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A um dia de se internar para realizar uma operação no quadril, nesta sexta (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou alvo de críticas de aliados após dizer que não vai aparecer com muletas e andador durante o período de recuperação do procedimento.
A nova fala desastrosa foi cometida na última terça (26) durante a live semanal “Conversa com o Presidente” e, desde então, tem sido alvo de críticas e acusado de capacitismo – preconceito social contra pessoas com alguma deficiência.
Lula comentava sobre como deve ser a recuperação da cirurgia, em que vai despachar do Palácio da Alvorada nas próximas semanas. O presidente disse que vai trabalhar normalmente, mas que seu fotógrafo pessoal, Ricardo Stuckert, não vai filmá-lo usando um andador.
“Ele já falou: ‘não vou filmar você de andador’. Então significa que vocês não vão me ver de andador ou de muleta. Vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado”, disse durante a transmissão.
Além de dizer que não seria visto de muletas e andador, Lula afirmou também que não fez a cirurgia antes para que não achassem que está velho. A relação com o etarismo – discriminação por idade – se deu após citar que já sentia fortes dores no quadril desde a campanha eleitoral do ano passado, em que aparecia pulando em carros de som.
A primeira reação veio da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, que disse que as afirmações de Lula foram equivocadas, contra a inclusão e um desrespeito a pessoas com deficiência.
“A fala de Lula que associa andador e muleta à vergonha e à feiura é equivocada e capacitista. As palavras importam e essa fala, intencional ou não, vai na contramão da luta por inclusão e respeito de milhares de pessoas com deficiência que utilizam equipamentos de acessibilidade”, disse.
Pouco depois, o influenciador digital Ivan Baron, que subiu a rampa do Palácio do Planalto com o presidente no dia da posse, também saiu em defesa da causa das pessoas com deficiência. Para ele, Lula cometeu um erro que não poderia passar despercebido.
“E essa fala desnecessária que o Presidente Lula reproduziu? É nítido que ele não falou por mal, mas ao mesmo tempo não podemos deixar esse erro Capacitista passar despercebido”, afirmou em uma rede social.
Já a senadora Mara Gabrilli (MDB-SP), que não é uma aliada, mas faz parte de um partido da base do governo com a ministra Simone Tebet, do Planejamento, não poupou críticas ao presidente.
A parlamentar, que é tetraplégica desde 1994 por conta de um acidente de trânsito, também acusou Lula de capacitismo e afirmou que a deficiência “não enfeia ninguém, tampouco subtrai o potencial do ser humano”, em registo do jornal O Estado de São Paulo.
“Vemos o quanto a pessoa deve lutar para conseguir exercer cidadania neste país. Estamos falando de tecnologias assistivas, ferramentas que Lula deveria trabalhar para garantir aos brasileiros. Passou da hora de o presidente estudar mais sobre o universo das deficiências”, completou.
Para Mara Gabrilli, Lula deveria “enaltecer a diversidade humana, ao invés de diminuir as diferenças”.
Desde o início do governo, Lula comete erros e equívocos em falas de improviso, e a questão da deficiência já se fez presente em declarações passadas. Em meados de abril, pouco depois de um ataque a uma creche de Blumenau (SC), o presidente relacionou a deficiência intelectual com “problema de desequilíbrio de parafuso” e violência.
“A OMS [Organização Mundial da Saúde] sempre afirmou que, na humanidade, deve haver 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso. Pode uma hora acontecer uma desgraça”, disse na época se retratando dias depois.