Ataques de Lula a Trump ocorreram em meio à viagem ao Vietnã, onde pregou o “multilateralismo” mundial.| Foto: Ricardo Stuckert/Secom
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cutucou o presidente norte-americano Donald Trump nesta sexta (28) pelo que seriam “ações unilaterais” que ameaçam o multilateralismo e a “governança global” do comércio. O ataque, sem mencioná-lo diretamente, ocorreu durante uma das agendas da viagem ao Vietnã, onde busca abrir novos mercados para o Brasil.

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“Ações unilaterais agora põem em risco o multilateralismo. A governança global em matéria de comércio, saúde e meio ambiente está sob sérias ameaças”, disse Lula em um curto pronunciamento após uma reunião com o presidente vietnamita Luong Cuong, na capital Hanói.

O ataque a Trump ocorre em meio à imposição de uma taxa de 25% do governo dos Estados Unidos ao aço brasileiro e a produtos de outros países.

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No mesmo discurso, ele classificou a América Latina e a Ásia como “expoentes da construção de uma ordem multipolar” e que “devem evitar uma nova divisão do globo em zonas de influência”.

“Ainda que de forma distintas, Vietnã e Brasil sofreram os efeitos da Guerra Fria (disputa de influência no mundo entre Estados Unidos e União Soviética entre 1974 e 1991) e sabem que o melhor caminho é o do não-alinhamento”, completou.

Ainda durante o discurso, Lula criticou as guerras em Gaza e na Ucrânia, afirmando que a primeira é “o maior símbolo do abandono do humanismo que cultivamos”, com uma “matança indiscriminada de civis”. Já com relação à segunda, disse que o Brasil “sempre defendeu a via do diálogo” e que acolheu “todos os esforços nessa direção”.

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O primeiro dia efetivo de visita ao Vietnã foi marcado por negociações e afagos ao país e o reforço da Parceria Estratégica firmada em novembro do ano passado, que agora se materializa com um plano de ação abrangente para o período de 2025 a 2030. Com um comércio bilateral que já ultrapassa US$ 8 bilhões, Lula destacou que o Brasil exporta mais para o Vietnã do que para países europeus como Portugal, Reino Unido e França.

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“Por isso, meu governo tem interesse em reconhecer o Vietnã como economia de mercado. Essas e outras medidas vão nos permitir ampliar os fluxos de comércio e de investimento entre nossos países”, afirmou Lula. Um apanhado dos atos assinados entre os dois países deve ser divulgado neste sábado (29) em uma declaração conjunta.

O presidente brasileiro ainda demonstrou interesse em ampliar as exportações brasileiras de carne – principalmente a bovina – e de bens de maior valor agregado, citando como exemplo a possibilidade de vender aeronaves da Embraer à Vietnam Airlines.

Lula também destacou que trabalhará para estabelecer um acordo “equilibrado” entre o Mercosul – que o Brasil para a presidir em julho – e o Vietnã, para que “beneficie os dois lados”.

Ele ainda ressaltou que a cooperação em educação, ciência e tecnologia será essencial para o futuro dos dois países nas áreas de semicondutores, Inteligência Artificial, tecnologias digitais, biotecnologia e energias renováveis.

Já na esfera ambiental, Lula convidou o Vietnã a participar da Cúpula do Brics, que ocorrerá no Rio de Janeiro, e da COP30, em Belém, reforçando o compromisso do Brasil com a agenda climática.

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“Vietnã e Brasil são os dois maiores produtores mundiais de café e ambos tivemos safras recentes afetadas pela mudança do clima. Estamos determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a resiliência da cultura do café”, citou. O fruto teve uma disparada de preços nos últimos 12 meses segundo o IBGE.

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Ainda nesta sexta (28), Lula tinha encontros marcados com o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Tô Lâm; com o presidente da Assembleia Nacional, Tràn Thanh Mân; e com o primeiro-ministro Pham Minh Chinh.

A expectativa é de que a comitiva presidencial – composta também por ministros e os presidentes do Congresso – retorne ao Brasil neste sábado (29).