Embora governadores que apoiaram Bolsonaro digam ter um diálogo aberto, Lula deve enfrentar resistência de eleitores.| Foto: Fernando Bizerra/EFE
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As eleições de 2022 resultaram na vitória apertada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Palácio do Planalto, mas, pelo país, alguns dos estados mais populosos e ricos elegeram governadores de direita que apoiaram Jair Bolsonaro (PL), como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Mas apesar de terem feito, muitas vezes, dura oposição ao petista durante a campanha, os governadores eleitos (ou reeleitos) já demonstraram que estão abertos ao diálogo com o novo mandatário.

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Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, disse logo após a vitória que vai buscar um “alinhamento” com o governo de Lula.

“Para trazemos políticas públicas para o estado, vai ser fundamental o alinhamento e o entendimento com o Governo Federal”, disse Tarcísio, que já começou a conversar com integrantes do governo no começo desta semana. O objetivo, relataram à reportagem interlocutores do governador eleito, é ter um diálogo mais direto com o governo Lula. Uma das pontes dessa futura relação deve ser o vice-presidente eleito e ex-governador paulista, Geraldo Alckmin (PSB).

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"Vai ser uma relação republicana [com Lula]. Nós queremos fazer a diferença pelo estado de São Paulo. Então nós vamos zelar pelos interesses de São Paulo, pelos interesses do cidadão de São Paulo" afirmou Tarcísio em entrevista à Record TV.

Romeu Zema (Novo), reeleito governador de Minas Gerais, adotou um discurso conciliatório após a vitória de Lula e se disse “aberto ao diálogo para que o Brasil possa crescer com trabalho, honestidade e respeito”.

Durante o segundo turno, Zema fez muitas críticas ao PT e teve um papel importante na redução da vantagem de Lula no estado na votação em segundo turno, em comparação com o primeiro, atuando como um dos principais cabos eleitorais do presidente. Em 2 de outubro, Lula obteve 5,8 milhões de votos, contra 5,2 milhões de Bolsonaro, uma vantagem de quase 5 pontos percentuais; já em 30 de outubro, o petista obteve menos de 50 mil votos a mais do que Bolsonaro, uma diferença de 0,4 ponto percentual.

É semelhante ao que aconteceu no Amazonas, onde Wilson Lima (União Brasil) venceu a eleição colado em Bolsonaro, em um estado que elegeu Lula.

“Eu me rendo ao resultado das urnas. Não tenho dificuldade nenhuma de conversar com quem quer que seja para que a gente possa ajudar a nossa população”, disse em entrevista à CNN Brasil.

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Lucas Fernandes, cientista político, coordenador de análise política e sustentabilidade da BMJ Consultores Associados, diz que a reação dos governadores da base de Bolsonaro à eleição de Lula não surpreende, visto que o presidente concentra muito poder e torna os estados dependentes das decisões tomadas em Brasília.

“Lula já vem prometendo há muito tempo que vai convocar uma reunião com os 27 governadores nos primeiros dias de governo. Enquanto foi presidente (entre 2002 e 2010), ele teve uma relação muito pragmática com vários estados, inclusive com Geraldo Alckmin que foi governador de São Paulo e que estavam em campos políticos diferentes na época. Devemos sim ter uma mudança muito grande na relação do Palácio do Planalto com governadores, diferente do que vimos com Bolsonaro, principalmente ao longo da pandemia”, analisa.

Declarações semelhantes de diálogo com o futuro presidente foram adotados também por Ratinho Junior (PSD), reeleito governador do Paraná, e Jorginho Mello (PL), eleito em Santa Catarina. Ambos não demoraram a reconhecer o resultado das urnas. O paranaense adotou um discurso de união e disse que “é hora de continuar trabalhando, juntos por um Brasil unido e em paz”.

Jorginho Mello, por sua vez, disse que "não tem dificuldade nenhuma em relacionamento com o presidente Lula, com qualquer presidente que tiver”, em entrevista à NSC.

Respeito às urnas, mas ouvidos atentos à oposição

O governador reeleito do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), também apoiador de Bolsonaro, foi além de simplesmente se dizer aberto ao diálogo e à cooperação com o novo governo Lula. Para ele, o novo presidente precisará saber conversar com um eleitor de oposição diferente daquele de 2002, quando assumiu o primeiro mandato.

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“Vai depender fundamentalmente dele [de Lula], porque vai haver uma esquerda de um lado, [e do outro] uma direita que antes era uma direita envergonhada, as pessoas tinham vergonha de dizer que eram de direita. Hoje, muitos têm orgulho de dizer que são de direita, com posições firmes e contundentes. Então, pode haver uma polarização se não houver uma sabedoria na condução das ações de gestão”, disse em entrevista à Jovem Pan.

Para Lucas Fernandes, este será um dos principais desafios de Lula à frente da Presidência da República em seu terceiro mandato. Embora tenha um diálogo aberto com os governadores, enfrentará uma desconfiança ideológica sobre as decisões que tomar.

“Lula foi eleito presidente, mas com uma concentração muito grande de pessoas que não votaram nele. Ele chega ao Palácio do Planalto com a necessidade de abrir caminhos para ter uma governabilidade melhor e aumentar a popularidade, com uma relação mais pragmática com os estados”, diz. Segundo ele, São Paulo é um dos estados que mais pode se beneficiar dessa relação "pragmática", principalmente nos assuntos voltados às questões internacionais, que Lula já começou a sinalizar antes mesmo de tomar posse.

A relação com os governadores eleitos também passa pelos partidos aos quais eles são filiados. A grande maioria faz parte do bloco conhecido como “Centrão”, que forma a atual base governista, mas tem um histórico de já ter feito parte de governos petistas também.

O cientista político Jefferson Oliveira Goulart afirma que a coligação liderada pelo PT ganhou 122 cadeiras na Câmara dos Deputados e que o partido já iniciou negociações com o Centrão, que terá ao menos 260 cadeiras na Casa a partir de 2023. Parte do MDB, por exemplo, já tinha embarcado na campanha de Lula, com a ex-presidenciável Simone Tebet sendo o expoente desse apoio. Além disso, presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do União Brasil, Luciano Bivar, já sinalizaram apoio a Lula.

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Nos estados, partidos do Centrão – PSD, MDB, União Brasil e PSDB – elegeram 12 governadores.

“O Centrão representa uma fatia que combina elementos de fisiologismo político, pragmatismo e de conservadorismo, que revelou ao longo da história desde a redemocratização uma capacidade de adaptação com qualquer governo de qualquer orientação política e ideológica, com [José] Sarney (MDB), com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com Lula, com Bolsonaro”, afirma.

Demandas que Lula terá de lidar a partir de 2023

Entre as principais demandas que os estados levarão ao presidente eleito a partir de 1º de janeiro estão a questão dos impostos sobre o preço dos combustíveis, a necessidade de mais investimentos em infraestrutura estratégica, a reforma tributária, entre outras.

Uma das pautas a ser discutida num primeiro momento é a compensação da redução de alíquota do ICMS para os estados, que ainda não foi aprovada na atual legislatura. Posteriormente, segundo Fernandes, uma reforma tributária precisa ser melhor negociada com os estados – algo que vem sendo cada vez mais cobrado pelo setor produtivo.

“Principalmente quando a gente olha para a reforma ampla da PEC 110/2019 [que altera o sistema tributário nacional], ela tira algumas das prerrogativas dos estados e cria um imposto único. Na prática, isso tira um pouco da autonomia dos governos locais decidirem sobre suas próprias alíquotas”, diz o cientista político.

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