O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que os países que formam o Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – atuem em conjunto para ajudar na busca de uma solução de paz para a guerra dos russos contra a Ucrânia, já que o conflito afeta diretamente a todos os países, principalmente aqueles em desenvolvimento.
A declaração foi dada durante a primeira sessão plenária desta quarta (23) da Cúpula do Brics, realizada em Joanesburgo, na África do Sul. No mesmo discurso, Lula falou sobre questões ambientais, como a necessidade de uma governança global para que decisões de protocolos climáticos sejam efetivamente implantadas nos países signatários, e o uso de recursos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, também conhecido como “Banco dos Brics”) para o financiamento de países do chamado “Sul Global”.
Lula também afirmou que a ampliação do grupo dos Brics será efetivamente decidida na reunião plenária de quinta (24). Interlocutores do Itamaraty disseram a jornalistas brasileiros em Joanesburgo que está pré-decidido que pelo menos quatro países serão convidados: Arábia Saudita, Argentina, Egito e Emirados Árabes Unidos. Há, ainda, a possibilidade de que o Irã seja aceito no bloco, mas ainda não há um consenso entre os atuais membros.
Durante o discurso, que teve a presença de líderes dos países e da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (PT), que preside o NDB, Lula afirmou que a situação do mundo hoje é “mais complexo” do que quando o grupo se reuniu pela primeira vez em 2009, e o que se vê hoje é “a retomada de uma mentalidade obsoleta da guerra fria e da competição geopolítica”.
A crítica à invasão da Rússia à Ucrânia foi um recado direto ao ministro de relações exteriores russo, Sergey Lavrov, que estava presente na mesa de debates. “É uma insensatez que corrói o multilateralismo, sabemos bem onde esse caminho pode nos levar”, completou o presidente brasileiro em um discurso mais ponderado do que os dados anteriormente sobre o conflito.
“Todos sofrem as consequências da guerra”, enfatizou emendando, logo depois, que o Brasil, a China e a África do Sul estão dispostos a ajudar na solução do conflito na Ucrânia.
Ainda segundo Lula, o Brasil mantém a sua “posição histórica de defesa da soberania da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas”. O presidente afirmou, ainda, que é necessário ter um número cada vez maior de países em contato direto tanto com Moscou como com Kiev, e que o Brics “se consolidou” como um fórum para discutir temas que afetam a paz e a segurança no mundo.
Lula afirmou, ainda, que o Brasil não contempla a apresentação de “fórmulas unilaterais para a paz”, em referência à chamada “Fórmula da Paz da Ucrânia”, estabelecida por Volodymyr Zelensky como condicionante para um cessar fogo por parte dos ucranianos.
Críticas ao conselho de segurança da ONU
Ainda em referência à guerra da Rússia contra a Ucrânia, Lula afirmou que o conflito “evidencia as limitações do Conselho de Segurança da ONU”, e que outras crises são ignoradas pela organização.
“Muitos outros conflitos e crises não recebem a atenção devida mesmo causando vasto sofrimento para as suas populações. Haitianos, iemenitas, sírios, líbios, sudaneses e palestinos, todos merecem viver em paz”, disse o presidente brasileiro.
Lula voltou a criticar os gastos de guerra feitos pelas maiores nações do mundo, em torno de US$ 2,3 trilhões no ano, enquanto que 735 milhões de pessoas passam fome segundo a FAO/ONU. Ele voltou a enfatizar que os Brics devem atuar “como uma força pelo entendimento e pela cooperação”.
O presidente brasileiro também ressaltou no discurso o papel das mulheres na solução dos conflitos, dizendo que elas buscam a paz enquanto os homens vão à luta nas guerras. A fala repete uma declaração dada recentemente pela primeira-dama Janja Lula da Silva em um artigo ao jornal francês Le Monde.
Ainda nesta quarta (23), Lula participa de mais uma sessão plenária da Cúpula e um jantar com o presidente Cyril Ramaphosa, da África do Sul.
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