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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vai participar da Cúpula da Paz, o mais importante evento mundial para tentar um cessar-fogo na Ucrânia no momento. O encontro de chefes de Estado mundiais é promovido pela Suíça em parceria com a Ucrânia e deve ocorrer entre os dias 15 e 16 de junho. A Rússia não vai participar das discussões.
No ano passado, Lula tentou costurar com líderes mundiais uma iniciativa diplomática que ele batizou de "Clube da Paz". Em entrevista em maio de 2023, na China, o presidente brasileiro disse que não tinha um plano para viabilizar sua ideia, queria primeiro reunir os líderes mundiais em torno do tema. Essa reunião deve ocorrer em junho, mas não por mérito do brasileiro.
A Gazeta do Povo apurou que Lula foi convidado pela Suíça e pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para a cúpula. A representação ucraniana no Brasil também reforçou o convite ao presidente Lula para o encontro. A informação de que o petista não vai ao evento foi confirmada pela reportagem com fontes ligadas ao governo, mas a Ucrânia ainda espera uma resposta oficial de recusa ao convite.
“Espero que ele venha em junho, para se encontrar comigo e com o presidente da Suíça, na cúpula. Esse é o lugar onde teremos a possibilidade de conversar”, disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante entrevista em abril. Além de Lula, a diplomacia ucraniana também enviou convites ao chanceler Mauro Vieira e o assessor para assuntos especiais do governo, Celso Amorim.
De acordo com o governo suíço, cerca de 160 delegações foram convidadas, entre elas os membros do G20, do G7 e dos Brics, além de países de outros continentes. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também deve participar do encontro.
O ditador russo Vladimir Putin afirmou que não vai à cúpula por não ter sido convidado e disse que o evento diplomático é uma forma de pressionar seu país. A China, principal aliada da Rússia, participou das negociações preparatórias para a cúpula, mas não confirmou presença até o momento.
Lula vem sinalizando apoio a Moscou mesmo antes de assumir terceiro mandato
Mesmo antes de ser eleito para seu terceiro mandato, Lula acumulou discursos controversos sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de dois anos.
O mandatário fez alguns acenos a Moscou diante do conflito e chegou a afirmar que a Ucrânia seria tão culpada pela guerra quanto a Rússia, que iniciou a invasão em 2022. As declarações do petista geraram um desconforto com o país invadido e afastaram Lula das democracias liberais do Ocidente.
Recentemente, a Gazeta do Povo revelou que o governo Lula tem se esquivado de receber Zelensky no Brasil. Em entrevista exclusiva, o embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, afirmou que buscou intermediar uma visita de seu chanceler ou do presidente ao país. Melnyk, contudo, não obteve retorno positivo da diplomacia brasileira para um encontro.
Lula não participou da última Cúpula da Paz para a Ucrânia
Em 2023, uma agremiação de países se reuniu no Cairo, no Egito, para discutir uma solução pacífica para o conflito entre Rússia e Ucrânia, na Europa. O presidente Lula foi convidado, mas não foi ao encontro. O Brasil foi representado pelo chanceler Mauro Vieira.
O petista passou o primeiro ano de seu terceiro mandato em busca de projeção internacional, mas acumulou erros em sua estratégia. Celso Amorim, ex-chanceler brasileiro e atual assessor para Assuntos Especiais da Presidência, já fez algumas visitas à Rússia desde que Lula retornou ao Executivo.
No início deste ano, em fevereiro, às margens da Cúpula de Chanceleres do G20, o presidente recebeu Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores de Vladimir Putin, em sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. O encontro entre Lavrov e Lula foi o segundo em pouco mais de um ano.
Por outro lado, o petista tem criado dificuldades para se encontrar com membros do governo ucraniano. O Executivo brasileiro também teceu críticas aos Estados Unidos e a países da União Europeia sobre o apoio destinado à Ucrânia durante a guerra, bem como condenou as sanções impostas à Rússia.
A percepção do governo brasileiro sobre a guerra em curso na Europa é de que os dois países [invasor e invadido] devem participar das negociações sobre a paz. Em participação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) do Senado Federal, Mauro Vieira chegou a insinuar que as cúpulas para a paz na Europa seriam injustas.
"Já houve mais de uma reunião para negociar a paz, só que só tem um lado [a Ucrânia]. Então fica difícil. Não é um diálogo, é um monólogo", disse Vieira em audiência no Congresso.
"Eu acho que, para que haja um entendimento, para que se possa chegar a alguma coisa, é preciso sempre estarem os dois lados presentes", disse Vieira ao defender a inclusão da Rússia nos diálogos para a paz, durante sessão da Creden, em março deste ano.
Lula disse que não precisa ficar nervoso porque está longe da guerra
Quando assumiu o terceiro mandato, uma das primeiras apostas de Lula para sua política externa foi a criação de uma espécie de "clube da paz" para resolver a guerra entre Rússia e Ucrânia. Em declarações, o presidente brasileiro falou sobre seu interesse em achar uma solução para o conflito por meio do diálogo.
“A minha sugestão é que a gente crie um grupo de países, que tente sentar à mesa com a Ucrânia e com a Rússia para tentar encontrar a paz”, disse Lula, em janeiro de 2023, durante entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz. Essa proposta, contudo, não avançou. No sentido oposto de uma busca pacífica sobre o conflito, o mandatário brasileiro acumulou ruídos com o país invadido.
"Eu estou a tantos mil quilômetros de distância da Ucrânia que eu não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que tem o povo francês, o povo alemão, o povo europeu […] Eu tenho muitas guerras nesse país [no Brasil] e, agora, uma verdadeira guerra para garantir o funcionamento das instituições democráticas e a sobrevivência da democracia, contra o totalitarismo, o autoritarismo, a "extrema-direita", contra a barbárie", disse Lula.
A França tem enviado apoio militar à Ucrânia e apoia decisões parecidas provenientes dos EUA e da União Europeia. Lula, por outro lado, já criticou os gastos militares mundiais e culpou esses países de estarem "patrocinando" a guerra.