O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, no final da manhã desta quinta (7), que a América do Sul “não precisa de uma guerra e de conflito”, em referência à disputa desencadeada pela Venezuela contra a Guiana para anexar o território da província de Essequibo, e que foi alvo de um referendo unilateral no último final de semana.
A declaração do presidente era esperada e considerada importante pelos chefes de Estado que participam da 63ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, realizada no Rio de Janeiro ao longo desta semana. Lula é visto pelos seus homólogos – e, principalmente, pelo presidente guianense, Irfaan Ali – como um mediador da paz na região.
“Uma coisa que nós não queremos aqui na América do Sul é guerra. Nós não precisamos de guerra e de conflito. O que nós precisamos é construir a paz, porque só com paz a gente pode desenvolver o país e gerar riqueza”, disse Lula logo no começo do encontro desta quinta (7).
Lula afirmou que a disputa da Venezuela pelo território guianense será um dos temas discutidos durante a cúpula e que o Mercosul não pode ficar "alheio" a isso. Ainda segundo o presidente, a questão deve ser tratada em especial pela Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, como mediadora. Ele apoia a relação multilateral desde o início do novo governo.
Integração sul-americana
O presidente também anunciou nesta quinta (7) que a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, vai apresentar nesta sexta (8) aos homólogos dos demais países do Mercosul um amplo programa de integração modal com rodovias, ferrovias, hidrovias e aeroportos chamado de "Rotas para a Integração".
"Nós vamos ter uma boa quantia de dinheiro pra gente poder cumprir esse sonho, finalmente, da nossa integração física", afirmou.
Detalhes dos recursos devem ser tratados durante uma reunião à tarde e anunciados às 17h40.
Segundo o governo brasileiro, os recursos para as "Rotas da Integração" serão provenientes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco de Desenvolvimento (FONPLATA) e do próprio Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).
Acordo com a União Europeia
Ainda durante a abertura da reunião desta quinta (7), Lula afirmou que não vai desistir de fechar o acordo do Mercosul com a União Europeia e que vai continuar negociando mesmo após as declarações contrárias do presidente francês Emmanuel Macron. Um dia antes, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, afirmaram que a parceria será fechada “em breve” e “no futuro próximo”.
“Eu tenho como lema não desistir nunca, porque não existe nada que seja impossível da gente concretizar, mesmo essa tentativa de um acordo com a União Europeia que já está durando 23 anos, mas a gente tem que continuar tentando fazer”, disse o petista aos demais chefes de Estado, sinalizando que o novo presidente rotativo do bloco, Santiago Peña, deve continuar tentando avançar na negociação.
Além de falar sobre a disputa entre a Venezuela e a Guiana e a concretização do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, Lula fez cumprimentos à Bolívia, que vai assinar a adesão ao bloco comercial sul-americano na tarde desta quinta (7), e ao presidente da Argentina, Alberto Fernández, que deixa a presidência do país no próximo dia 10 sem eleger um sucessor, o ministro Sergio Massa, da Economia.
“Essa é uma reunião de despedida, mas também de chegada, do companheiro Alberto Fernández, que dia 10 deixa a presidência da Argentina. Mas, tem a chegada de um novo presidente da Argentina”, disse Lula sem citar Javier Milei, que derrotou o candidato governista e tem se mostrado crítico ao Mercosul.
Ele ainda lembrou da relação de amizade com Fernández desde quando esteve preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, que recebia a visita dele. “Nós sempre teremos de você a certeza de um homem de bem, honesto, digno e que tinha como compromisso maior a defesa dos interesses do querido povo argentino”, completou.
Lula está deixando a presidência rotativa do Mercosul e “entregando o martelo” a Santiago Peña, presidente do Paraguai, que passa a ocupar a direção do bloco. Ele ainda comentou sobre as ações do Brasil durante a COP28, em Dubai, e a preparação da COP30 que será realizada em Belém em 2025.
Críticas à ONU
Ainda durante a abertura da reunião, Lula voltou a criticar a composição do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu que os demais presidentes dos países do Mercosul pressionem por mudanças no órgão.
“A representação geopolítica da ONU não pode ser a mesma de 1945, é preciso mudar. Eu tenho dito que quem estiver participando do Conselho de Segurança como membro permanente não representa a si próprio e ao seu país. Tem que representar o continente que ele participa”, disparou.
Lula criticou ainda que as decisões tomadas nas sucessivas reuniões do clima não são implantadas nos países, e que isso precisa efetivamente ser alterado com a aplicação das decisões “quase que obrigatoriamente por todos os países”.
“Não são os países menores que têm que pagar a conta, e sim os países industrializados que há 200 anos poluem o planeta. Não é um país que começou a se industrializar agora”, completou.
As críticas à ONU e a dificuldade de se implantar as decisões tomadas nas reuniões da COP, como as resoluções aprovadas em Kyoto e Paris, se tornaram recorrentes em que Lula prega a criação de uma nova governança global para que sejam implantadas acima das decisões congressuais dos países signatários.
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