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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, na manhã desta terça (22), a inclusão de mais países ao chamado Brics, o bloco econômico que reúne o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, desde que com critérios claros e definidos para que não sejam gerados conflitos ou ruídos no futuro.
A declaração foi dada durante a live semanal transmitida de Joanesburgo, na África do Sul, onde Lula participa da reunião de cúpula do bloco. A transmissão teve picos de cerca de três mil pessoas assistindo.
Segundo Lula, a expansão dos Brics é viável e desejada pelos países membros, mas ele afirma que é preciso definir procedimentos de inclusão para evitar recusas arbitrárias posteriormente.
“Para que a gente possa amanhã num descobrir que a gente colocou alguém que era contra os Brics. É preciso definir normas para que não seja um clube fechado [como o] G7, que é um clube fechado. Mesmo quando o Brasil chegou à sexta economia do mundo, era convidado como ‘convidado’, e não como participante”, disse Lula em relação ao grupo das sete maiores economias do mundo.
Para ele, o bloco dos Brics não deve seguir essa mesma lógica exclusiva, mas construir uma plataforma multilateral aberta a todos. A ampliação do grupo, embora seja unânime entre os atuais membros, encontra algumas resistências internas, com a China e a Rússia a favor da entrada de países que acabem politizando o bloco e as relações com os Estados Unidos e o próprio G7.
Por outro lado, Lula tem a simpatia para a entrada da Argentina no bloco, principal parceiro comercial do país na América Latina e que enfrenta uma grave crise financeira. Ele afirmou que negocia a dispensa do uso do dólar nas transações comerciais e que pode adotar o Yuan chinês nos negócios.
Segundo o Itamaraty, há uma lista de 22 países interessados em aderir ao bloco, como a Arábia Saudita, o Irã, Cuba e Venezuela. E também a Indonésia, que tem uma simpatia maior de Lula e que, segundo ele, pode adicionar uma população de mais de 200 milhões de pessoas para mostrar influência nas decisões.
Ainda de acordo com o presidente, o Brics hoje representa quase metade da população mundial com economias que estão crescendo, e que querem "criar instituições mais democráticas". Entre elas o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que, diz, se diferencia das instituições mais antigas criadas a partir de 1945, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele reconheceu que as mudanças não acontecerão rapidamente, mas com o tempo.
A inclusão de novos membros pode beneficiar a capitalização do banco, segundo mencionou em entrevistas anteriores, ajudando países a se desenvolverem sem terem suas economias "sufocadas" pelas regras impostas pelo FMI em empréstimos.
Um pouco mais cedo, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou que o bloco não tem interesse em ser um “antagonista” a outros grupos multilaterais do mundo, e sim uma participação multilateral junto a outros organismos internacionais, em que “potências emergem, países se desenvolvem e que modificam a face do planeta”.
Ampliação pode pressionar mudanças na ONU
Lula acredita que a adesão de mais países pode influenciar no início de um processo de renovação da Organização das Nações Unidas (ONU), que ele vê como “pouca representatividade” atualmente. Isso ajudaria a encaminhar um projeto antigo dele de colocar o Brasil como membro permanente no Conselho de Segurança.
“Nós temos quase 100 anos de funcionamento das instituições multilaterais, algumas funcionaram, hoje não funcionam mais. Hoje, o Conselho de Segurança não decide mais nada, porque tem o direito de veto, e os membros do conselho fazem o que quiserem”, afirmou.
Ainda segundo Lula, tanto os atuais membros do Brics como os que vierem a entrar podem influenciar a China e a Rússia, que já tem assentos permanentes no Conselho de Segurança, a pleitearem a ampliação para que Brasil, África do Sul, Índia, Alemanha, entre outros, passem a participar.
Na questão da influência que os países do Brics já exercem na geopolítica mundial, Lula ressaltou que, combinados, eles representam mais de 1/3 do PIB mundial e do comércio internacional. Esta força conjunta pode moldar políticas globais, instando à mudança de práticas políticas internacionais.
Segundo o presidente em 2009, a relação do Brasil com os Brics era de apenas US$ 48 bilhões, e depois saltou para US$ 178 bilhões em 2022.
O Brasil não busca antagonismo com o G7, G20 ou os EUA. Em vez disso, busca modificar a visão que se tem do “Sul Global”, que historicamente foi subvalorizado. “Estamos dizendo que nós existimos e queremos sentar numa mesa com igualdade com a União Europeia e Estados Unidos”, disse ressaltando que os países do Sul Global lideram as questões climáticas, energia e desenvolvimento, e buscam igualdade nas negociações internacionais.