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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou, nesta terça-feira (24), as “falsas narrativas” disseminadas pela “extrema direita” contra a democracia. Sem citar a ditadura venezuelana, o petista discursou durante o evento “Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo”, realizado à margem da Assembleia Geral da ONU.
O mandatário brasileiro afirmou que “recuar não vai apaziguar o ânimo violento de quem ataca a democracia para silenciar e retirar direitos”. O presidente do Chile, Gabriel Boric, fez um contraponto à fala de Lula e defendeu que é preciso condenar nos mesmo termos as ditaduras de esquerda.
Boric não reconheceu a reeleição do ditador Nicolás Maduro na Venezuela e acusou o regime chavista de fraudar o pleito. Já Lula adotou um tom mais brando sobre a crise política no país vizinho, sem reconhecer oficialmente a vitória de Maduro ou da oposição.
O governo brasileiro cobra a divulgação das atas eleitorais para se manifestar, gerando um impasse com a posição do Chile sobre o tema. O processo eleitoral na Venezuela foi marcado por repressão e violência contra opositores de Maduro.
“É inegável que a democracia vive hoje o seu momento mais crítico desde a Segunda Guerra Mundial. No Brasil e nos Estados Unidos, forças totalitárias promoveram ações violentas para desafiar o resultado das urnas”, disse o chefe do Executivo.
Lula afirmou que “o extremismo é um sintoma de uma crise mais profunda com múltiplas causas” e apontou que o desafio dos governantes é “compreender por que a democracia se tornou alvo fácil para a extrema direita e suas falsas narrativas”.
“A História nos ensinou que a democracia não pode ser imposta. Sua construção é própria de cada povo e de cada país”, defendeu o presidente brasileiro. Já Boric apontou que as “forças progressistas” não podem adotar dois pesos e duas medidas diante de violações de direitos praticadas por aliados ideológicos.
“Violação de direitos humanos não podem ser julgadas conforme a cor do ditador de turno. Seja [Benjamin] Netanyahu em Israel ou Maduro na Venezuela, [Daniel] Ortega na Nicarágua ou [Vladimir] Putin na Rússia, quer se autodefinam como esquerda ou direita, o que sejam", disse Boric.
“Nós, progressistas, precisamos ser capazes de defender princípios. Acho que às vezes fracassamos porque não usamos a mesma medida para julgar aqueles que estão do nosso lado. Já aconteceu muitas vezes na América Latina, e nos prejudicou muito”, frisou o presidente chileno.
“Já conversei muito com Lula sobre isso, como a venezuelização da nossa política interna causou um prejuízo muito grande para as esquerdas”, concluiu.
Ao discursar, Lula disse que a “democracia liberal demonstrou-se insuficiente e frustrou as expectativas de milhões”. Segundo ele, é preciso fazer com que a democracia volte a ser percebida pela população como o “caminho mais eficaz para a conquista e efetivação de direitos”.
“Ela [a democracia] se tornou apenas um ritual que repetimos a cada 4 ou 5 anos. Um modelo que trabalha para o grande capital e abandona os trabalhadores à própria sorte não é democrático… Fartura para poucos e fome para muitos em pleno século XXI é a antessala para o totalitarismo”, afirmou o petista.
Lula diz que países estão sob ameaça sem regulação das redes sociais
O presidente brasileiro afirmou que a liberdade de expressão é um direito fundamental, mas tem limites. “A liberdade de expressão é um direito fundamental e um dos pilares centrais de uma democracia sadia, mas não é absoluta. Encontra seus limites na proteção dos direitos e liberdades de outros, e da própria ordem política”, disse.
Lula também citou que os países estão sob “constante ameaça” enquanto não forem “firmes na regulação das plataformas e do uso da inteligência artificial”. O presidente disse ainda que as pessoas que pregam o “extremismo negacionista” utilizam as redes sociais para disseminar “fake news, mentira e ódio”.