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Agenda internacional

Lula encontra esquerda radical nos EUA e tenta blindar aliados da América Latina

Lula embarcou para os Estados Unidos nesta quinta-feira (9) (Foto: EFE/Andre Borges)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou nesta quinta-feira (9) nos Estados Unidos da América (EUA) com o objetivo de focar sua agenda em encontros com a esquerda radical do país. Ele deve se encontrar com o presidente Joe Biden e defender a criação de um organismo chamado "Clube da Paz", para tentar acabar com a guerra na Ucrânia. Também deve tratar de pautas que podem beneficiar os governos da Venezuela e de Cuba.

Além de uma reunião bilateral com o presidente democrata, Lula pretende se encontrar com membros de centrais sindicais e com parlamentares. Entre eles estão políticos que defendem leis pró-aborto nos EUA e a extradição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de solo americano - por conta do episódio de vandalismo em Brasília.

Porém, integrantes do governo brasileiro disseram que Lula não vai tratar do assunto da estadia de Bolsonaro em território americano.

Senadores fizeram carta defendendo a extradição de Bolsonaro

A agenda do petista terá início na sexta-feira (10) com um encontro com o senador do partido democrata Bernie Sanders. O parlamentar é um dos signatários da carta apresentada ao Senado americano pelo senador Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, que pede a extradição do ex-presidente Bolsonaro.

A carta, encampada por nove senadores, veio a público no começo deste mês. Ela relaciona Bolsonaro aos atos de vandalismo contra os prédios dos Três Poderes de 08 de janeiro, em Brasília.

"Antes das eleições gerais do Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro repetidamente fez acusações falsas e infundadas questionando a transparência e a integridade do processo eleitoral do país, atacou publicamente a imparcialidade do Supremo Tribunal Federal (...) e encorajou seus partidários a ampliar essas reivindicações infundadas", relataram os senadores americanos.

Além de Sanders e de Menendez, a carta conta com o apoio dos senadores Tim Kaine, Dick Durbin, Ben Cardin, Chris Murphy, Jeanne Shaheen, Jeff Merkley e Chris Van Hollen. Os congressistas pressionam o presidente Joe Biden a revisar e responder prontamente a quaisquer pedidos de ajuda relacionados com as investigações sobre o episódio de vandalismo, incluindo eventuais pedidos de extradição de Bolsonaro.

Petista encontrará deputada americana que defende o aborto  

Após o encontro com Sanders, Lula ainda pretende se reunir com deputados de esquerda dos EUA, entre eles Alexandria Ocasio-Cortez. A parlamentar, que integra a ala mais radical do partido democrata, foi detida no ano passado ao participar de um protesto a favor do aborto em frente à Suprema Corte dos Estados Unidos.

"AOC", como é conhecida, também defendeu a extradição de Bolsonaro dos EUA após os atos de vandalismo em Brasília. "Os Estados Unidos devem deixar de dar guarida a Bolsonaro", disse a deputada em uma rede social.

Apesar dessas agendas, integrantes do Palácio do Planalto negam que a visita de Lula aos EUA seja para tratar de um pedido de extradição do ex-presidente brasileiro. Antes do embarque do petista, o Itamaraty se limitou a dizer que a situação de Bolsonaro no país é uma questão migratória e que qualquer decisão cabe somente ao governo americano.

Recentemente, Bolsonaro solicitou um visto de turista para permanecer mais tempo nos Estados Unidos. Assim, ele entrou no país no dia 30 de dezembro com passaporte diplomático, mas o visto tinha validade de apenas 30 dias depois que ele deixasse a Presidência.

Ainda durante sua passagem pelos EUA, Lula também reservou um espaço na sua agenda para um encontro com representantes da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO). A entidade reúne centrais sindicais dos Estados Unidos e do Canadá e mantém proximidade com Lula há anos. Em 2018, quando o petista estava preso por condenações da Lava Jato, o grupo chegou a divulgar um manifesto para defender a liberdade dele.

Lula idealiza "Clube da paz" após culpar presidente da Ucrânia pela guerra 

Ainda em Washington D.C., Lula vai à Casa Branca para sua primeira reunião bilateral com o presidente Joe Biden. Além de acordos comerciais entre o Brasil e os EUA, a expectativa é que Lula defenda pautas que podem beneficiar Cuba e Venezuela, regimes autocratas de esquerda aliados do petista.

Na busca por um protagonismo internacional neste terceiro mandato como presidente, Lula deve propor a Biden a criação de um de "Clube da Paz", um órgão multilateral idealizado para intermediar o fim da guerra na Ucrânia.

Porém, segundo analistas internacionais, o petista dificilmente seria aceito como um interlocutor do governo ucraniano. Isso porque Lula foi incluído em uma lista do governo da Kiev como propagandista da Rússia.

O relatório do Centro de Contenção de Desinformação do governo da Ucrânia, divulgado em julho do ano passado, traz uma fala de Lula que desagradou a Ucrânia. O brasileiro disse que o presidente "[Volodymyr] Zelensky é tão culpado pela guerra quanto [Vladimir] Putin", presidente da Rússia. A declaração de Lula foi dada em uma entrevista para a revista Time antes de sua eleição.

Mas, foi Moscou que, sem ter sofrido qualquer tipo de agressão militar ucraniana, invadiu o território vizinho com 200 mil combatentes no ano passado. A guerra já resultou até agora em mais de 200 mil baixas militares, 9 mil civis mortos e provocou um êxodo de mais de 7 milhões de refugiados.

Propostas de petista podem beneficiar Cuba e Venezuela

Além de uma eventual intermediação contra a guerra na Ucrânia, o "Clube da Paz" poderia atuar, inclusive, para buscar uma alternativa para a questão política na Venezuela. Ainda durante a transição, aliados de Lula defendiam que o petista poderia ter um papel determinante na construção da nova relação entre o governo norte-americano e o ditador venezuelano Nicolás Maduro.

Em outra frente, existe a expectativa de que Lula defenda uma aproximação dos EUA com a ditadura de Cuba. O petista pretende defender inclusive uma flexibilização dos embargos dos norte-americanos contra a ilha.

O movimento faz parte de uma estratégia iniciada por Lula ainda em janeiro. Ele defendeu a adoção de um "carinho" com Cuba durante sua participação na Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Argentina.

“Os cubanos não querem copiar o modelo do Brasil, não querem copiar o modelo americano, querem fazer o modelo deles. E quem tem a ver com isso? O Brasil e os países da Celac têm que tratar Venezuela e Cuba com muito carinho”, defendeu o petista na ocasião.

Biden e Lula devem debater violência política 

Após o encontro na Casa Branca é esperado que Lula e Biden façam uma declaração pública com foco na defesa da democracia. Os episódios de vandalismo em Brasília e a invasão do Capitólio dos EUA, em 2021, serão destacados por ambos.

"Os dois países estão experimentando desafios semelhantes, uma preocupação comum com o tema da radicalização, violência política, com o tema do uso das redes [sociais] para a difusão de desinformação e discurso de ódio", disse o embaixador Michel Arslanian, secretário de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores.

"Então, com as duas principais democracias do mundo se reunindo em seu mais alto nível, será uma oportunidade ímpar para que enviem uma mensagem de forte apoio a processos políticos, sem recursos a extremismos, à violência e com o uso adequado das redes sociais”, afirmou.

Em janeiro, Joe Biden foi uma das primeiras lideranças mundiais a se manifestar após os ataques aos prédios dos Três Poderes, em Brasília. Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos telefonou para Lula e se colocou à disposição do governo brasileiro. “As instituições democráticas do Brasil têm todo o nosso apoio e a vontade do povo brasileiro não deve ser abalada”, escreveu o líder norte-americano em seu perfil no Twitter.

Palácio do Planalto vetou encontro de Lula com empresários nos EUA 

O Palácio do Planalto priorizou encontros com lideranças da esquerda radical nos EUA. Por causa disso, acabou ventando uma agenda de Lula com empresários durante sua passagem pelo país. A costura vinha sendo feita pelo presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Jorge Viana.

Com isso, os acordos comerciais do Brasil com os Estados Unidos podem ficar restritos ao encontro de Lula com Biden na Casa Branca.

O governo brasileiro tenta ser beneficiar da recente política americana de fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva de semicondutores. O governo Biden aprovou no ano passado a Lei de Chips e Ciência. Ela determina investimentos da ordem de US$ 52 bilhões (R$ 274 bilhões) na produção de chips de computador.

Eles são necessários para a produção de itens de alta tecnologia em praticamente todos os setores da economia. Nesse cenário é possível destacar a produção de carros, aviões, armamentos avançados e prospecção de petróleo.

Brasil tem interesse na produção de semicondutores

A expectativa Planalto é de que parte desses investimentos ocorra no Brasil. Isso porque já que existe a previsão nos EUA de que parte das novas fábricas sejam montadas no exterior.

Porém, não está claro quais partes da cadeia produtiva poderiam ser instaladas no Brasil. A produção de matérias primas para semicondutores envolve a extração de minérios conhecidos como "terras raras". Sua produção é extremamente poluente.

O Brasil possui terras raras em seu território, mas a China é hoje a maior produtora do planeta. A explicação é que Pequim é um dos únicos governos que se dispõe a arcar com esse tipo de dano ambiental em larga escala.

“O encontro visa um ‘resettling’ na relação, que estava em banho-maria desde a eleição do presidente Biden”, explicou Arslanian. Ele usou um termo em inglês que significa reacomodação das relações diplomáticas.

O governo Lula espera ainda uma adesão dos Estados Unidos como contribuinte do Fundo Amazônia. Os recursos internacionais, fornecidos pela Alemanha e pela Noruega, são aplicados na conservação e uso sustentável da região.

Integram a comitiva de Lula os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente,) Anielle Franco (Igualdade Racial), além do chanceler Mauro Vieira. O grupo retorna ao Brasil no sábado (11).

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