Membros do Conselho Nacional de Direitos Humanos ouviram Lula, nesta terça (17). Da esquerda para direita, os conselheiros Leonardo Pinho, Leandro Scalabrin (relator) e Ismael José Cesar e os advogados Valeska Martins e Cristiano Zanin.| Foto: Divulgação/CNDH

Representantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) colheram o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por cerca de duas horas, nesta terça-feira (17), em procedimento que investiga denúncia sobre suposta violação de direitos do petista.

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Lula está preso em sala especial na Polícia Federal, em Curitiba, desde abril de 2018, cumprindo pena pela condenação no caso do tríplex do Guarujá. O conselho é vinculado ao Ministério da Mulher, Família e Direito Humanos, sob a tutela da ministra Damares Alves. Mas qual o efeito prático disso?

A denúncia trata de suposta “seletividade e violação de direitos humanos do processo de direito à defesa e a um julgamento justo submetido ao ex-presidente Lula”, explicou o presidente do conselho, Leonardo Pinho.

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Diálogos vazados atribuídos a membros da Operação Lava Jato e ao ex-juiz Sergio Moro, que apontariam condutas irregulares da força-tarefa do Ministério Público, embasam a denúncia. As conversas foram publicadas pelo site The Intercept Brasil, em consórcio com Folha de São Paulo, Veja, UOL, El País e programa É da Coisa, da Rádio BandNews.

Como funciona a investigação

A denúncia no CNDH foi recebida em junho deste ano e aceita pelo plenário do conselho em julho. O conselheiro Leandro Scalabrin foi escolhido relator do caso e participou da oitiva desta terça-feira.

A primeira pessoa a ser ouvida em procedimentos do gênero é a suposta vítima, no caso o ex-presidente. O jornalista Glenn Greenwald, editor-chefe do Intercept, deve ser o próximo. Moro e Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato também devem ser convidados pelo conselho para prestar esclarecimentos. Os envolvidos no caso não são obrigados a participar das oitivas.

Além disso, o órgão pode solicitar documentos e informações de tribunais e da defesa da vítima. A expectativa é ter o relatório pronto até o final deste ano. Depois disso, ele é submetido ao plenário do conselho.

E o que pode acontecer

Se chegar a conclusão que Lula não teve direito à defesa ou a julgamento justo, o conselho pode emitir recomendações e inclusive pedir a anulação desse processo. As recomendações podem ser feitas a órgãos brasileiros e também internacionais, como a ONU e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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Mesmo que recomende a anulação da condenação, por exemplo, isso terá mais efeito simbólico do que prático. A Justiça Federal ou mesmo o Estado brasileiro não são obrigados a seguir qualquer apontamento da comissão. Ainda assim, a defesa de Lula insiste no peso dessa investigação.

Em julho de 2016, a defesa apresentou ao Comitê de Direitos Humanos da ONU uma denúncia sobre a situação do ex-presidente, relatando “grosseiras violações ao direitos fundamentais do ex-presidente”, afirma Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente, que promete fazer nova representação no comitê da ONU.

Na nova petição, segundo Valeska Martins, também advogada de Lula, serão apresentadas “provas inéditas, que confirmam todas as nossas afirmações, desde o comunicado inicial de junho de 2016”. Entre as provas devem ser incluídas as mensagens publicadas pelo The Intercept.

Entre os recursos interpostos pela defesa, o foco está no julgamento de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, diz Zanin. O advogado acredita que o habeas corpus baseado na exceção de suspeição de Moro possa ser julgado “num futuro próximo”.

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O que Lula falou ao Conselho de Direitos Humanos

Segundo os conselheiros que estiveram com o ex-presidente, ele comentou sobre a condução coercitiva, o fato de não poder exercer seus direitos políticos, como não ter votado nas últimas eleições e não ter a candidatura autorizada. Também teria falado sobre a falta de paridade e imparcialidade no processo de julgamento.

Quem são os conselheiros que ouviram o petista 

O Conselho Nacional de Direitos Humanos é formado igualitariamente por membros de entidades da sociedade civil e do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Os conselheiros que ouviram o ex-presidente ocupam os cargos na gestão 2018-2020.

O relator Leandro Scalabrin é representante da Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB). Leonardo Pinho, representante da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (Unisol), é presidente do conselho. Já o conselheiro Ismael José Cesar, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), também esteve na comitiva que ouviu Lula.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]