O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os países mais desenvolvidos do mundo e instituições multilaterais durante um discurso na cúpula sobre o Novo Pacto Financeiro Global, na manhã desta sexta (23), em Paris.
Lula foi convidado do presidente francês, Emmanuel Macron, para o evento que busca soluções para o financiamento de questões climáticas e de ajuda aos países mais necessitados. Além do mandatário brasileiro, participaram ainda mais de 100 chefes de Estado e de governo.
O discurso de Lula começou falando sobre as questões ambientais no Brasil, como a proteção à Amazônia, a matriz energética do país e a realização da COP30 em Belém, em 2025, e seguiu para uma série de críticas ao que ele classificou como uma falta de se tocar no tema “desigualdade” em uma reunião como esta.
“Junto da questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que em uma reunião entre presidentes de países importantes a palavra ‘desigualdade’ não apareça. Nós temos um mundo cada vez mais desigual e, cada vez mais, a riqueza está concentrada nas mãos de menos gente”, disse.
Lula voltou a cobrar o cumprimento dos protocolos para o clima de Kyoto, Copenhague e Paris pelos países ricos, que ele questionou se realmente implantaram as medidas acertadas nas reuniões, ao contrário do Brasil que estaria cumprindo a sua parte. “Não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir. Se cada um de nós sair de uma COP e voltar para aprovar as coisas dentro do nosso estado nacional, nós não iremos aprovar”, disse.
O presidente ainda criticou o funcionamento de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial que, segundo ele, não representam hoje a mesma realidade de quando foram criados, na metade do século passado. Ao FMI, fez um tom mais duro por conta da situação da Argentina, que hoje enfrenta dificuldades em cumprir as obrigações contraídas com a instituição, e defendeu uma reforma na direção das instituições financeiras.
E ainda voltou a defender a criação de moedas específicas para transações comerciais regionais em detrimento do dólar. “Eu não sei por que o Brasil e a Argentina ou China tem que fazer comércio em dólar, por que a gente não pode fazer nas nossas moedas”, afirmou.
Lula, perante a plateia de dezenas de chefes de Estado e de governo e do próprio Macron, criticou a dificuldade de concretizar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. “Os acordos comerciais têm que ser mais justos. Eu estou ‘doido’ para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível a carta adicional que foi feita não permitir que se faça o acordo. Nós vamos fazer e mandar a resposta, mas nós precisamos discutir. Não é possível que nós temos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico”, disse criticando o bloco europeu.
Lula ainda se comprometeu em cumprir a promessa de campanha de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 e defendeu o NDB, o Banco dos Brics presidido por Dilma Rousseff (PT), como um mecanismo internacional para o financiamento de ações em países em desenvolvimento. Por fim, disse a Macron que vai “brigar muito” ao longo da gestão na presidência do país pelos próximos três anos.
Lula está na Europa desde a manhã de terça (20) participando de reuniões bilaterais na Itália e na França. Entre os compromissos, o presidente brasileiro se encontrou com o Papa Francisco, em que discutiu questões como a guerra da Rússia contra a Ucrânia; o presidente italiano Sergio Mattarella e a primeira-ministra Giorgia Meloni, em que tratou de temas variados, entre eles o acordo com a União Europeia; e com o ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Ainda nesta sexta (23), o presidente brasileiro terá mais reuniões bilaterais com autoridades francesas, entre eles um almoço com Macron; um encontro com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; com o presidente do Congo, Denis Sassou-Nguesso; e, à noite, será homenageado com um jantar oferecido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman al Saud.
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