O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que tem “convicção” de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados teriam sido responsáveis pelos atos de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. A afirmação foi dada em uma entrevista publicada no jornal espanhol El País nesta quinta (27) sem apresentar qualquer prova que comprove a alegação.
Lula disse que esperava uma tentativa de golpe desde o dia da posse, em 1º de janeiro, e que pode não ter ocorrido na ocasião por ter “muita gente”. Na quarta (26), Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal e descartou qualquer relação com os atos e que não ter sido reeleito em 2022 é “página virada”.
“Não tenho dúvidas de que ele tentou dar um golpe. Isso ia acontecer desde o primeiro dia da minha posse, mas como era muita gente, esperei uma semana. Eu vi tudo pela televisão, eles assaltaram o Palácio do Planalto, houve descaso de quem estava assistindo e entraram no Congresso Nacional, no STF e no Palácio. Agora tem gente na cadeia. Procuramos também quem financiou, quem pagou, por exemplo, os ônibus em que vieram. Agora o secretário de Segurança de Brasília está preso. Temos a convicção de que tudo foi organizado por Bolsonaro e sua equipe”, disse.
Lula alegou que a desconfiança leva em consideração os processos contra o ex-presidente que ainda tramitam na Justiça e a atuação do governo na condução da pandemia da Covid-19. Ele ainda comentou as vaias e protestos que foi alvo de deputados oposicionistas durante o discurso na Assembleia da República em Portugal, na terça (25), e de membros da comunidade ucraniana no país.
Para o presidente, há uma crise envolvendo a direita não apenas no Brasil, mas “também existe na Espanha, em Portugal, na França, na Alemanha”. “A Espanha sabe o que é autoritarismo. Em Portugal havia apenas oito pessoas fazendo barulho naquele dia”, completou. Apesar de alegar que apenas oito pessoas fizeram “barulho” naquele dia, Lula não teve o discurso aplaudido por um quantitativo maior de parlamentares, segundo mostraram imagens da transmissão da Assembleia da República.
Do lado de fora da Assembleia, uma multidão de pessoas se juntou a deputados do partido Chega para protestar contra a presença de Lula em Portugal, com cartazes expressando frases como “chega de corrupção” e “lugar de ladrão é na prisão”, além de bandeiras da Ucrânia.
O presidente também comentou que não pensa em reeleição, como já anunciou seu par dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta semana. “Não posso pensar nisso agora. Faz apenas quatro meses desde que comecei meu mandato”, completou.
Entraves ambientais ao comércio com a UE
Durante a visita à Espanha nesta terça (25) e quarta (26), Lula disse que espera que a União Europeia destrave as pendências que ainda pairam sobre o acordo com o Mercosul com a presidência do presidente espanhol Pedro Sánchez no bloco, no segundo semestre. Sánchez confirmou que as conversas podem avançar.
No entanto, o Parlamento Europeu aprovou recentemente uma norma que proíbe a venda de produtos oriundos de áreas de desmatamento. Em contrapartida, o senador brasileiro Zequinha Marinho (PL-PA) protocolou um projeto de lei que cria uma espécie de “reciprocidade” à determinação imposta pelos países europeus.
Lula foi questionado sobre a legislação, e disse que o maior entrave atual é com a França que “não quer fazer concessões na agricultura”. Mas, evitou polemizar a decisão, afirmando apenas que tem um compromisso com a proibição de desmatamento e queimadas.
“Nenhuma árvore deve ser derrubada no Brasil porque não é necessário: o Brasil já é o maior produtor de proteína animal. É importante melhorar nossa produção agrícola para alimentar nosso povo e os povos de outros países, mas, acima de tudo, cuidar do meio ambiente, das terras indígenas. É uma obrigação moral, ética, política e ambiental”, disse na entrevista.
A lei antidesmatamento aprovada pelo Parlamento Europeu ainda precisa ser chancelada pelos parlamentos dos estados-membros antes de entrar em vigor.
Por fim, Lula comentou sobre a dificuldade de encontrar uma saída para a guerra da Ucrânia e enfatizou que condena a Rússia, que “não tem o direito de invadir o território ucraniano, estão errados”. A opinião sobre o conflito no Leste europeu vem sendo alterada nas últimas semanas após o presidente afirmar, na viagem à China, que os dois países teriam responsabilidade.
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