O jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem nesta quarta-feira (21) afirmando que Membros do governo dos Estados Unidos teriam participado ativamente, mas por baixo dos panos, de uma ofensiva diplomática para convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro e membros das Forças Armadas a aceitarem o resultado das eleições em 2022.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o então vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), na época ministro da infraestrutura, teriam sido procurados por Washington. O Financial Times diz que eles foram incumbidos de levar para Bolsonaro e para membros das Forças Armadas a mensagem de que os Estados Unidos reprovariam qualquer tentativa interferência nas eleições de 2022.
O senador Mourão afirmou na tarde desta quarta-feira (21) que, ao contrário do que foi afirmado pelo Financial Times, nunca conversou com autoridades ligadas ao presidente americano Joe Biden. Ele citou especificamente o ex-embaixador Tom Shannon. O jornal britânico havia afirmado que Mourão teria tido uma conversa privada com o então vice-presidente. Mourão negou que a conversa tenha ocorrido.
A reportagem foi publicada na véspera de um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode tornar Bolsonaro inelegível. Os ministros devem analisar uma reunião que o ex-presidente teve com diplomatas estrangeiros.
O periódico afirma ter baseado em relatos de seis atuais e ex-funcionários norte-americanos envolvidos. Segundo a publicação, os servidores do governo dos EUA teriam participado de uma “campanha de pressão” por mais de um ano para que políticos e líderes militares brasileiros “respeitassem e salvaguardassem a democracia” brasileira, em paralelo aos constantes questionamentos que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fazia ao sistema eletrônico de votação.
A campanha era feita através de envio de mensagens por intermédio de interlocutores em visitas oficiais de membros do governo norte-americano ao Brasil, entre eles o conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, em agosto de 2021; o chefe da CIA (agência de inteligência dos EUA), William Burns, em maio de 2022; e o secretário de defesa Lloyd Austin, dois meses depois.
Michael McKinley, ex-alto funcionário do Departamento de Estado e ex-embaixador dos EUA no Brasil disse ao Financial Times que a visita ao Brasil do secretário de defesa americano, do chefe da CIA, e do conselheiro de segurança nacional em um ano eleitoral foi uma prática no mínimo "não usual".
De acordo com ele, foi “quase um ano de estratégia, sendo executado com um objetivo em mente, não apoiar um candidato brasileiro em detrimento de outro, mas fortemente focado no processo [eleitoral], em garantir que o processo funcionasse”.
A campanha norte-americana, no entanto, ocorreu por baixo dos panos para, segundo os relatos ao Financial Times, não trazer à tona lembranças do passado, em que o governo dos EUA apoiou abertamente o golpe que derrubou o presidente esquerdista João Goulart e instaurou a ditadura por 21 anos.
A ação de envio de mensagens pelos norte-americanos aos interlocutores brasileiros foi tocada em comum acordo entre os militares dos EUA, a CIA, o Departamento de Estado, o Pentágono e a Casa Branca.
Campanha dos EUA também foi voltada a militares brasileiros
A reunião com cerca de 70 embaixadores para a apresentação de um relatório questionando a confiabilidade do sistema eletrônico de votação – objeto do inquérito que começa a ser julgado nesta semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – fez os EUA intensificarem a campanha de mensagens principalmente aos oficiais militares brasileiros.
Um alto funcionário brasileiro que esteve intimamente envolvido, mas pediu anonimato à reportagem, disse que o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, foi o mais “difícil” dos chefes militares a serem dissuadidos de qualquer tentativa de golpe.
Aliados de Bolsonaro entraram no plano próximo às eleições
Relatos de fontes do Financial Times afirmam que, à medida que a eleição se aproximava, altos funcionários dos EUA acreditavam que Bolsonaro precisava ouvir mais vozes dentro de seu próprio círculo. Foi neste momento que entraram em cena Lira, Freitas e Rocha.
Ao final da eleição, o presidente da Câmara e o então ministro da infraestrutura rapidamente reconheceram a vitória de Lula e Bolsonaro se resguardou para terminar o governo até viajar para os EUA no final do mandato.
A preocupação dos norte-americanos havia acabado ali até os atos de 8 de janeiro, que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Fontes disseram ao Financial Times que os EUA precisaram “dar um último empurrão a favor do respeito à eleição”.
O presidente Biden estava no México na época e teria pedido imediatamente para falar com Lula, seguido de uma ligação do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, que emitiram uma declaração conjunta de apoio a Lula e ao Brasil.
EUA se sentem “ressentidos” com pouco reconhecimento de Lula
Ainda segundo o Financial Times, o governo dos EUA vê que Lula não reconheceu o esforço feito para evitar uma possível ruptura democrática. Fontes dizem que ainda há atrito entre Biden e o presidente brasileiro, como as críticas à ajuda militar à Ucrânia, ao uso do dólar americano em transações internacionais e às sanções à empresa chinesa Huawei pelos norte-americanos.
Tom Shannon ex-alto funcionário do Departamento de Estado disse que os americanos foram pegos de surpresa com a atitude de Lula.
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