O ex-embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero disparou contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que ele deveria se desculpar com o governo de Israel pela fala que comparou a ação do país contra o Hamas ao Holocausto nazista. O diplomata afirmou, ainda, que a reação israelense também foi desproporcional, mas que um erro não deve justificar o outro.
“O presidente deveria reconhecer que cometeu um erro e deveria, de fato, se desculpar. [...] A maneira como Israel reagiu e a forma como manifestou o desagrado ao Frederico Meyer [embaixador brasileiro em Tel Aviv] não é correta e foi excessiva. Mas, um erro não justifica o outro”, disse Ricupero em entrevista à GloboNews nesta terça (20).
Ricupero vê que o erro inicial que levou a toda essa crise foi de Lula ao fazer a declaração improvisada, “e se excedeu ao comparar o que está acontecendo em Gaza, por mais terrível que seja e é terrível, ao Holocausto nazista, é absolutamente sem nenhuma justificativa”.
O ex-embaixador também classificou a fala de Lula como uma “ofensa” não apenas às seis milhões de vítimas do Holocausto, mas a todos os judeus do mundo que convivem com esse fato na sua história. “E não apenas aos judeus, mas a todas as pessoas dotadas de uma consciência moral e histórica”, disparou.
“Eu creio que o presidente se deixou levar pela emoção de uma entrevista de imprensa informal, mas não há humilhação nenhuma em reconhecer o erro. E há muitas maneiras de se fazer uma retratação sem que isso represente uma humilhação pessoal”, completou Rubens Ricupero.
Apesar da recomendação, o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou à Gazeta do Povo que Lula não vai se retratar, tanto que chamou de volta ao país o embaixador Frederico Meyer e convocou o homólogo israelense no Brasil, Daniel Zonshine, a prestar esclarecimentos.
Ainda segundo o diplomata, a crise gerada por Lula tornou o Brasil ainda menos simpático com o povo israelense. Para ele, a diplomacia exercida pelo presidente tem algumas vantagens, como a abertura de portas que fez ao longo do primeiro ano do novo governo, mas também cheia de riscos por conta do tom pessoal que ele dá nas relações exteriores, em que se deixa levar pelo momento.
Ricupero lembrou, ainda, do episódio de 2014 em que o Brasil também opinou contra a reação israelense ao Hamas e foi chamado de “anão diplomático”. E, ainda, de uma fala de Lula no início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em que afirmou que o governo de Volodymyr Zelensky teria tanta culpa pela invasão quanto Vladimir Putin.
"Lula se excede, nesses casos ele não nos representa. [...] Tem havido deslizes que não são apenas verbais, porque eles denotam uma postura que não é totalmente imparcial", disse Ricupero lembrando que o Brasil é um país que não busca alinhamento direto com uma ou outra potência específica, mas sim em manter uma relação equilibrada com outros países.
A nova crise foi desencadeada por uma declaração do presidente que equiparou a ofensiva israelense à Faixa de Gaza com o Holocausto. “O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou Lula.
A fala de Lula gerou uma grande reação tanto do governo israelense, que o considerou uma “persona non grata”, como da oposição brasileira e de entidades ligadas à comunidade judaica. Um pedido de impeachment foi protocolado no Congresso e já conta com mais de 100 assinaturas, incluindo de parlamentares de partidos da base do governo.
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