A participação do Brasil na terceira cúpula entre a União Europeia e a Celac, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, terminou na manhã desta quarta (19) com duas sinalizações a temas tidos importantes pelo governo do país: o avanço do acordo comercial com o Mercosul e o Fundo Amazônia.
Em entrevista coletiva pouco antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai enviar nas próximas semanas uma contraproposta do Mercosul aos europeus sobre as novas exigências feitas recentemente para concluir o acordo comercial de livre-comércio entre os dois blocos que se arrasta desde 2019.
“Nós elaboramos a resposta brasileira, está sendo discutida e em duas ou três semanas entregaremos a proposta à União Europeia. Pela primeira vez estou otimista de que concluiremos este acordo ainda este ano, e seria muito bom se pudéssemos concluir este acordo durante a presidência da Espanha”, disse em referência à presidência rotativa do bloco pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que tem se mostrado favorável à concretização do acordo.
Lula disse que está otimista na aceitação da contraproposta pela União Europeia, e que um dos itens é a reformulação da política climática brasileira, mas sem revelar detalhes do que deve ser alterado. Os europeus propuseram anexar um apêndice ao acordo para demonstrar compromissos com o desmatamento e outras medidas de sustentabilidade aos países do bloco sul-americano.
Outro ponto citado por Lula às novas restrições dos europeus foi no item de compras governamentais, em que o bloco pede uma preferência aos produtos dos países parceiros. O presidente reafirmou ser contrário a esta exigência, dizendo que afetaria diretamente o desenvolvimento industrial do país.
“Nós não abrimos mão das compras governamentais, porque são instrumento de desenvolvimento interno. Por que um país com o tamanho do Brasil vai abrir mão? A França e a Alemanha, por exemplo, sabem que isso é uma questão de soberania. Por que não pode ser importante para nós? Temos que aprender que em negociação a gente não ganha tudo o que quer, mas também não cede tudo. Eu estou disposto e o Mercosul também”, disparou.
Ainda na terça (18), Lula confirmou que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia não seria fechado durante a cúpula, já que a carta com a contraproposta aos europeus ainda não estava pronta e o evento era específico para discutir as relações com a Celac. Uma nova reunião para apresentar os pontos divergentes será marcada para agosto entre os representantes do bloco.
Investimento no Fundo Amazônia
Ainda durante a entrevista coletiva desta manhã, Lula comentou sobre a intenção da União Europeia de oferecer “prontamente US$ 100 bilhões por ano para o financiamento climático e para apoiar países em desenvolvimento e dobrar o financiamento para adaptação até 2025”, disse um comunicado conjunto emitido na terça (18) pelos países participantes da cúpula.
“Em agosto, teremos pela primeira vez em 45 anos uma reunião com todos os países amazônicos para discutir uma estratégia em defesa do território amazônico, levando em conta que na Amazônia da América do Sul tem 50 milhões de seres humanos que precisam de qualidade de vida”, disse ao repetir a promessa de combater o desmatamento, além de afirmar que o Brasil vai incentivar a bioeconomia.
Na terça (18), a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, afirmou a intenção de também contribuir com o Fundo Amazônia, mas sem revelar valores. Ela disse que vai tentar aprovar a doação no orçamento dinamarquês.
Durante os dois dias de cúpula, Lula participou de pelo menos uma dezena de reuniões bilaterais com os países dos dois continentes, em que discutiu temas como relações comerciais, proteção ambiental e uma mudança de postura com relação à ditadura da Venezuela – assinou com outros líderes uma carta que pede eleições justas no país latino.
Segundo o presidente, os europeus se mostraram interessados em investir na América Latina. “Foi uma reunião extremamente exitosa. A participação de 60 países demonstrou de forma inequívoca o interesse da União Europeia de voltar seus olhos para a América Latina”, afirmou.
O presidente também confirmou que fará uma viagem oficial à Alemanha em dezembro, após convite do chanceler Olaf Scholz. A visita deve ser logo após a COP28 dos Emirados Árabes Unidos, marcada para o final de novembro.
Articulação política
Durante a coletiva antes de embarcar de volta para o Brasil, Lula comentou sobre a articulação política do governo, que seguiu em andamento mesmo durante sua viagem à Bélgica. Nesta semana o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, teve reuniões com deputados de partidos do centrão, que está tentando atrair para a base governista – André Fufuca (PP-MA), líder do partido, e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).
O presidente disse que fará reuniões ao chegar no Brasil para traçar um “acordo maduro” para conseguir aprovar projetos de interesse do governo no Congresso com mais tranquilidade.
"Quem discute ministro é o presidente da República. Não é o partido que pede ministério. É o presidente da República que oferece", completou.
Há, ainda, a expectativa de que ele se encontre com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nesta semana. Lula pretende, também, se reunir com líderes partidários na volta do recesso parlamentar em agosto.
Ainda nesta quarta (19), Lula terá uma reunião com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, durante a escala técnica que terá de fazer no país atlântico durante a viagem de volta ao Brasil.
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