Após a Venezuela acusar o Brasil de “ingerência e grosseria” e convocar seu embaixador em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou minimizar a crise entre os países. Em entrevista para a RedeTV, o brasileiro disse que “[Nicolas] Maduro é um problema da Venezuela, não um problema do Brasil”.
Ao ser questionado se não estava na hora de ignorar o ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, Lula riu e disse que aprendeu que “precisa ter muito cuidado” quando “vai tratar de outros países”.
Uma crise entre o Brasil e a Venezuela começou a se desenhar após a fraude eleitoral que deu vitória a Maduro, em julho, apesar da falta de provas, quando o Brasil não reconheceu os resultados.
A relação conturbada se intensificou depois que o Brasil vetou a entrada da Venezuela nos Brics - bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes) - algo que o ditador de Caracas almejava há muito tempo. Para que uma nação seja aceita como integrante pleno ou participante do bloco, é necessário que haja consenso entre os membros, o que não aconteceu.
Com as falas da entrevista para a RedeTV, o presidente brasileiro quebrou um jejum sobre o tema. Até então, as provocações do regime venezuelano tinham sido tratadas por meio de notas do Ministério das Relações Exteriores. Após uma publicação da Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela, que apresentava um tom ameaçador, por exemplo, o Itamaraty se disse "surpreso" e salientou que essa postura não corresponde à forma como o governo brasileiro trata a Venezuela.
Sem mencionar fraude, Lula disse não ter direito de questionar processo eleitoral na Venezuela
Lula mencionou, na entrevista para a RedeTV, que o Brasil acompanhou o processo eleitoral por meio de seu “enviado”, o assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil, Celso Amorim, a quem chamou de “meu ministro”.
Ao falar sobre o processo que proclamou a vitória de Maduro, Lula sugeriu que não questiona as eleições da Venezuela, assim como não quer que o Brasil seja questionado. “Ele deveria ter mandado uma nota para o Conselho Nacional Eleitoral, que foi criado por ele próprio, que tinha dois membros da oposição e três do governo. Ele não mostrou. Foi direto pra Suprema Corte”, disse o presidente Lula.
À época, em meio aos questionamentos de opositores, além de diversos países e organismos internacionais, sobre os resultados, o governo brasileiro, em conjunto com a Colômbia, cobrou a divulgação de atas eleitorais, mas se manteve neutro sobre o resultado proclamado.
Na sequência da entrevista, Lula fez menção disse que assim como não questiona a Suprema Corte venezuelana, pois não quer que as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sejam questionadas. “Eu não tenho o direito de ficar questionando a Suprema Corte de outro país, porque eu não quero que nenhum país questione a minha Suprema Corte, mesmo quando ela erra”. E completou citando o suposto erro. “Mesmo quando ela faz como fez comigo, de não deixar eu ser candidato em 2018”, disse Lula à RedeTV.
O presidente brasileiro ainda minimizou a situação do povo da Venezuela e citou outra ditadura, a da Nicarágua, com quem disse não querer brigar. “Eu quero que a Venezuela viva bem, que eles cuidem do povo com dignidade. E eu vou cuidar do Brasil. O Maduro cuida [do país] dele. Porque eu não posso ficar me preocupando... ora brigar com a Nicaragua, com a Venezuela ou não sei com quem. Eu tenho que é que tentar brigar e por fazer esse país dar certo”, disse Lula.
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