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Entrevista a portal chinês

Lula elogia o “partido político forte” da ditadura chinesa e faz críticas aos EUA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elogiou o "partido político forte" da ditadura comunista da China e fez críticas aos EUA por supostamente "mandarem" na Lava Jato para tirar o PT do poder. As declarações foram dadas em entrevista publicada no fim de semana pelo portal de notícias chinês Guancha.

Segundo Lula, o Partido Comunista chinês tem força e poder para fazer com que a população cumpra suas decisões. A declaração de Lula foi dada num contexto em que ele parabenizava as medidas de combate à pandemia do coronavírus na China.

“A China é um produto da revolução liderada pelo presidente Mao [Tse Tung] em 1949. Esse partido na China tem poder e um governo forte. Quando tomar decisões, o povo respeitará essas decisões. Isso é algo que não temos no Brasil”, disse Lula na entrevista – publicada em chinês e traduzida para o português pela Gazeta do Povo.

O contexto das declarações eram de parabenização das medidas contra o coronavírus adotadas pela China. “Na verdade, o mundo provou, a ciência provou, Europa, China e outros países mais responsáveis provaram que a melhor solução para o coronavírus é o isolamento social, seguido de vacinas”, disse o Lula. “Portanto, gostaria de apresentar meus respeitos e parabéns a esses governos responsáveis. Gostaria de parabenizar o governo chinês e os médicos chineses e o sistema de prevenção de epidemias.”

A entrevista de Lula ao Gancha, um dos principais portais da China, ocupou posição de destaque no site, sendo veiculado logo abaixo de uma matéria com o presidente chinês, Xi Jinping. Além disso, a entrevista com os elogios do petista ao PC foi publicada num momento simbólico: às vésperas do centenário do Partido Comunista Chinês, na quinta-feira (1.º).

Lula critica combate à pandemia no Brasil

Lula aproveitou a mesma entrevista para criticar o combate à Covid-19 no Brasil. O petista afirmou que o governo do presidente Jair Bolsonaro é irresponsável no trato com o coronavírus e que o país poderia ter tomado medidas preventivas.

“Poderia ter se preparado melhor para cuidar do povo brasileiro”, disse Lula. “Pode-se dizer que, quando o Brasil começou a comprar vacinas, já estava comprometido pelo vírus e muitas pessoas já haviam se infectado. Portanto, o Brasil está pagando o preço por essa irresponsabilidade."

Lula também afirmou que o governo brasileiro promoveu provocações à China por ordem do ex-presidente americano Donald Trump. A gestão Bolsonaro é acusada de ter atrapalhado a importação de insumos para as vacinas com declarações antichinesas.

Lula diz que governo dos EUA mandava na Lava Jato e articulou impeachment

O texto de abertura da entrevista de Lula ao Guancha faz elogios ao petista ao mesmo tempo em que critica os EUA. Segundo o texto, a América Latina sempre foi considerada o quintal dos americanos, fazendo com que a região perca a sua independência política.

“Lula ajudou o Brasil a alcançar um rápido desenvolvimento econômico durante sua gestão, trouxe o Brasil para os BRICs e estreitou as relações com a China e outros países em desenvolvimento”, diz trecho da matéria. Nesse contexto, o portal destacou que a experiência de Lula é “um caso realista” de que os americanos suprimem o desenvolvimento do continente, antecipando as críticas do ex-presidente brasileiro aos EUA.

Lula acusou a suposta existência de uma influência do governo americano na Lava Jato para interferir na Petrobras e para tirar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) da Presidência. Na época, os EUA eram governador por Barack Obama, que é do Partido Democrata (a esquerda americana).

Lula disse que a força-tarefa da Lava Jato estava a serviço do Departamento de Justiça dos EUA. Segundo o petista, o Departamento de Justiça americano instruiu promotores para participar do processo contra ele.

“Eles vieram ao Brasil para se encontrar com o Ministério Público brasileiro, e os juízes e pessoas do Ministério Público também foram aos promotores públicos dos Estados Unidos para discutir minha condenação. Gravamos um testemunho que mostrou que os promotores americanos estavam comemorando minha prisão. A única explicação que consigo encontrar para isso é porque o Brasil está se tornando um importante player internacional”, afirmou.

"(...) A promotoria [brasileira] estava servindo ao Departamento de Justiça dos EUA naquela época, e o Departamento de Justiça dos EUA pretendia minar nossas leis para regulamentar a Petrobras. Porque em 2007 descobrimos o maior campo de petróleo do século 21 [o pré-sal]”, disse.

Segundo Lula, as empresas petrolíferas do mundo nunca aceitaram o "regulamento" dos EUA. Por isso o governo do PT tinha de ser derrubado no Brasil, porque desempenhava um papel internacional importante de resistência, ao lado da China, Rússia e Índia.

Lula afirmou ainda que, se quisesse, poderia ter deixado o país antes de ser preso por um processo decorrente da Lava Jato. E que poderia ter se abrigado na própria China, em Cuba ou qualquer outro lugar, mas que optou por ficar no Brasil para provar que era inocente. Os dois países citados por Lula – China e Cuba – são ditaduras comunistas.

“Eles inventaram todas as mentiras sobre a corrupção, e nunca me preocupei porque sabia que era inocente. Aqui, hoje, posso dizer com confiança: nunca tive um fardo psicológico. Sempre dormi melhor do que aqueles que me julgam e me acusam”, disse. “Agora estou muito feliz. Tenho 75 anos, muita energia e grandes ambições políticas. Espero sinceramente que possamos reconquistar a democracia para o nosso país nas eleições gerais de 2022.”

O ex-presidente também disse que a proximidade do Brasil com a China seria outro motivo de preocupação para os EUA “A China é um país muito importante para o Brasil e acho que isso tem causado problemas para os americanos”, disse Lula.

Petista aposta que "onda" de esquerda na América Latina vai chegar ao Brasil

Na entrevista, Lula disse ainda que o cenário político na América Latina já mudou e que o Brasil caminha para a mesma direção. “Felizmente, a Bolívia e a Argentina voltaram ao governo de esquerda. No Chile, o povo votou em larga escala na Assembleia Constituinte, marginalizando gradativamente a direita. Agora estamos vendo o que aconteceu no Peru [a vitória do esquerdista Pedro Castillo para presidente]. Acho que vai acontecer o mesmo no Brasil”, disse Lula.

“Acho que a nossa esquerda está se recuperando, porque o que aconteceu na América Latina nos últimos seis ou sete anos, à medida que a direita cresceu e regrediu, causou grandes perdas à sociedade e causou muitos danos à sociedade. As pessoas estão descobrindo que usar o ódio para fazer política não funciona, como está acontecendo agora no Brasil. As pessoas acham que a política deve ser conduzida de forma mais pacífica e calma”, disse o ex-presidente.

Lula também comparou os governos de Trump e de Bolsonaro ao fascismo e nazismo. “A direita, que ocupa um espaço muito grande, é radical há muito tempo. O comportamento de Trump nos Estados Unidos e o comportamento do presidente Bolsonaro no Brasil são mais ou menos como o surgimento do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. Esses ditadores não querem discutir com pessoas que têm ideias diferentes das suas”, diz.

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