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Cúpula do Brics

Lula defende Brics frente às nações ricas e evita críticas diretas a Putin

Lula
Presidente discursou na cúpula por videoconferência e defendeu uso de moedas locais em vez de o dólar em transações comerciais. (Foto: reprodução/Canal Gov)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na cúpula do Brics na manhã desta quarta (23), por videoconferência, e defendeu a atuação do grupo em uma economia mais multipolar no mundo, com um estreitamento das relações do chamado “Sul global”, criticou as atuais guerras em vigor no mundo, como em Gaza e na Ucrânia, mas evitou fazer críticas diretas ao líder russo Vladimir Putin, anfitrião do encontro.

O pronunciamento lido ocorreu por volta das 7h30 (horário de Brasília) durante a reunião da tarde da cúpula, que é realizada na cidade russa de Kazan, e que Lula não pode participar presencialmente por causa do acidente doméstico sofrido no último final de semana. Havia a expectativa de que ocorreria durante a madrugada, por conta do fuso horário, mas foi adiada para a manhã

“Na presidência brasileira do Brics [em 2025], queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países. [...] O Brics foi responsável por parcela significativa do crescimento mundial nas últimas décadas”, disse Lula.

Lula ainda criticou o que seria uma espécie de “plano Marshall às avessas”, em que as economias emergentes e em desenvolvimento “financiam o mundo desenvolvido”, através dos “fluxos financeiros [que] continuam seguindo para as nações ricas”.

Foi uma alfinetada direta ao mercado financeiro que, em momentos de crise, correm para comprar dólares e títulos da dívida principalmente norte-americana, em que qualquer solavanco – como vem enfrentando nos últimos anos – afetam as economias principalmente dos países em desenvolvimento.

“As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica. A atuação do conselho empresarial contribuiu para ampliar o comércio entre nós”, pontuou lembrando que as exportações brasileiras para os países do bloco cresceram 12 vezes entre 2013 e 2023.

Financiamentos locais

O presidente ainda afirmou que os bancos nacionais de desenvolvimento dos países do Brics – sem citar diretamente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que ele defende que volte a atuar em financiamentos estrangeiros – “vão estabelecer linhas de crédito em moedas locais que reduzirão os custos de transação de pequenas e médias empresas”.

No primeiro dia da cúpula, na terça (22), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que atualmente preside o NDB – conhecido como “Banco do Brics” – também defendeu o uso das moedas locais dos países ou mesmo de uma própria como alternativa ao dólar nas transações comerciais. Lula seguiu na mesma linha durante o pronunciamento, ressaltando que não seria uma substituição das moedas nacionais.

“É preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, pontuou.

O presidente também defendeu as políticas de financiamento aos países em desenvolvimento pelo NDB, afirmando que instituições criadas após a Grande Depressão de 1929, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird), “continuam falhando”.

“Em vez de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NDB financia projetos alinhados às prioridades nacionais. Em vez de aprofundar disparidades, sua governança se assenta na igualdade do voto”, pontuou.

Ele ainda ressaltou que a presidência brasileira do Brics em 2025 terá como lema “fortalecer a cooperação do Sul global para uma governança mais inclusiva e sustentável”.

Crítica às guerras, mas não a Putin

Entre outros temas tratados por Lula no pronunciamento, as duas principais guerras em andamento no mundo – e que comumente estão em seu discurso – também foram citadas na participação na cúpula do Brics.

Lula afirmou que tanto o conflito entre Israel contra o Hamas em Gaza e agora contra o Hezbollah no Líbano, como o da Rússia contra a Ucrânia, tem potencial para se tornarem globais. No entanto, ele evitou endereçar o conflito no Leste europeu a Putin, a quem sempre evitou críticas pela guerra.

“Como disse o presidente Erdogan [da Turquia] na Assembleia Geral da ONU: Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia”, disparou sem citar diretamente Israel e Putin.

No caso do conflito no Oriente Médio, Lula adotou um tom mais ameno do que em discursos que faz no Brasil, em que é sempre enfático em dizer que Israel faz um genocídio em Gaza. A fala, entre outras, já levou a notas de repúdio da comunidade israelense no Brasil e o levou a ser considerado “persona non grata” em Israel.

Ainda durante o pronunciamento, Lula falou sobre a questão climática, de que os países ricos deveriam “ir além dos US$ 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos”, defendeu que as nações desenvolvidas façam sua parte para limitar o aumento da temperatura global em 1,5°; convidou os demais participantes do bloco a participarem da Aliança Global contra a Fome, lançada pela presidência brasileira do G20 neste ano; criticou o que seria uma espécie de “apartheid” para acesso a vacinas e medicamentos e desenvolvimento da inteligência artificial “que caminha para se tornar privilégio de poucos”; e defendeu o fortalecimento tecnológico dos países em desenvolvimento “e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes em que as vozes dos governos preponderem sobre interesses privados”.

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