A posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em não condenar abertamente a Rússia pela guerra contra a Ucrânia revela uma contradição no próprio discurso dele, e acaba sinalizando uma posição de vantagem a Vladimir Putin.
É o que pensa o ex-líder do Alto Comissariado para a Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), Sergio Jaramillo, que hoje encabeça o movimento “Aguenta, Ucrânia”, uma campanha que reúne artistas, políticos e intelectuais de vários países da América Latina para pedir a paz.
Jamarillo diz que vê no Brasil uma contradição de Lula e do próprio PT sobre a guerra, em que tentam promover um “mundo multipolar” que não está claro na política externa do país.
“O PT deveria ter mais simpatia pelas vítimas ucranianas. Impossível que não saibam disso, [a ex-presidente] Dilma Rousseff e outros foram torturados”, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta sexta (21).
Lula prolonga a guerra na Ucrânia, diz ativista
De acordo com ele, a posição do Brasil de não afirmar contundentemente contra a guerra dá vantagem a Putin, que não se vê isolado do mundo mesmo com todas as sanções impostas a ele, e que a invasão “só vai acabar quando o Kremlin perceber que todas as portas estão fechadas”.
“Mas, o que Brasil e África do Sul estão fazendo é abrir uma porta muito grande, dando espaço para Putin. Isso o convence de que não está sozinho, reforça suas teorias delirantes de que o problema é o Ocidente, não sua invasão criminosa, prolonga a guerra e torna a paz impossível”, enfatizou.
O ex-líder da ONU pela paz perdeu uma amiga e ficou ferido no final do mês passado quando o restaurante em que estavam na cidade de Kramatorsk foi atingido por um míssil russo. Dez pessoas morreram e mais de 60 ficaram feridas no ataque.
“Foi terrível, e é em nome dela que peço ao governo do Brasil que revise sua política em relação à Rússia e à invasão, porque a única coisa que está conseguindo é prolongar a guerra e afastar a paz”, completou.
Jamarillo diz que concorda com a defesa de Lula por um “mundo multipolar”, mais aberto, mas afirma que o presidente está passando um pensamento contrário. “A política externa que ele promove vem contradizendo essa crença. Afinal, o que Putin está fazendo é o contrário: ele está impondo um mundo em que quem tem mais força domina tudo”, completou.
Desde o início do novo governo, Lula vem dando diferentes posições sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia. De modo geral, ele não condena Putin pela invasão e chegou equalizar a “responsabilidade” pelo conflito, igualando invadido a invasor.
Após muitas críticas, passou a promover o que seria um “clube da paz” para negociar o fim do conflito. No entanto, mais recentemente, se envolveu em uma polêmica com o presidente do Chile, Gabriel Boric, por não defender na Cúpula União Europeia-Celac uma condenação contundente a Putin no documento final da reunião.
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