As declarações públicas do petista são marcadas por elevado tom de agressividade, mas, curiosamente, acabam justificadas pelo suposto desejo dele de “combater o ódio” na sociedade| Foto: Sebastião Moreira / EFE / Arquivo
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Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escalou os seus ataques a seguidores do antecessor Jair Bolsonaro (PL), os quais classificou de “extremistas”, “animais selvagens”, “incivilizados” e “malucos soltos nas ruas”. As declarações públicas do petista são marcadas por elevado tom de agressividade, mas, curiosamente, acabam justificadas pelo suposto desejo dele de "combater o ódio" na sociedade. Na prática, contudo, Lula vem incitando os simpatizantes contra uma parte expressiva do eleitorado e se distanciando da promessa de encerrar a polarização ideológica, em favor da pacificação.

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As mais recentes reações do chamado “ódio do bem” de Lula se deram após manifestar a intenção em perseguir cidadãos, como o que supostamente agrediu em 14 de julho o filho do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no Aeroporto de Roma. Durante evento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), o presidente chamou Roberto Mantovani Filho de “canalha”, celebrou a expulsão dele do PSD e ainda informou ter “entregado o nome” dele ao chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, porque o suspeito trabalharia para empresa alemã. “Derrotamos Bolsonaro. Mas ainda não derrotamos os bolsonaristas”, discursou.

A frase de Lula contrasta com seu pronunciamento no parlatório do Palácio do Planalto, logo após a posse no cargo, em 1º de janeiro de 2023, quando havia afirmado que iria governar para todos: “Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar não apenas para quem votou em mim. A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio”. As falas e atitudes do presidente nos meses seguintes, contudo, seguiram direção contrária ao prometido.

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Para o cientista político Luiz Filipe Freitas, é provável que Lula continue por um longo período utilizando a estratégia política de criticar e atacar Bolsonaro e seus apoiadores. Essa abordagem se explica em grande parte, segundo ele, pelo desfecho dos julgamentos enfrentados pelo seu antecessor nos tribunais superiores, o que levará o presidente a buscar reforçar a rejeição do principal opositor. “É importante notar que a rejeição foi fator determinante na última eleição”, disse.

Freitas destacou que Bolsonaro ainda é capaz de influenciar o processo eleitoral, com expressivo e fiel eleitorado. Contudo, os desgastes enfrentados podem provocar danos irreparáveis à imagem do ex-presidente. “Dessa forma, as eleições municipais de 2024 deverão fornecer respostas cruciais sobre o cenário político”, avaliou.

Postura do presidente é marcada pela diferenciação ideológica

O senador Marcos Rogério (PL-RO) vem denunciando a escalada do discurso de ódio de Lula e considerou como ápice o pronunciamento do petista no encontro do Foro de São Paulo, em Brasília, em 29 de junho. Segundo ele, o presidente está trilhando “o caminho do ativismo político e ideológico de maneira deliberadamente hostil aos princípios e valores da nação brasileira”. Para ele, a postura de Lula “não é apenas um ataque à democracia, mas um ataque à própria nação”.

Mesmo após derrotar Bolsonaro, a quem chamou até de "titica" recentemente, Lula segue o figurino de candidato, investindo na hostilidade contra apoiadores do ex-presidente e indicando postura nada conciliatória, o que dificulta a busca por unidade na sociedade. Como líder político e chefe de Estado, o presidente tem a responsabilidade de promover a tolerância, o respeito e a união nacional, independentemente das opiniões políticas.

Em entrevista coletiva ao final da sua viagem a Bruxelas, na quarta-feira (19), Lula disse ser preciso “punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio”, ressaltando que o suposto agressor de Alexandre de Moraes é “animal selvagem” e não “ser humano”. “Essa gente que renasceu no neofascismo colocado em prática no Brasil tem que ser extirpada, e vamos ser muito duros com essa gente, para aprenderem a voltar a serem civilizados”, disparou.

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Especialistas identificaram na linguagem aspectos fascista, tratando adversários como animais, doenças ou outras figuras que desumanizam os seus alvos.

Perseguição a rivais políticos coleciona série de episódios

Na última sexta-feira (21), o governo lançou uma série de projetos de leis que endurecem a punição para agressores de autoridades dos três poderes. Uma das propostas defende pena de 40 anos de prisão para quem atentar contra o Estado Democrático de Direito. Na ocasião, Lula reforçou o desejo de agir implacavelmente contra esses alvos.

O cientista político Adriano Gianturco salientou que o adjetivo “antidemocrático” vem sendo usado como desculpa para perseguir inimigos políticos.

As atitudes persistentes e generalizadas de Lula contra aliados de Bolsonaro fazem lembrar a decisão dele durante o primeiro mandato contra o jornalista norte-americano William Larry Rohter Junior, correspondente no Rio de Janeiro do jornal The New York Times. Ele tentou expulsá-lo do país no começo de maio de 2004, cancelando visto, em represália à reportagem publicada sobre suposto alcoolismo do presidente. O governo acabou recuando devido às reações contrárias, que apontaram violações da liberdade de expressão e do Estado Democrático de Direito.

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Em setembro de 2010, Lula afirmou em comício da sua então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em Joinville (SC), que o então partido de oposição DEM (atual União Brasil) precisava ser "extirpado" da política por supostamente “alimentar o ódio”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]