O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (8) não acreditar na possibilidade de haver outro candidato a presidente competitivo além dele próprio e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A declaração, feita durante uma entrevista coletiva em Brasília, demonstra algo que se comenta nos bastidores da política: o PT vai insistir na polarização, pois prefere disputar a Presidência com Bolsonaro e não com um candidato da chamada terceira via.
“Tem a candidatura do Bolsonaro. E, pelo fato de ele ser presidente, é sempre competitivo. Tem a minha candidatura, que não está colocada e que parece ser competitiva. Tem um monte de gente que não tem competitividade e que estão se colocando”, afirmou Lula ao ser questionado sobre a viabilidade de uma terceira via.
Mesmo assim, o petista afirmou que os demais partidos "têm direito de lançar pré-candidatos". "Os outros pré-candidatos têm o direito de disputar o primeiro turno da disputa em 2022. Podem ter quantas vias quiser. Eu acho muito, muito, importante", completou.
O ex-presidente esteve em Brasília nesta semana, onde se reuniu com representantes de partidos como o PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab, e com caciques do MDB, com quem Lula busca uma recomposição para 2022. Também iria ter reuniões "secretas" com integrantes do PP e PL, partidos da base de apoio de Bolsonaro.
Apesar de estar conversando com diversos partidos para apoiá-lo em 2022, Lula disse que só irá definir se será candidato no começo do ano que vem. “Eu só vou decidir a minha candidatura para o começo do ano que vem. Sei que isso é difícil de vocês acreditarem. Se tem gente que tem 2% das intenções de voto e quer disputar, é impossível ter 40% e não querer. Estou no momento de conversar com todos. Consertar esse país é uma tarefa de muita gente, não de um partido. Eu vou conversar com todos os partidos”, disse Lula.
Sobre a intenção do PT de eleger em 2022 um grande número de deputados, Lula enfatizou a necessidade em se ter uma "bancada forte no parlamento". Segundo ele, o PT fará um "esforço muito grande" para que a legenda tenha o maior número de deputados federais eleitos. "Eu estou disposto a fazer campanha pedindo voto para os nossos candidatos a deputado em todos os lugares do Brasil. Acho importante o PT ter uma bancada forte."
Lula sugere controle de preços de combustíveis, e promete "Estado forte"
Dentro da estratégia de polarizar com Bolsonaro, Lula fez uma série de críticas ao presidente e a seu governo. Um dos pontos de suas críticas foi o preço dos combustíveis
O petista criticou a política de preços da Petrobras após a empresa anunciar nesta sexta um novo reajuste do preço da gasolina e do gás liquefeito de petróleo (GLP). "A Petrobras está mostrando que ela pode mais que o presidente da República. O Brasil está precisando de um novo presidente para poder fazer justiça com o preço dos combustíveis", disse.
O ex-presidente criticou ainda o que chamou de "internacionalização" dos preços dos combustíveis no país, ao atrelá-lo à cotação internacional. "Não vejo nenhum sentido em querer agradar um acionista minoritário americano e não querer agradar o consumidor majoritário brasileiro", disse Lula.
Lula também disse que o governo Bolsonaro promoveu “retrocessos”. E defendeu um “Estado forte” para conter a crise econômica. “É com muita tristeza que tudo o que nós conquistamos está sendo destruído”, afirmou Lula.
Sobre as manifestações favoráveis ao governo de Sete de Setembro, Lula afirmou que Bolsonaro recuou após as pressões das instituições. “No dia 7 de setembro de manhã, ele ruge como leão. No dia seguinte, mia como um gatinho.”
Próxima caravana de Lula será em Minas Gerais
O ex-presidente confirmou que sua próxima viagem será para Minas Gerais, onde pretende formar uma composição com possíveis aliados. A caravana petista deveria ter passado pelo estado mineiro em setembro, mas acabou sendo adiada por conta de outros compromissos do petista.
Em Minas, Lula busca palanque junto ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato ao governo do estado. No entanto, o petista afirmou que o governador Romeu Zema, candidato à reeleição, está à frente de Kalil nas articulações.
"Eu não sei como está a situação do Kalil. Ele está descobrindo que Minas Gerais é um pouco maior que Belo Horizonte. Ele vai ter que trabalhar com muito afinco. Eu acho que ele tem que viajar pelo estado. O Zema está viajando, não tem uma padaria que ele não pare ou coma um pão de queijo. Ele [Kalil] vai ter que se jogar de copro e alma. O Zema está aparecendo forte e o Kalil precisa de arrojo para companha", disse o petista.
A construção de alianças no estado de Minas Gerais é considerada um dos principais desafios para Lula até 2022. O PT perdeu espaço na política mineira desde 2018, quando o ex-governador Fernando Pimentel ficou fora do segundo turno no seu projeto de reeleição e a ex-presidente Dilma Rousseff perdeu a disputa pelo Senado em Minas. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do país.
Lula diz que não quer transformar manifestações contra Bolsonaro em ato político
Questionado sobre a sua ausência em manifestações convocadas por movimentos de esquerda contra o presidente Bolsonaro, Lula afirmou que não que transformar os protestos em atos políticos. Além disso, o petista afirmou que não se sente seguro por causa da pandemia de Covid-19.
"Não queria e não vou contribuir para transformar atos em atos políticos porque a hora que eu subir no caminhão estará subindo o primeiro colocado em todas as pesquisas de opinião pública, que pode ganhar no primeiro turno", disse.
O ex-presidente afirmou ainda que a sua situação é diferente da dos demais pré-candidatos que foram às últimas manifestações. "Uma coisa é subir no caminhão um candidato que tem 2% das intenções de votos. Outra coisa é subir no caminhão um candidato que tem 47%, 45%, 51%, dependendo do viés da pesquisa. Tenho essa responsabilidade porque, quando eu subir no caminhão, não é para descer mais."
Mesmo assim, o petista disse que pode ir no ato que está sendo organizado para o dia 15 de novembro. No entanto, afirmou que a sua participação depende da data de uma viagem que fará para a Europa.
Lideranças de outros partidos criticaram a ausência do petista nas manifestações contra o governo. Segundo eles, a ausência é uma forma de alimentar a polarização contra Bolsonaro.
Essa crítica, entretanto, foi rebatida por Lula. "Dizer que o PT é contra o impeachment [de Bolsonaro] é de uma insanidade. A pessoa que fala que o PT é contra o impeachment poderia perguntar porque o [Arthur] Lira [presidente da Câmara] não coloca em votação", disse o ex-presidente. "O presidente da Câmara tem mais de 130 pedidos e pode colocar pelo menos um em votação."
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