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Mesmo tendo dificuldades na articulação política com o Congresso e um ministro alvo das autoridades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não pretende fazer uma reforma ministerial tão cedo e acabou contrariando aliados.
Ele afirmou duas vezes na semana passada que está “feliz” com seus ministros – mesmo o indiciado Juscelino Filho, das Comunicações, pela Polícia Federal – e que não vê necessidade de mexer nas peças do tabuleiro da Esplanada neste momento.
A afirmação ocorreu dias depois do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), dizer que há um “problema” com ministros que não realizam. A crítica foi em relação principalmente aos partidos que os indicaram e que não entregam os votos suficientes no Congresso, como o União Brasil (de Juscelino), o PP (de André Fufuca, do Esporte) e o Republicanos (de Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos).
Neste final de semana, o ministro Márcio França, do Empreendedorismo, endureceu o discurso e afirmou que o MDB é atualmente o “adversário principal” do governo Lula, mesmo ocupando três ministérios na Esplanada. O principal deles, o do Planejamento e Orçamento, está sob Simone Tebet, que concorreu à presidência em 2022 e apoiou o petista no segundo turno em troca de espaço no governo.
Em entrevista à rádio Meio na última sexta (21), em Teresina (PI), Lula disse que está satisfeito com seus ministros e que não vê necessidade de fazer uma reforma ministerial neste momento.
“Não vejo nenhuma necessidade de fazer reforma ministerial. Estou satisfeito com meus ministros. Você sabe que só tem o Dom Pedro II e o Getúlio Vargas com mais experiência de presidir o Brasil do que eu? Então, com a experiência que eu tenho, eu não preciso fazer reforma”, disse.
Apesar de negar trocas neste momento, ele deixou em aberto que pode mexer na Esplanada no futuro. “A hora que precisar, eu vou mudar as pessoas. Mas, veja, eu estou com um governo muito bom. Eu não vejo necessidade agora, mas o presidente da República tem o poder de tirar e pôr a hora que ele quiser”, pontuou.
Na semana passada, Lula defendeu Juscelino Filho, que foi indiciado pela Polícia Federal por destinar R$ 10 milhões em emendas parlamentares para sua base eleitoral no Maranhão, onde a investigação aponta que a verba foi utilizada para pavimentação e recuperação de estradas que passam por suas propriedades.
“Você poderia me perguntar ‘mas tem um problema de indiciamento com o Juscelino?’. Deixa eu dizer uma coisa com muita sinceridade, tenho uma filosofia de vida que é a seguinte: para mim, todo cidadão é inocente até que provem o contrário”, ressaltou Lula.
Juscelino é do União Brasil, que integra a base mas não entrega todos os votos que o governo precisa nas votações. O partido é plural e reúne adversários de Lula, como o senador Sergio Moro, ex-juiz que o condenou à prisão em 2017.
“Reforma ministerial é um critério absolutamente do presidente, que passa por execução daquele ministério e passa, evidentemente, pelas questões da política. Se eu botei alguém lá para representar um grupamento e o grupamento não se sente representado, para mim é um problema. Se eu botei alguém lá que representa o grupamento, mas não realiza nada, é o mesmo problema”, disse Jaques Wagner no começo do mês ao jornal O Globo ao comentar sobre a possibilidade de uma reforma ministerial.
Já Márcio França justifica a desconfiança com o MDB por se unir à oposição ao governo Lula na eleição municipal de São Paulo neste ano. O pleito terá o atual prefeito Ricardo Nunes concorrendo à reeleição com o coronel Mello Araújo como vice – o militar foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para compor a aliança de centro-direita no maior colégio eleitoral do país.
“Hoje, por exemplo, o MDB é o adversário principal [do governo]. Tem o candidato que teoricamente representa o bolsonarismo na capital em São Paulo. O MDB de São Paulo também controla o MDB nacional”, disse França ao jornal O Globo em entrevista publicada neste domingo (23).
França ainda reconheceu que há uma dificuldade em ter uma base mais homogênea, mas que há pouco a se fazer principalmente por conta do aumento das emendas parlamentares. Isso é alvo de críticas constantes dos aliados mais próximos.
“O governo permitiu a desculpa que eles [parlamentares] queriam para poder votar a favor. Se eu não faço parte do governo, voto contra. Agora, se faço parte do governo, pelo menos um pouco eu voto a favor. Hoje, com esse número de padrão e valores de emendas, ter ministério ou não passou a ser um pouco secundário. O valor expressivo das emendas é muito mais decisivo para o efeito de ter rapidez e votação”, pontuou.