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Agenda Internacional

Lula deve atacar Bolsonaro na China para atrair investimentos de Xi Jinping

Presidente Lula embarca para a China no final de março (Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai à China no fim de março e pretende usar a viagem para marcar posição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A China é o principal parceiro comercial do Brasil, mas as relações entre os dois países ficaram estremecidas diante das declarações do ex-presidente e de outros integrantes do governo nos últimos anos.

A viagem de Lula terá início em 28 de março e deve durar quatro dias. Depois do encontro com Joe Biden, nos Estados Unidos, a agenda com o presidente chinês, Xi Jinping, vem sendo tratada como uma das prioridades do governo para esse semestre.

Em 2021, Bolsonaro chegou a sugerir que a pandemia seria parte de uma "guerra biológica" chinesa e que "os militares sabem disso". Logo depois, o então presidente afirmou que o Brasil é "muito importante" para a China e negou ter citado o país asiático em declaração sobre a origem do novo coronavírus. O recuo ocorreu depois que os chineses travaram a entrega de insumos para a produção de vacinas para a Covid-19.

Agora, integrantes do governo Lula avaliam que as críticas feitas pelo governo anterior podem ser exploradas para marcar uma mudança radical de posição na relação do Brasil com os chineses. No cálculo dos aliados, o petista poderia conseguir atrair mais investimentos do governo chinês através dessa aproximação.

"Tivemos uma reunião preparatória [sobre a viagem à China] com vários ministérios. A meta é atrair mais investimentos. Nós temos muitas possibilidades: energias renováveis, hidrogênio verde, infraestrutura, complexo da saúde, área aeroespacial, educação, ciência e tecnologia, agricultura. É possível avançar ainda muito mais", explicou Alckmin.

Ainda nessa estratégia, Lula indicou a ex-presidente Dilma Rousseff para presidir o Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics (NBD). A instituição conhecida como Banco do Brics tem sede em Xangai e Dilma é apontada como uma pessoa que tem um bom trânsito com Xi Jinping.

Lula vai tentar atrair investimento da China para o Fundo Amazônia 

Em outra frente, Lula também pretende atrair a China para o Fundo Amazônia. Líderes do governo acreditam que o governo chinês pode ser atraído depois que os Estados Unidos confirmaram que também irão integrar o fundo. A expectativa é de que a Casa Branca anuncie nas próximas semanas o valor que será repassado pelos EUA.

Já doam ao Fundo Amazônia Alemanha e Noruega, além da Petrobras. Espanha e países do G7, o grupo de sete países mais ricos do mundo, como a França, também estudam entrar.

Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já indicou que o Brasil quer abordar temas que vão do aumento na produção conjunta de satélites a estratégias para proteção ambiental e alívio à pobreza, além de trocas comerciais. O governo pretende ainda pedir à China apoio mais explícito à mudança do status do Brasil para membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

De acordo com o Itamaraty, o comércio entre Brasil e China fechou 2022 com recordes de exportações e importações. As vendas para a China chegaram a US$ 89,7 bilhões, o terceiro recorde anual consecutivo, enquanto as compras vindas do gigante asiático atingiram US$ 60,7 bilhões, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China.

Lula vai insistir em "clube de paz" para solucionar guerra na Ucrânia  

Depois de encontrar resistências por parte dos Estados Unidos, Lula pretende encampar na China a criação de um "clube da paz" para solucionar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Diferentemente do governo norte-americano, que tem apoiado a Ucrânia no conflito, o governo de Xi Jinping é um dos principais parceiros do governo russo de Vladimir Putin.

Apesar disso, Lula disse recentemente que a China não está “se metendo na discussão” da guerra e acrescentou que a sua ida ao país asiático será para tratar de uma forma de participar na resolução do conflito. “Temos que ter gente com disposição de negociar, e não tem. A China não se mete nessa discussão, os Estados Unidos e a Europa estão fornecendo armas para a Ucrânia”, disse Lula em entrevista à CNN Brasil.

Em setembro do ano passado, no entanto, Xi Jinping disse que “a China estava pronta para trabalhar com a Rússia para estender um forte apoio mútuo em questões relativas aos seus respectivos interesses centrais”. A declaração ocorreu durante um encontro com Putin, que elogiou a “posição equilibrada” da China na guerra da Ucrânia. 

EUA suspeitam que a China vai fornecer armas à Rússia 

Nesta semana, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que os Estados Unidos acreditam que a China avalia fornecer armas à Rússia para ajudá-la na guerra na Ucrânia. Até agora, os EUA identificaram que Pequim só forneceu ajuda não militar aos russos.

"Com base nas informações que temos, (acreditamos) que eles estão considerando fornecer apoio letal", disse Blinken à CBS News, em uma entrevista que foi ao ar em 19 de fevereiro. O governo chinês nega as acusações do secretário norte-americano.

“Quem não para de fornecer armas para o campo de batalha são os Estados Unidos, não a China. Os Estados Unidos não estão qualificados para dar ordens à China”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin.

Em janeiro, Lula já havia indicado que o país asiático precisava "colocar a mão na massa" para buscar uma saída para o fim da invasão da Rússia na Ucrânia. "E aí eu acho que nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Eu, se for a China em março, como está previsto, quero conversar sobre isso com o presidente Xi Jinping. Está na hora de a China colocar a mão na massa", disse.

Contudo, para o Luciano Munõz, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), são remotas as possibilidades de governo chinês topar criar um "clube da paz" encampado pelo presidente brasileiro. Na sua avaliação, assim como os Estados Unidos, que não demonstraram interesse em integrar o clube da paz de Lula, a China conta seus interesses próprios com a guerra da Rússia.

"Não há no horizonte possibilidade de essa proposta surtir efeito prático no momento para a guerra. Existe uma resistência do governo dos EUA, que apoia a Ucrânia, em criar esse clube da paz. O mesmo deve ocorrer por parte da China que é próxima da Rússia", argumentou.

Na mesma linha, Gunther Rudizit, especialista em Segurança Internacional e Ásia e professor de Relações Internacionais da ESPM de São Paulo, afirma que a guerra na Ucrânia envolve interesses maiores e já conta com o envolvimento de outros líderes, de nações mais poderosas, nas discussões. "Muito difícil a China concordar [com o clube da paz]. Acredito que o papel de Xi Jinping [presidente da China] será de apenas ouvir a proposta de Lula. Tudo indica que o governo chinês pretende manter seu posicionamento atual em relação à guerra", completou.

Lula tem viagens internacionais programadas até setembro  

Além da viagem para a China em março, o Itamaraty já prepara uma agenda de viagens internacionais para Lula até meados de setembro. Já está acertada uma visita a Portugal em abril.

O presidente também deverá ser convidado a participar, e pretende ir, à Cúpula do G7, em maio, no Japão. Em julho, participa da Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em São Tomé e Príncipe. Também deverá voltar à Argentina, primeiro país que visitou neste novo mandato, para a Cúpula do Mercosul.

Em agosto, Lula participa da Cúpula do Brics, na África do Sul, e em setembro, do encontro do G20, em Nova Délhi, e da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.

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