Ouça este conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu nesta terça (30) que ainda não conseguiu estabelecer uma plena confiança na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que vem sendo alvo de sucessivas questões com o governo federal. A crise começou com a falta de informações referentes aos atos de 8 de janeiro de 2023 e à recente descoberta de que o suposto esquema de espionagem tinha ramificações, como pessoas ainda ligadas ao ex-diretor-geral Alexandre Ramagem (PL-0RJ) e a suspeita de que equipamentos foram levados por ele e outros investigados.
A suspeita foi elevada na semana passada após Ramagem ser alvo da primeira fase da Operação Vigilância Aproximada, desencadeada pela Polícia Federal para apurar uma suposta relação que ele ainda teria com o esquema de espionagem de autoridades descoberto no ano passado. Na segunda (29), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) foi alvo da segunda fase, sob a suspeita de ter pedido à Abin dados de investigações e de supostamente fazer parte do esquema.
“A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin [Luiz Fernando Corrêa], é o companheiro que foi o meu diretor-geral entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e que montou a equipe dele. E dentro da equipe dele tem o cidadão que está sendo acusado que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin no governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin”, disse em uma entrevista à rádio CBN Recife.
Segundo o presidente, se ficar comprovado que o “número 2” da Abin, o diretor-adjunto Alessandro Moretti, trabalhou para interferir em investigações, ele deve ser exonerado. “Não há clima para esse cidadão continuar”, afirmou.
Lula, no entanto, evitou comentar se isso pode acontecer de imediato, como se esperava para esta terça (30). “Mas, antes de você fazer a condenação a priori, é importante que a gente investigue corretamente, que a gente apure e garanta o direito de defesa”, disse.
“Se você se deixar levar apenas pela manchete de jornal, como na pena de morte, você está matando as pessoas sem dar chance de as pessoas se defenderem. E eu acho que todo mundo é inocente até prova em contrário”, concluiu o presidente.
Por outro lado, a presença de Corrêa no cargo também é dúvida após os primeiros movimentos da operação. Ele teria tido uma reunião fora da agenda com Ramagem em junho de 2023, segundo confirmou a Abin ao Metrópoles. A agência informou que o encontro foi pedido pelo próprio deputado e que a falta de registro na agenda oficial foi uma “falha ou descuido” do servidor responsável.
A Abin afirma que o encontro foi “protocolar” para o parlamentar parabenizar Corrêa pela posse no cargo. “A equipe de Relações Institucionais da Abin ou o próprio diretor-geral receberam ou reuniram-se no Congresso com 58 parlamentares em 2023”, disse a agência em nota.