A internação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a retirada de uma lesão na laringe adiou a definição dos integrantes dos grupos de trabalho que ficarão responsáveis por discutir as pautas de defesa nacional e inteligência pelo governo de transição. A expectativa era de que o anúncio fosse feito nesta segunda-feira (21).
"O presidente fez uma pequena intervenção cirúrgica, ficou para amanhã [terça, 22]", declarou o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos técnicos do gabinete de transição, ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo interlocutores do presidente eleito, é possível, porém, que ele desembarque em Brasília apenas na noite de terça-feira (22) ou na quarta-feira (23).
A definição dos nomes dos grupos de trabalho é tratada como prioridade entre alguns aliados e membros da transição que veem a escolha dos integrantes como uma importante sinalização sobre quem serão os responsáveis pelo diálogo com as Forças Armadas.
Aliados e conselheiros de Lula alertam para a importância de quebrar resistências entre militares e pacificar o atual ambiente político do país. Sem a indicação dos nomes, fica mais difícil ampliar as vias de diálogo na caserna. Além disso, o governo eleito está tendo dificuldades em convencer a própria cúpula militar a avançar as discussões.
Na última quinta-feira (17), por exemplo, Mercadante negou dificuldades ou atraso para definir a composição dos grupos de trabalho, mas admitiu que há um "problema institucional" relacionado às Forças Armadas.
À Gazeta do Povo, militares da ativa e até mesmo da reserva confirmam reservadamente as resistências internas em relação ao governo eleito, o que causa entraves e desafios em buscar mais celeridade e um diálogo profícuo com as instituições.
Os cotados para compor o núcleo de Defesa no governo de transição
Lula está a par do clima na caserna. A presença do presidente eleito nas reuniões desta semana em Brasília é considerada imprescindível, pois será dele a palavra final neste tema sensível para o governo de transição. Há, inclusive, especulações de que a indicação do futuro ministro da Defesa possa sair das listas dos grupos de trabalho.
Segundo interlocutores, devem compor o grupo de trabalho da Defesa o senador Jaques Wagner (PT-BA), ex-ministro da Defesa, e a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e ex-secretária de Produtos de Defesa da pasta.
Os ex-ministros da Defesa Aldo Rebelo e Nelson Jobim também são apontados como integrantes que devem compor o grupo de trabalho da Defesa no governo de transição. O general da reserva Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança pessoal de Lula nos dois mandatos em que foi presidente e também na campanha deste ano, é outro que pode integrar esse núcleo temático da transição.
Parte desses integrantes já dialoga com militares, a exemplo de Wagner. Amigo pessoal de Lula, ele assegura nos bastidores que o intuito é auxiliar o presidente eleito a construir bases políticas e institucionais, inclusive com as Forças Armadas, mas diz que não reivindica cargos na equipe ministerial.
A despeito de alguns apelos para a definição dos grupos de trabalho, Lula minimizou o desafio em definir os integrantes e disse nunca ter tido problema "com o que os militares falaram em oito anos de governo". "Então, eu não me preocupo com o que está falando o general [Walter] Braga Netto", disse Lula na sexta-feira (18). Naquele mesmo dia, Braga Netto (PL), que concorreu como vice na chapa de Bolsonaro, tinha dito para os apoiadores do presidente não perderem a fé. "É só o que eu posso falar para vocês agora", disse o militar.
Já Mercadante defendeu uma "composição adequada" para gerar resultados "naquilo que a gente espera para a área da Defesa". Antes, disse que é possível haver "algumas questões pontuais" em relação às Forças Armadas. "Tem um problema institucional, o lugar das Forças Armadas, a relação com a Constituição, mas isso não é propriamente um tema do grupo de trabalho. Eu acho que não tem nenhuma dificuldade e nós faremos uma boa solução", afirmou na semana passada.
Resistência dos militares passa pela desconfiança nas urnas
Um dos motivos de resistência interna nas Forças Armadas em um diálogo com o governo Lula é a desconfiança no resultado da eleição. Muitos dos próprios oficiais e até oficiais generais acreditam na hipótese de fraude eleitoral e não estão dispostos a reconhecer Lula como presidente, segundo disseram à Gazeta do Povo interlocutores das Forças Armadas.
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, definiu o secretário-geral da pasta, general Sérgio José Pereira, como o interlocutor que dialogará com a equipe de transição de Lula. O critério foi escolhido por motivos técnicos, dada a experiência e formação na área administrativa e de relações institucionais.
Porém, militares sustentam que não há vontade e interesse do ministro e do Alto Comando das Forças Armadas em simplificar a relação e assegurar um alinhamento automático com o governo eleito, em especial o Exército. Na caserna, é dito que não há "pressa" em agilizar as discussões sobre as escolhas dos futuros comandantes, como acenam interlocutores do gabinete de transição.
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