O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) voltou a fazer críticas ao mercado financeiro e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta quinta-feira (16), durante entrevista à CNN Brasil. Outros alvos das declarações de Lula foram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Operação Lava Jato, com menções indiretas ao senador Sergio Moro (União Brasil - PR).
Sobre a pauta econômica, o presidente da República disse que “não governa para o mercado” e que ele é “frágil”, pois tem reagido negativamente aos comentários frequentes do petista sobre temas como teto de gastos e autonomia do Banco Central.
Lula se referiu a Campos Neto como “aquele cidadão” e disse que a taxa de juros não pode ser o único instrumento para combater a inflação. Ao ser questionado sobre as críticas constantes ao presidente do BC e sobre os acenos de Campos Neto ao governo federal, ele disse que irá convidá-lo para conhecer localidades pobres do país e sinalizou que o diálogo da atual administração com a autoridade monetária continuará a ser feito por meio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"Se eu não posso conversar com ele [Campos Neto] sobre a taxa de juros, se eu não posso influir para reduzir a taxa de juros, se eu não posso conversar com ele sobre emprego, então, o que que eu vou conversar? Então é importante que ele converse com o Fernando Haddad todo dia, toda hora, ou todo mês, todo ano, e que ele apenas cumpra a meta de inflação", disse Lula.
O presidente também voltou a defender que a autonomia do Banco Central seja revista no caso de não apresentar resultados para a economia. Ele também indicou que a questão poderá ser reavaliada ao fim do mandato de Campos Neto. "Um Banco Central autônomo vai ser melhor, [vai] melhorar a economia, ótimo, mas se não melhorar, temos que mudar", disse Lula à CNN. A autonomia do Banco Central foi aprovada pelo Congresso em 2021.
Lava Jato e STF
Sem mencionar o nome do senador Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato, o presidente criticou a operação e a cobertura da imprensa sobre ela. O petista chegou a dizer que a Lava Jato promoveu uma “enganação da imprensa”.
Ele disse também que será preciso aguardar para entender como será a atuação de Moro e do deputado federal Deltan Dallagnol nos “quatros anos de mandato”. O senador, porém, exerce o mandato pelo período de oito anos.
Lula também foi perguntado sobre a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) indicados durante as gestões do PT e as decisões tomadas em ações que diziam respeito a ele, o presidente disse que nunca pediu favores a nenhum deles e que nunca pedirá.
Sobre as futuras indicações ao Supremo, o petista afirmou que fará “indicações neutras”, sobre as quais irá conversar com muitas pessoas para colher informações e irá analisar o currículo.
Os ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber devem se aposentar neste ano - em maio e outubro, respectivamente -, e dois nomes serão indicados por Lula para o Supremo.
“A minha indicação sempre será uma indicação neutra. Eu não quero ninguém ao meu favor ou ninguém contra. Eu quero alguém a favor da Justiça, alguém a favor do cumprimento da Constituição”, afirmou Lula.
Bolsonaro
Lula fez várias menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro e, assim como já havia feito durante a campanha eleitoral, relacionou o político brasileiro a Adolf Hitler e Benito Mussolini, e também disse que ele seria uma "cópia de Donald Trump", ex-presidente dos Estados Unidos.
O petista repetiu a afirmação que tinha feito à CNN norte-americana e avaliou que Bolsonaro não tem chances de voltar à presidência da República em 2026. Na visão de Lula, isso irá ocorrer porque a sociedade brasileira será preparada nos próximos anos para “acreditar naquilo que é verdade” e também devido à comparação que será feita entre os resultados da atual gestão petista com os da administração de Bolsonaro.
Forças Armadas
Lula também falou sobre a relação com as Forças Armadas após os atos de vandalismo de 8 de janeiro em Brasília. O presidente disse que ouviu do general que assumiu o comando do Exército, Tomás Miguel Miné Ribeiro, o compromisso de contribuir para a despolitização das Forças Armadas.
“Quem quiser fazer política, peça a aposentadoria e vá fazer política. Quem quiser continuar nas Forças Armadas, vai ter que se comportar e [agir para] o cumprimento estrito da Constituição”, afirmou o presidente.
Também nesta quinta-feira, o Exército informou que o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes deixará o Comando Militar do Planalto (CMP) para ocupar a 5ª subchefia no Estado-Maior do Exército (EME). A movimentação foi divulgada no site da Força, com a relação de outras mudanças. Dutra de Menezes estava à frente da tropa do Planalto durante os atos de 8 de janeiro, cargo que ocupava desde abril de 2022. O general de divisão Ricardo Piai Carmona vai assumir o Comando Militar do Planalto.
José Dirceu
Sobre as menções ao ex-ministro José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, durante a festa de 43 anos do PT, Lula disse que "ninguém pode ser penalizado a vida inteira" e se referiu a ele como "militante político da maior qualidade".
Segundo ele, Dirceu "não deve andar escondido". Após essa resposta, voltou a criticar a cobertura da imprensa sobre os escândalos de corrupção nos quais o PT esteve envolvido.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião