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Os recentes movimentos no Supremo Tribunal Federal (STF) associados à falta de nomes competitivos na esquerda que possam fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma disputa presidencial animaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a se lançar como alternativa do chamado campo progressista na disputa presidencial de 2022.
Internamente, integrantes do PT acreditam que Lula não somente será candidato como possivelmente integrará uma chapa presidencial com o governador do Maranhão, o ex-juiz Flávio Dino (PCdoB). O problema, neste momento, é convencer o PCdoB a abrir mão de um voo solo rumo à presidência da República.
Nesta segunda-feira (7), o ex-presidente divulgou um vídeo em que lê uma “carta aberta” aos brasileiros, na qual tece críticas à atual gestão do governo federal. Lula também se apresenta como uma solução para “reconstruir o Brasil”. No documento, Lula disse que Bolsonaro seria o responsável direto pelas mortes provocadas pelo novo coronavírus e que o chefe do Poder Executivo estaria renunciando à soberania nacional “para, sorrateiramente, cometer um crime de lesa-pátria”.
À Gazeta do Povo, integrantes da executiva nacional do PT admitiram que o vídeo é a primeira ofensiva petista para tentar alavancar o nome do ex-presidente da República visando à disputa de 2022. Há uma real preocupação no PT sobre a forma como o nome de Bolsonaro vem avançando em redutos historicamente petistas como no Nordeste a partir a reformulação de programas sociais, como o Bolsa Família, por exemplo. O PT pretende, a partir de agora, intensificar as campanhas para tentar mostrar à população que o presidente Bolsonaro, na visão deles, está “roubando” ações e programas implementados pelo partido.
Um recurso no Supremo pode trazer Lula de volta à briga
Lula e o PT acompanham de perto as mobilizações no STF que podem culminar com a anulação das sentenças do ex-juiz Sergio Moro. Ao contrário do que ocorreu em 2018, quando o próprio PT classificava nos bastidores como “quase impossível” uma candidatura lulista; hoje, os membros da executiva nacional acreditam não somente na viabilidade, como também na força de Lula para 2022.
Até o final do ano, há a expectativa de que a Segunda Turma do Supremo julgue um recurso da defesa do ex-presidente que pede que Moro seja declarado imparcial em relação a sentenças dadas contra o petista. O recurso foi apresentado pela defesa de Lula em 2018. Os advogados buscam a anulação das condenações contra o petista por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP). Caso o STF considere Moro parcial, há a possibilidade de que o caso volte à fase de apresentação de denúncia. Assim, automaticamente, Lula voltaria a ser considerado como “ficha limpa” e estaria apto a disputar uma eleição.
A Segunda Turma é formada pelos ministros Cármen Lúcia, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Cármen e Fachin já se manifestaram a favor da legalidade dos atos de Moro; mas Gilmar, hoje presidente da Segunda Turma, e Lewandowski já indicaram voto a favor do ex-presidente. Ou seja, para eles, Moro agiu de forma parcial neste caso.
O voto de minerva cabe, atualmente, ao ministro Celso de Mello. Contudo, há a expectativa de que ele não participe desse julgamento já que ele se aposenta em novembro. Há uma articulação dentro do STF para que o atual presidente da Corte, Dias Toffoli, assuma o lugar de Celso de Mello assim que ele deixe o Tribunal. Toffoli também é apontado nos bastidores do Supremo como voto favorável ao ex-presidente. Os petistas acreditam que, dessa forma, Lula terá maioria a seu favor na Segunda Turma. Caso o otimismo petista venha a ser confirmado, o ex-presidente terá o caminho livre para disputar, novamente, uma eleição presidencial.
Esquerda sofre com a falta de nomes viáveis
Além da questão jurídica, Lula também tem a ser favor o fato de que a esquerda ainda não conseguiu viabilizar um nome forte e viável para uma disputa presidencial até o momento. Partidos como o próprio PT, além de PCdoB, PSB ou o PDT têm dificuldades para apresentar novos líderes políticos ou candidatos com cacife eleitoral suficiente que possam fazer frente ao presidente da República.
Dois nomes são apontados como candidatos com alguma força eleitoral neste momento. Flávio Dino e Ciro Gomes, pelo PDT. O PSB, internamente, admite que não possui um quadro que possa ser competitivo em 2022. Outros nomes como Fernando Haddad, pelo PT, ou Guilherme Boulos (Psol) ou Manuela d'Ávila (PCdoB) são vistos como apostas de longo prazo pelos respectivos partidos; não de curto prazo. Tanto que Boulos e Manuela vão disputar eleições municipais visando ter a real consciência do quão viáveis são politicamente rumo à uma disputa presidencial.
Dino busca se pavimentar como uma opção competitiva na disputa presidencial em 2022. O PCdoB acredita que ele poderia repetir o fenômeno Eduardo Campos (PSB), em 2014, que estava em terceiro nas pesquisas de intenção de voto antes de ser vitimado por um acidente aéreo.
O governador do Maranhão, no entanto, já admitiu a aliados que não teria como enfrentar Lula, caso o Supremo venha a anular as sentenças do ex-ministro Sergio Moro. Diante dessa possibilidade, o PT já iniciou conversas com o governador maranhense para tentar viabilizar uma chapa Lula – Dino em 2022.
Dino já afirmou a aliados que se sentiria “honrado” em fazer parte desse plano. Porém, a cúpula do partido sonha com uma candidatura própria em 2022 e o nome de Dino é apontado como o mais viável dentro do partido rumo à uma candidatura própria. A ideia é simpática a determinados membros do PCdoB como o ex-ministro e candidato à prefeitura de São Paulo, Orlando Silva.