um primeiro ano de recuperação. Todo mundo aqui sabe que recuperar uma coisa estragada é mais difícil do que começar uma coisa nova. [...] Foi um trabalho ‘hércule’ para que a gente recuperasse tudo isso, o Bolsa Família incluindo mais gente, aumentando, programas para a alfabetização na hora certa, o [programa] Pé de Meia, os institutos federais, a recuperação de vários prédios de universidades que estavam paralisadas, o poder aquisitivo do salário mínimo acima da inflação, da massa salarial. Mas, sabem que ainda falta muito pra gente fazer em todas as áreas, e nada estranho, é tudo aquilo que nos comprometemos a fazer durante a disputa eleitoral”, completou Lula.