No momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta pressão do Centrão por mais cargos no governo, sua própria base aliada também está insatisfeita e expressa frustrações. Áudios divulgados nesta sexta (29), obtidos pelo jornal O Estado de São Paulo, mostram que deputados ligados a grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criticam o repasse orçamentário para a reforma agrária e a falta de diálogo com os principais ministros do governo, todos do mesmo partido.
As principais críticas se concentram em Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). Deputados afirmam que não são atendidos por Rui Costa e pleiteiam buscar Lula diretamente, passando por cima do ministro.
As críticas aos ministros e a condução das políticas do governo teriam sido feitas na última quarta (27), na Câmara dos Deputados, logo após o presidente da CPI do MST, deputado Luciano Zucco (Republicanos-RS), encerrar os trabalhos sem aprovar o relatório final de Ricardo Salles (PL-SP).
Sobre Padilha, há reclamações de que ele ganhou muito poder no governo. O ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado por Paulo Teixeira, também é alvo de críticas por falta de humildade.
O deputado Dionilso Marcon (PT-RS) destacou a influência de Padilha e o poder que ele adquiriu no governo, afirmando que durante uma reunião com o ministro, “começamos a reunião em três na sala dele e terminamos em 12”. Segundo Marcon, o ministério do Desenvolvimento Agrário precisa ser mais acessível e representativo.
“O ministro é do PT e tem deputado que não vai lá tem cinco meses... Que tem alguma coisa errada, tem. Quem deveria nos representar [no Planalto] é o ministro. Mas se falamos, parece que ele se incomoda. Já que o chefe da Casa Civil não recebe a gente, temos que ir com Lula”, disse Marcon em um dos áudios.
Enquanto isso, a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que representa o agronegócio no Congresso, se opõe ao governo em questões como o marco temporal e obstrui pautas. A base petista também reclama da escassez de recursos para a reforma agrária, com preocupações de que o orçamento seja ainda mais reduzido.
“Apresentamos [um valor e negaram]. Baixamos para R$ 200 [milhões] e estão falando em R$ 40 [milhões]. Gente, isso é crise”, afirmou Airton Faleiro (PT-PA). O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Cesar Aldrighi, afirmou que precisará de mais recursos no orçamento para efetivar a reforma agrária. Deputados expressaram frustração e sugeriram negociar com o agronegócio, dada a falta de diálogo com o governo.
Outro áudio aponta que o repasse orçamentário é praticamente um “discurso contra o governo”. “Não tem como defender a proposta que o governo mandou para a reforma agrária”, disse.
O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma iniciativa da Casa Civil, também foi alvo de críticas por não atender às necessidades da população mais carente. Os deputados questionam o foco do PAC na classe média.
“Me diz o que esse PAC tem para o pobre. Esse PAC vem para atender a demanda da maioria do dinheiro e a classe média”, afirmou Marcon, que foi completado por Faleiro: “só para o ministério da Cidade é R$ 40 bilhões. E o ministério rural, que é o nosso? Olha a disparidade”, disse. Não foi alocada provisão orçamentária para o Ministério do Desenvolvimento Agrário no novo PAC.
No geral, a base petista se diz “frustrada” e enfrenta dificuldades para representar seus eleitores e avançar em questões como a reforma agrária diante das atuais circunstâncias. Marcon disse que tem recebido ligações de vereadores o “desaforando”.
Os ministros Rui Costa, Alexandre Padilha e Paulo Teixeira foram procurados pelo jornal, mas não se pronunciaram sobre as críticas.
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