O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou nesta terça (23) os ataques a Jair Bolsonaro (PL) mesmo após mais de um ano à frente do governo. Ele chamou o ex-presidente de “incompetente”, afirmou que ele não tinha “governança” do país e que deixou um caixa “quebrado” para iniciar uma nova gestão.
Os ataques foram feitos durante uma entrevista a uma rádio da Bahia em que elogiou os aliados locais e a atuação da primeira-dama Janja Lula da Silva, intimou os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e comentou a eleição de São Paulo, em que conseguiu trazer de volta à política nacional a ex-petista Marta Suplicy.
Lula disse que assumiu o governo antes mesmo da posse ao conseguir encaminhar a PEC fura-teto no Congresso para começar a nova gestão e implantar as políticas sociais que precisava para o primeiro ano do novo mandato – pela primeira vez na história, diz. Isso ocorreu pelo que teria sido uma incompetência de Bolsonaro ao deixar a ele um governo “quebrado”.
“Porque o ex-presidente era tão incompetente que não tinha deixado dinheiro nem para cumprir as próprias dívidas dele, os próprios compromissos dele”, disse Lula ressaltando que houve um “desmonte” nas políticas públicas “durante quatro anos, [com] um presidente que não se preocupava em fazer nada”.
O petista disse que essa suposta incompetência poderia ser verificada apenas perguntando a prefeitos brasileiros se lembram de alguma obra de infraestrutura feita por Bolsonaro. A relação com a falta de dinheiro e a aprovação da PEC fura-teto de R$ 168 bilhões foi feita quando questionado sobre a relação com o Congresso, em que precisou negociar e liberar bilhões em emendas parlamentares para conseguir aprovar projetos de interesse do governo.
Embora tenha reconhecido no ano passado que precisou negociar muito com os parlamentares, Lula minimizou o aumento do protagonismo do Congresso em ditar e exigir mais recursos. Para ele, é natural que haja conversas e que nem todos os projetos passem 100% do jeito que o governo gostaria, mas que conseguiu aprovar tudo o que precisava em 2023.
Isso, diz, é uma relação que o ex-presidente não tinha com o Legislativo, em que “não tinha governança” do país. “Quem governava era o Congresso Nacional, quem ditava a agenda era o Senado, ele não tinha sequer capacidade de discutir o Orçamento, porque não queria ou porque não fazia parte da lógica dele”, disse.
Ele comentou, ainda, que terá o "maior prazer" em explicar aos parlamentares porque vetou um trecho do Orçamento de 2024 que encaminhava R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão permanente do Senado e da Câmara e a mista permanente do Congresso.
Ainda sobre a relação com o Legislativo, Lula disse que vetou a lei que estabelecia um marco temporal para a demarcação de terras indígenas por "questões políticas", para as pessoas saberem que ele tomou essa decisão. "Agora vai ficar com a Suprema Corte [STF], que dá boas garantias aos indígenas", pontuou.
Em outro momento, Lula atacou Bolsonaro ao citar a disputa eleitoral em São Paulo, em que conseguiu unir o aliado Guilherme Boulos (PSOL) à ex-petista Marta Suplicy. Pela primeira vez na história o PT não terá um candidato próprio na sucessão à prefeitura paulistana.
“São Paulo é uma confrontação direta entre o ex-presidente e o atual, entre eu e a figura. [...] A disputa é entre um governo que coloca o povo em primeiro lugar e o governo das fake news, do desastre, do governo que não acredita nas coisas normais que a humanidade tem que acreditar”, disse emendando que acredita que o PT e aliados conquistarão as prefeituras de muitas capitais brasileiras.
Lula intima Haddad e Paulo Teixeira
Ainda durante a entrevista, Lula passou recados diretos aos ministros da Fazenda e do Desenvolvimento Agrário, respectivamente, ressaltando as promessas de campanha que diz que terão de ser cumpridas.
A Haddad foi com relação à isenção do Imposto de Renda para quem ganha até dois salários mínimos. A desoneração valia seguindo os valores em vigor no ano passado, até R$ 1.903,98. No entanto, com o reajuste aprovado neste ano, passou para R$ 2.640, o que faria muitos brasileiros voltarem a ser cobrados.
Lula, no entanto, diz que determinou ao ministro para revisar a norma e manter a isenção – o que foi confirmado por Haddad em entrevista à TV Cultura na noite de segunda (22).
“O Haddad sabe que temos que fazer esses ajustes. Eles são difíceis, porque nós precisamos saber [que], na hora que a gente abre mão de um dinheiro, tem que saber de onde vai pegar o outro dinheiro”, disse.
Ele ainda confirmou que pretende chegar ao fim do mandato isentando do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil. “É um compromisso de campanha, mas, sobretudo, um compromisso de sinceridade”, pontuou.
Outro ministro intimado por Lula durante a entrevista foi Paulo Teixeira, a quem determinou que faça um levantamento completo de terras improdutivas privadas e propriedades da União que possam ser usadas para fazer a reforma agrária e assentar famílias de movimentos sociais aliados, como o MST.
O presidente também disse que vai pedir ao governo para fazer outro levantamento semelhante, mas de terrenos e prédios públicos sem uso nas cidades que possam ser vendidos ou convertidos para acesso da população. Apenas o INSS, disse, tem mais de três mil propriedades. “Temos que fazer que isso volte ao povo”, afirmou.
Janja, a primeira-dama política
O ativismo político da primeira-dama Janja Lula da Silva também não ficou de fora da entrevista, semelhante a outras passadas que ele a cita sempre que tem oportunidade. Lula voltou a elogiar a atuação da esposa no dia a dia da política brasileira nos palácios da Alvorada e do Planalto, falando que conversam diariamente e que ela fala a ele “coisas que a minha assessoria não fala”.
“Ela é preocupada com a política, ela também vive a política 24 horas por dia. [...] Ela me cobra, você não tem noção, quando o [Ricardo] Stuckert [fotógrafo oficial do presidente] tira uma foto minha e só tem homem. Ela fica horrorizada que não tinha mulher para colocar na foto, porque que só homem”, disse.
Lula ressaltou que Janja “tem que falar muito mais porque ela é militante política, ela gosta de política, ela faz política, tem que colocar o posicionamento dela”.
A atuação de Janja já provocou crises nos bastidores, como a que o desaconselhou a aceitar uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante os atos de 8 de janeiro de 2023, a suspensão da cobrança de imposto de importação sobre as compras pessoais on-line do exterior até US$ 50, o comando de uma comitiva ministerial ao Rio Grande do Sul de ajuda após desastres provocados por fortes chuvas, entre outros.
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