O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está lutando para receber atenção e exercer protagonismo na COP 28, a cúpula mundial do clima que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, até o próximo dia 7. A cúpula deste ano mostra-se esvaziada pelas guerras em Israel e na Ucrânia, conflitos que estão consumindo os esforços diplomáticos das principais lideranças mundiais.
Estados Unidos e China não deram justificativas concretas para a ausência na cúpula, mas analistas avaliam que os esforços diplomáticos para lidar com os conflitos globais tiraram parte da atenção sobre o combate à mudança climática. Além disso, Joe Biden, dos EUA, e Xi Jinping da China, teriam preferido evitar as cobranças por serem as nações mais poluidoras do planeta.
Sem a presença de ambos e também do papa Francisco, que teve problemas de saúde, Lula identificou uma oportunidade de brilhar e se vender como liderança mundial na área da preservação ambiental. Sua estratégia foi aproveitar a ausência de Biden e Xi para criticar os líderes globais sem o risco de receber uma resposta indesejada. Ele criticou as lideranças globais por falta de comprometimento com acordos de combate à mudança climática.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já havia afirmado que a estratégia do Brasil seria ir à COP para “cobrar”. “Estamos indo para a COP não é para ser cobrados, nem para sermos subservientes. É para altivamente cobrarmos que medidas sejam tomadas, porque é isso o que o Brasil tem feito”, disse durante reunião na CPI das ONGs (Organizações Não Governamentais) no Senado.
Mas quem realmente se destacou e atraiu as manchetes dos principais órgãos de mídia do planeta com a estratégia de cobrança foram o rei Charles III, do Reino Unido, que antes de se tornar monarca tinha um longo histórico de defesa do meio ambiente, e o presidente da Índia, Narendra Modi.
Charles III cobrou "ações de transformação genuínas" dos líderes mundiais e citou incêndios no Canadá, enchentes na Índia, no Paquistão e em Bangladesh e secas no leste da África como exemplos de eventos alegadamente provocados pelas mudanças climáticas.
Já o presidente da Índia, Modi, optou por se retratar como a liderança do Sul Global (países em desenvolvimento) e cobrar diretamente os Estados Unidos e a União Europeia, que historicamente foram os maiores responsáveis pelos atuais níveis de poluição. Modi prometeu acelerar os esforços para diminuir a dependência do país mais populoso do mundo de combustíveis fósseis, acelerando a transição para a energia limpa.
O presidente da Índia e o líder Chinês, Xi, vêm competindo pelo posto de liderança dos países em desenvolvimento - corrida na qual Lula tem exercido papel coadjuvante.
Em seu favor, Lula conseguiu certo destaque ao discursar duas vezes, privilégio que a maioria dos outros líderes não tiveram. Isso porque o Brasil deve sediar no ano de 2025, em Belém, a COP 30. A formalização da escolha deve ser feita ao longo da atual COP 28.
O discurso ambientalista tem sido a principal aposta do presidente brasileiro Lula para se lançar ao mundo como um líder internacional. Em 2022, quando foi convidado para participar da COP 27, o petista abriu sua declaração no evento dizendo que o “Brasil voltou”, fazendo uma crítica ao seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não foi a todas as COPs durante seu mandato. No evento Lula fez promessas mas, neste ano, chega a Dubai sem muitas realizações efetivas.
De mãos vazias e enfrentando uma série de contradições inclusive dentro do próprio governo na área ambiental, o mandatário brasileiro vem perdendo terreno. Especialistas ainda avaliam que Lula foi para a COP em Dubai “derrotado” após não conseguir consenso entre seu governo e não cumprir os objetivos que prometeu na última conferência do clima, no Egito, em 2022.
Para cientista político e diretor de Projetos do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais, Marcelo Suano, o meio-ambiente pode ser o último suspiro para Lula conseguir um antigo desejo: o de ser um líder internacional relevante. “Ele já foi frustrado ao tentar intermediar conflitos ao longo de seus mandatos, ao se posicionar ao lado errado em conflitos bélicos e, agora, lhe resta o meio ambiente”, analisa.
Com contradições de Lula, Mia Mottley de Barbados é aposta para a COP
A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, tem sido chamada pela imprensa internacional de “porta-voz dos países do Sul” para assuntos relacionados à preservação do meio ambiente — posto que Lula também tenta ocupar. A presença dela em COPs tem chamado cada vez mais atenção. Mottley tem sido uma figura importante das políticas ambientais e pela cobrança por reformas em organismos mundiais.
Com discursos fortes e impactantes, a premiê tem como objetivo lutar por maior justiça climática e ajudar países menos desenvolvidos a conseguirem acesso mais facilitado a recursos fornecidos pelas principais instituições financeiras mundiais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mottley também tem investido em uma agenda para ajudar esses países a se livrarem das dívidas com esses organismos.
Na luta por resultados que envolvem as mudanças climáticas, a barbadiana se tornou uma grande aliada do presidente da França, Emmanuel Macron, que também tem sido uma importante voz das causas ambientais. Em junho, os dois promoveram um evento na França do qual Lula também participou. Chamado de cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, o encontro reuniu países europeus, caribenhos e da América Latina. O evento tinha como intuito criar um fundo para oferecer recursos que possibilitem aos países pobres enfrentarem os desafios das mudanças climáticas.
Na ocasião, os países discutiram um plano desenhado por Mottley, conhecido como Agenda Bridgetown e, ao fim da cúpula, o Fundo Monetário Internacional chegou ao consenso de que apoiaria um financiamento de emergência mais ágil, além da criação de sistemas de alerta precoce para desastres, seguros contra catástrofes e pausas no pagamento da dívida externa de países mais pobres. Mottley, inclusive, tem sido cotada para ocupar o posto de António Guterres como secretária-geral das Nações Unidas, que fica vaga em 2026.
As pautas da premiê de Barbados vão de encontro com as de Lula, mas o petista não possui o mesmo protagonismo que Mottley. Para Suano, contudo, as questões ambientais parecem ser apenas um segundo plano para o mandatário brasileiro. "Ele iniciou seu governo dizendo que o Brasil 'voltaria a ser o líder do meio ambiente', mas ele é extremamente contraditório. Lula não está preocupado com o meio ambiente e nem com a governança do país, ele está preocupado com a sua imagem", analisa o cientista político.
“A pretensão de Lula era ser o rei entre os mendigos, mas paulatinamente essa imagem foi decaindo à medida que foram se apresentando os erros, as falhas morais, as falas e posições contraditórias", pontua Suano. Para o especialista, houve um primeiro momento, durante os primeiros mandatos do petista, em que de fato ele era visto como um figura que poderia ser uma liderança mundial, mas uma série de fatores e erros cometidos pelo brasileiro, o fizeram perder essa posto.
Entre eles, analistas pontuaram à Gazeta do Povo que o passado de condenações de Lula também contribuíram para que ele perdesse o prestígio internacional ou a possibilidade de se posicionar como essa figura de liderança que ele ainda tenta construir.
Lula volta a repetir discurso e cobra países ricos por dinheiro para florestas
Lula discursou durante a COP 28 nesta sexta-feira (1º) e voltou a repetir velhos discursos mas, desta vez, sem risco de receber respostas dos líderes dos EUA e da China. O petista tem feito uma campanha nos últimos meses de cobrar os países ricos, principalmente China e Estados Unidos, para que invistam nos projetos de desenvolvimento e florestamento das nações em desenvolvimento.
"Não é que o Brasil precise de dinheiro. Não é que a Colômbia ou a Venezuela precisem de dinheiro. A mãe natureza precisa de dinheiro, precisa de financiamento, porque o desenvolvimento industrial a destruiu nos últimos 200 anos", disse Lula em coletiva em Dubai.
“O governo está indo derrotado para a COP, porque ele não conseguiu sequer aprovar a lei de Mercado de Carbono, que era um dos objetivos do governo. Além disso, o governo me parece rachado, já que a Marina Silva e seu chefe [o presidente Lula] sequer se entendem”, avalia o ex-secretário de Clima do Ministério do Meio Ambiente da gestão Bolsonaro Eduardo Lunardelli Novaes.
O mandatário brasileiro, assim como uma ala dos ambientalistas, culpam os países em desenvolvimento pelos prejuízos ambientais que o mundo tem enfrentado. “Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática”, disse Lula em seu pronunciamento de abertura na COP nesta sexta.
“É inaceitável que a promessa de 100 bilhões de dólares por ano assumida pelos países desenvolvidos não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a 2 trilhões e 200 bilhões de dólares”, cobrou o brasileiro.
Para Ludarnelli, contudo, o discurso de Lula pode não ter efeito desejado já que o petista não está em um bom momento com os países do Ocidente. Além de não ter concluído o projeto de lei que previa a regulamentação do mercado de carbono, alguns posicionamentos de Lula ao longo do ano o colocaram em uma espécie de “saia justa” com os países da União Europeia e os Estados Unidos.
Parte disso ocorreu porque o brasileiro fez acenos à Rússia diante da invasão do Kremlin à Ucrânia que já dura quase dois anos, além dos movimentos de apoio a ditaduras como a da Venezuela, Cuba e Nicarágua. De acordo com o ex-secretário da gestão Bolsonaro, o governo tentou correr com a aprovação do projeto em uma tentativa de “agradar” os países ocidentais, mas não obteve sucesso.
“O governo Lula perdeu completamente a credibilidade perante o Ocidente, aqui nós estamos falando dos Estados Unidos, Europa e Japão que a gente também pode chamar de Ocidente. Então o objetivo dele era levar essa lei para a COP para fazer média com os países ricos. Praticamente todas as posturas que o Brasil vem adotando são praticamente contrárias às do ocidente. O governo já vai derrotado para a cúpula, porque o objetivo do governo era levar essa lei simples e não vai conseguir fazer isso”, pontua Lunardelli Novaes.
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