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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta segunda-feira (16), que o Brasil "quer estar com todo mundo", defendendo a relação do país com a Venezuela, China, Estados Unidos e Argentina. A declaração foi dada em um momento em que o mandatário brasileiro tem sido pressionado a se posicionar sobre a fraude nas últimas eleições na Venezuela e se afasta cada vez mais das nações democráticas do Ocidente.
"O Brasil quer estar com a China, o Brasil quer estar com a Índia, o Brasil quer estar com os Estados Unidos, o Brasil quer estar com a Venezuela, o Brasil quer estar com a Argentina. O Brasil quer estar com todo mundo. Agora, de forma soberana e de forma respeitável, porque nós não aceitamos ser menores do que ninguém", disse Lula.
"O Brasil nunca teve, em nenhum momento da sua história, a relação que o Brasil tem hoje. Nós não temos nada contra nenhum país. Nenhum, nada. Não temos nada contra os Estados Unidos, mas nós somos soberanos. Não temos nada contra a China, mas somos soberanos", afirmou.
A política externa do presidente Lula tem sido alvo de críticas nos últimos meses. Após uma série de declarações contraditórias sobre as guerras em curso na Europa e no Oriente Médio, o petista fez afirmações que foram interpretadas como acenos ao ditador Vladimir Putin.
Indo ao desencontro do tradicional alinhamento do Itamaraty com os Estados Unidos e as nações europeias, o governo do petista tem prezado pela manutenção da relação com nações que formam os Brics, sobretudo China e Rússia. Nas últimas semanas, Lula tem sido ainda pressionado a adotar um posicionamento mais firme com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Com um alinhamento histórico ao chavismo, Lula intermediou ao lado do Venezuela uma solução democrática para a realização de eleições presidenciais no país. Apesar das tentativas, o regime anunciou Maduro como reeleito sem comprovar o resultado eleitoral e em meio a contestações da oposição. O Brasil, até o momento, não se posicionou sobre o resultado das eleições e espera a devida comprovação para decidir se vai reconhecer ou não a reeleição do ditador venezuelano.
Recado para Zelensky
Durante o discurso, Lula também citou as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza e deu declarações interpretadas como um recado para Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia. "Aqueles que querem conversar conosco agora, poderiam ter conversado conosco antes de começar a guerra", afirmou o petista.
Zelensky tem dado declarações recorrentes do seu interesse em conversar com Lula sobre a guerra que enfrenta contra a Rússia desde 2022, quando Putin ordenou que suas tropas invadissem o território ucraniano. A Gazeta do Povo já revelou anteriormente que a embaixada do país vem tentando intermediar uma visita de seu chanceler ao Brasil, mas não tem resposta.
O presidente da Ucrânia também cobra do brasileiro um posicionamento claro sobre a guerra contra a Rússia. Zelensky já afirmou, inclusive, acreditar que Lula está a favor da Rússia na guerra e que o petista vive sob a "narrativa da União Soviética". O Itamaraty condenou a invasão russa à Ucrânia, mas tem evitado se pronunciar sobre o conflito, alegando a necessidade de busca pelo diálogo em busca da paz na região.
Nesta segunda, Lula afirmou que a busca do Brasil por protagonismo internacional impede o país de "entrar na guerra". “Por isso, é importante o Brasil não participar da guerra da Ucrânia e da Rússia, por isso é importante o Brasil dizer que nós queremos paz, não queremos guerra", afirmou.
“Por isso nós repudiamos o massacre contra mulheres e crianças na Palestina, da mesma forma que repudiamos o terrorismo do Hamas. Mas o Brasil prima por uma coisa: nós estamos em um continente que gosta de paz e nós queremos paz. Não queremos guerra, porque a guerra não traz benefício, só traz maléfico. Ela não constrói, ela só destrói", disse Lula.
Busca por liderança internacional
As declarações de Lula ocorreram durante cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, no Palácio Itamaraty, que forma novos diplomatas para atuar na pasta. Durante o evento, o petista também fez afirmações de que o Brasil precisa se posicionar como uma liderança mundial e que o país precisa investir na transição energética para ocupar posição de destaque no contexto mundial.
“Nunca o mundo viu o Brasil com tanta importância. Não é só por causa do agronegócio, não é só por causa do minério de ferro, não é só por causa da soja ou por causa da carne. É porque o Brasil, em se tratando de energia, é um país imbatível, basta que a gente seja grande, pense grande, acorde e transforme esse sonho em realidade", declarou Lula.
A questão ambiental tem sido outro ponto sensível neste mandato do petista. Desde que retornou ao Planalto em 2023, a pauta tem sido utilizada como narrativa de Lula em busca de protagonismo internacional, mas sua gestão tem cometido deslizes diante sua atuação na preservação ambiental.