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Assim como Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém uma base de apoio fiel para as eleições de 2022. São sindicalistas, estudantes e membros de movimentos sociais que não abandonaram Lula nem quando o petista foi condenado e preso pela Operação Lava Jato. Os mesmos que mantiveram um acampamento do lado de fora da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, em solidariedade ao ex-presidente, durante os 19 meses da prisão dele, entre 2018 e 2019.
Desde que Lula teve seus direitos políticos reabilitados pelo Supremo Tribunal Federal, esses grupos habitualmente simpáticos ao petista intensificaram as manifestações de apoio e se esforçam para evitar que haja fragmentações no campo esquerdista, como ocorreu em 2018. "O Lula é a liderança das forças populares com maior identidade das massas e que expressa a maior unidade política e social do nosso campo, com força de atrair diversos setores que se opõem ao Bolsonaro", afirma Jaime Amorim, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), grupo que apoia o petista incondicionalmente.
Análise semelhante foi feita pelo coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Souza Bacelar da Silva, em nota publicada no site da instituição: "em 2022, precisaremos estar unidos mais uma vez para eleger Lula e, assim, retomar os projetos de uma Petrobras a serviço do povo e da soberania nacional".
O nome de Lula foi referendado recentemente em uma data de peso simbólico para as entidades, o 1º de Maio. O ex-presidente foi a principal estrela no tradicional ato, que em 2021 congregou instituições como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e até mesmo a Força Sindical, que chegou a fazer oposição ao PT durante os governos de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff.
A mesma CUT chamou o recente giro de Lula por Brasília, quando o petista se reuniu com lideranças partidárias e embaixadores, de "agenda de estadista".
Psol deve caminhar junto com Lula em 2022; PDT vai no lado oposto
A adesão das forças de esquerda ao projeto de Lula em 2022 pode contar com um reforço do qual o PT não dispôs em nenhuma campanha presidencial entre 2006 e 2018: a presença do Psol. O partido, que nasceu de uma dissidência do próprio PT, lançou candidatos em todas as disputas presidenciais desde então. Mas, para 2022, considera uma aliança com o petismo.
A hipótese é defendida pelo presidenciável do partido em 2018, Guilherme Boulos. Ele declarou recentemente que pretende se candidatar ao governo de São Paulo nas eleições do ano que vem. Assim, indicou não desejar uma nova empreitada presidencial.
Boulos é amigo de Lula e sempre reforçou sua proximidade com o petista — o ex-presidente chegou a participar, por meio de um vídeo, do lançamento da candidatura presidencial do Psol em 2018.
Outro entusiasta da aliança é o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), que pode sair candidato ao governo do Rio em 2022 com o apoio do PT e a bênção de Lula.
A iniciativa, porém, não é unânime no Psol. O deputado federal Glauber Braga (RJ) lançou, no último dia 10, sua pré-candidatura à Presidência. Ele foi apoiado por outras forças do partido, como as também deputadas Luiza Erundina (SP) e Sâmia Bomfim (SP), e por Luciana Genro, ex-deputada federal e que foi a presidenciável do Psol em 2014.
A iniciativa de Glauber motivou críticas dentro do partido e uma troca de farpas entre os apoiadores da empreitada e a atual líder da bancada na Câmara, a deputada Talíria Petrone (RJ). Favorável a uma frente de esquerda, o ex-deputado Jean Wyllys surpreendeu ao anunciar que deixará o Psol após 11 anos e se filiará ao PT, reforçando a preferência por Lula.
Outra força política vinculada à esquerda que busca romper a hegemonia de Lula é o presidenciável Ciro Gomes e seu partido, o PDT. Em entrevista ao Valor Econômico, o ex-ministro chamou o petista de "maior corruptor da história brasileira". Ciro também disse que tem se municiado de informações de economistas de diferentes matizes e que quer montar uma aliança partidária ampla.
Para Jaime Amorim, do MST, Ciro "não tem classes e segmentos de classe que sustentam as propostas que tem feito". "Ele tem o direito de construir a candidatura, mas esperamos marchar juntos para derrotar o Bolsonaro", acrescentou.
Agenda de rua deve ser intensificada
Um novo elemento que pode fortalecer o nome de Lula é a realização de atos de rua contra o governo Bolsonaro. Parte das entidades espera que a insatisfação contra o governo se reverta também em apoio ao ex-presidente.
É o caso, por exemplo, do Partido da Causa Operária (PCO). A legenda de extrema-esquerda, que se notabilizou pelo slogan "quem bate cartão não vota em patrão", passou a se empenhar na defesa de Lula — apesar de, tal qual o Psol, ter nascido como uma dissidência do PT. Os atos de rua do partido já adotam o "Lula presidente" como causa.
Neste aspecto, o PCO se difere do PSTU, o outro partido de extrema-esquerda com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que prossegue na oposição a Lula. Ao longo do governo Bolsonaro, o partido se posicionou em diversas ocasiões para expor que sua oposição contra propostas como as reformas administrativa e da previdência não poderiam ser confundidas com o "Lula livre", que era pautado pelo PT à época.
O próximo dia 29 tem protestos agendados com a pauta da educação. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, disse que a categoria "se vê obrigada a ir à rua" diante do que considera um "desmonte" promovido pelo governo Bolsonaro. À Gazeta do Povo, Montalvão declarou considerar precoce o debate em torno de candidaturas para 2022, mas também espera unidade dos segmentos oposicionistas: "acho importante que a esquerda esteja unida para combater o governo Bolsonaro".